| 09/11/2009 11h19min
Sem perspectiva de pacificação das relações comerciais entre Brasil e Argentina, as alfândegas entre os dois países estão tumultuadas há pelo menos 15 dias. Fruto da retaliação brasileira cobrada por empresários, a exigência de mais burocracia no cruzamento da fronteira exaspera caminhoneiros, estressa industriais e inquieta comerciantes à espera de mercadorias sem data prevista para chegar.
– As mais difíceis foram as duas últimas semanas. A próxima não se sabe como vai ser, depende do ritmo de liberação de licenças – cogita Flavio Evaristo, gerente do Porto Seco de Uruguaiana (RS), um dos mais afetados pelo novo conflito comercial.
Como a medida brasileira surpreendeu, constata Evaristo, os piores dias foram os primeiros, quando a demora na liberação das cargas de importação afetou também as de exportação. Além dos caminhões que vinham da Argentina para o Brasil, chegaram a parar também os que trafegavam em direção oposta. Agora, relata o gerente, ao menos os caminhoneiros à espera de liberação já podem esperar dentro da área alfandegada do Porto Seco.
A exemplo do que ocorre com os exportadores brasileiros que aguardam liberação com a carga nas próprias fábricas, os argentinos estão passando a esperar pela licença antes de iniciar a viagem. Mas nem a esperada reação do governo brasileiro às restrições argentinas consola. Especialistas em comércio exterior consideram improvável que a Argentina recue por causa da retaliação brasileira.
– As medidas são inócuas. O governo argentino continuará sendo protecionista, com a conivência do brasileiro – avalia a coordenadora de comércio exterior da Associação Nacional de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Maria Teresa Bustamante.
Com a experiência de quem negocia há duas décadas com os argentinos, Maria Teresa afirma que simplesmente retaliar contra um punhado de produtos não surte efeito. Mais de 50 segmentos da indústria brasileira têm problemas para vender aos argentinos, com atraso de até 180 dias na entrada, relata a representante da Eletros.
Para Rubens Barbosa, ex-embaixador e coordenador da seção brasileira do grupo do Mercosul, a reação é correta em princípio, mas não na forma:
– A reação foi inopinada e causou prejuízo a empresários brasileiros.
Mas já passou da hora de endurecer o jogo, ressalta. Barbosa pondera que o Brasil tem “paciência ilimitada” com a Argentina, permitindo que produtos brasileiros sejam substituídos por outros da China, México, Coreia e Chile. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo nesse domingo, dia 8, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, afirmou que a medida atinge menos de 10% das importações da Argentina e que o bloqueio vai durar o necessário.
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