| 20/06/2003 20h21min
Uma importante autoridade norte-americana disse nesta sexta, dia 20, que seu país se vê no direito de usar a força militar para evitar que o Irã desenvolva armas nucleares. Teerã, por sua vez, acusou os Estados Unidos de travarem uma guerra de propaganda sem fundamentos.
Em mais um sinal de tensão, um importante religioso iraniano alertou os Estados Unidos para não tratarem o Irã como o Afeganistão ou o Iraque, e pediu aos tribunais que imponham a pena de morte aos "arruaceiros" que há vários dias fazem manifestações por reformas no país.
Por causa do intenso policiamento, os protestos parecem estar perdendo força em Teerã. Mas em Londres dois exilados iranianos atearam fogo aos próprios corpos para protestar contra a prisão de líderes dissidentes na França.
Uma iraniana de 44 anos, que pelo mesmo motivo havia se imolado em Paris na quarta à noite, morreu. Essas pessoas são ligadas ao grupo Mujahideen do Povo, que, segundo os franceses, é uma seita de fanáticos.
A ameaça militar contra o Irã, mesmo sutil, partiu de John Bolton, um dos assessores que mais influenciam o presidente George W. Bush.
– O presidente vem dizendo que todas as opções estão sobre a mesa, mas (a militar) não é a nossa preferida. Ela está muito longe de nossas cabeças – afirmou Bolton à rede BBC.
Mas, pressionado pelo entrevistador, o subsecretário de Estado para o controle de armas e segurança internacional disse que o uso da força "precisa ser uma opção".
Os EUA acusam o Irã de ocultar um programa de armas nucleares e, valendo-se de um relatório divulgado na quinta, dia 19, pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pediram a Teerã que cumpra os tratados internacionais de não-proliferação e admita a presença de inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) em seu território.
O Irã faz parte da lista de inimigos que Bush chama de "eixo do mal", junto com a Coréia do Norte e o extinto regime de Saddam Hussein no Iraque. O Irã afirma que seu programa nuclear é destinado unicamente à geração de energia.
Nesta sexta, o Irã elogiou o relatório da AIEA, que afirma que a república islâmica ocultou materiais e atividades nucleares, mas já está corrigindo os erros. Teerã comemorou o fato de os EUA não terem conseguido fazer a AIEA aprovar uma condenação ao país em termos rígidos.
– Os Estados Unidos fizeram grande propaganda e a apresentação de provas e documentos suficientes (por parte do Irã) provocou seu fracasso – disse o chefe da Agência Nuclear Iraniana, Gholamreza Aghazadeh, acrescentando que seu país está colaborando com os inspetores da ONU.
Em Moscou, o presidente Vladimir Putin, cujo país ajuda o Irã a construir um reator nuclear, disse que recebeu há dois dias, pessoalmente, uma garantia de seu colega Mohammad Khatami de que o Irã não quer bombas atômicas.
Mas em Porto Carras, Grécia, os líderes da União Européia reunidos numa cúpula aumentaram a pressão sobre os iranianos e alertaram para possíveis sanções comerciais por causa do programa nuclear. No comunicado final da cúpula, a ser divulgado neste sábado, deve constar um pedido para que o Irã aceite inspeções incondicionais da ONU.
No cenário interno, os protestos pró-democracia parecem ter chegado ao fim após nove noites, apesar do apoio norte-americano às manifestações.
– Os comentários dos líderes norte-americanos mostram que eles têm pensamentos e sonhos infundados a respeito do Irã. Não pensem que o Irã é o Afeganistão ou o Iraque, onde se pode entrar à força – disse o aiatolá Mohammad Yazi, que participa do Conselho dos Guardiães, instância máxima de poder.
O sermão de Yazdi foi transmitido ao vivo pela rádio e recebido pelos fiéis com gritos de "Morte à América".
Yazdi disse que os 300 manifestantes presos nos últimos dias são "arruaceiros", a quem a Justiça deveria tratar "como pessoas em guerra contra Deus". Essa é a mesma expressão que no passado foi usada para condenar dissidentes à morte no Irã. Com informações da agência Reuters.
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