| 03/11/2009 21h41min
Atoleiros, estradas em más condições de tráfego, veículos inadequados, crianças que passam até oito horas por dia dentro de um ônibus para conseguir chegar à escola. Essa foi realidade encontrada por 30 pesquisadores do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes da Universidade de Brasília (Ceftru/UnB).
Eles percorreram 50 mil km para testar os ônibus escolares que são fornecidos a municípios da zona rural pelo programa Caminhos da Escola, do governo federal. O relatório final, entregue nesta terça, dia 3, ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), sugere algumas mudanças nos veículos para garantir mais segurança e conforto aos alunos.
A equipe foi acompanhada por representantes da indústria responsável pela produção dos veículos. Por esse motivo, os próximos modelos já seguirão as recomendações dos pesquisadores. Entre as principais delas, estão a melhoria do sistema de ventilação, vidros escurecidos para melhorar o conforto interno, vedação de buracos para impedir a entrada de poeira e nova localização para as portas de acesso.
— Também aumentamos a altura do veículo em relação ao solo para facilitar a transposição de obstáculos, colocamos o pneu de uso misto, também próprio para a terra. Ele também tem um bloqueio que não trafega com a porta aberta e nem acima da velocidade de 70 km/h — explicou o gerente da pesquisa, Willie Carvalho.
Outro problema identificado foi a falta de manutenção preventiva dos veículos.
— A assistência técnica das montadores ainda é restrita em determinadas regiões do país. É preciso levar ela a outros locais para garantir que o veículos em dois ou três anos não estejam mais em condição de trafegar — avaliou.
O estudo também identificou a necessidade de capacitar os motoristas desse tipo de transporte. A ideia é fazer cartilhas específicas para quem dirige nas áreas rurais, inclusive com noções de como lidar com os estudantes.
A pesquisa Ônibus Rural Escolar no Brasil analisou 53 rotas em 16 municípios. Em quase 92% delas, há “eventual” ou “constante” ocorrência de defeitos na estrada. Carvalho apontou que a melhoria das vias é essencial para reduzir o tempo das viagens.
— As crianças passam muito tempo dentro dos ônibus, às vezes quatro horas para ir a escola e mais quatro para voltar. Isso é muito influenciado pela condição da via. O processo de capacitação de quem faz a manutenção dessa via também precisa ser melhorado — acrescentou Carvalho.
O coordenador-geral do Caminhos da Escola, José Maria Souza, disse que as alterações propostas serão consideradas nas próximas ações do programa.
— Na medida em que o aluno fica muito tempo em um veículo que não é adequado, essas mudanças podem melhorar muito o processo de ensino e aprendizagem — concluiu Souza.
O projeto também deve fazer o mesmo tipo de estudo com o transporte feito por barcos.
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