| 01/12/2009 03h25min
Só o futuro dirá se a crise hondurenha ficou no passado. Mas o presidente eleito de Honduras, Porfirio Lobo, é um homem que acredita no futuro. Está certo de que a crise pela qual seu país passa há mais de cinco meses já é página virada dos livros de história – e o presidente deposto, Manuel Zelaya, também.
Em breve entrevista por telefone a Zero Hora, por volta das 20h de ontem (16h em Tegucigalpa), depois de uma entre diversas coletivas para a imprensa local e antes de um entre tantos encontros com sua equipe, Lobo ponderou: para a crise ser página virada, ele terá de trabalhar. E muito.
– O importante, para nós, é que façamos o país viver em paz novamente, para superarmos essa crise. A crise ficou para trás com a nossa vitória, estou certo disso. Mas agora precisamos trabalhar bastante. A eleição também já passou.
Talvez o começo desse longo trabalho seja uma espinhosa negociação, determinante para o reconhecimento internacional do seu governo.
Lobo contou que, ainda hoje, na
véspera da reunião que o Congresso fará amanhã para definir o destino de Zelaya – derrubado por um golpe de Estado em 28 de junho e abrigado na embaixada brasileira desde 21 de setembro –, terá um encontro com líderes do seu partido para definir a estratégia a ser tomada:
– Teremos um encontro com o partido antes de o Congresso se reunir. Não posso dizer nada antes disso.
O que pode ocorrer: o Partido Nacional, de Lobo, daria os votos necessários para Zelaya voltar ao poder. O presidente deposto governaria à frente de uma coalizão nacional, até 27 de janeiro, o dia da posse do próprio Lobo. Como compensação, Zelaya reconheceria o governo eleito.
Pela lógica, esse quadro é bastante plausível. Não é exatamente a lógica, porém, que tem predominado em Honduras. Ontem mesmo, antes da entrevista para ZH, Zelaya já dissera às agências de notícias que não aceitará o governo eleito. E Lobo, que Zelaya “já é história”.
– Não aceitarei a
restituição para legitimar o golpe, nem para
acatar um processo nulo – disse o presidente deposto às agências, reiterando suas denúncias de que a abstenção superou os 60%, contra os 61,3% de participação estimados pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Lobo faz vista grossa para esse discurso. Mesmo com toda a virulência dos adversários, dizia ontem que fará “um governo de união e diálogo”. Com 61% das urnas da eleição de domingo apuradas, ele tinha 55,9% dos votos. Seu principal adversário, Elvin Santos (Partido Liberal), já havia reconhecido a derrota.
Futuro presidente espera o reconhecimento internacional
Em discurso logo após os números da apuração indicarem que sua vitória era definitiva, ele se emocionou:
– Sem temor de ameaças, sem deixar-se levar por presságios, Honduras decidiu seu próprio futuro, para terminar a crise que tanto nos afetou e prejudicou os mais necessitados.
E quando fala em decidir seu futuro, estão implícitas as relações com
outros países. Enquanto os Estados Unidos – o principal parceiro
comercial de Honduras – reconheceram as eleições, o Brasil dava como “imutável” a rejeição ao pleito, “para não legitimar o golpe”.
Ao abordar o assunto, Lobo ficou no limite da descortesia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mediu as palavras. E desfraldou a bandeira branca:
– Temos as portas abertas. É importante uma boa relação com o Brasil, um país tradicionalmente amigo. Nosso desafio é muito grande. Mas o povo votou em nós, e espero que os outros países reconheçam nosso direito à autodeterminação. Acredito que tudo estará normalizado, que teremos relações de amizade como sempre tivemos.
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