| 02/11/2009 17h45min
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, foi entrevistado na última sexta, dia 30, no programa 3 a 1, exibido pela TV Brasil. Na ocasião, o dirigente falou sobre a ocupação da fazenda da Cutrale, em São Paulo, por integrantes do grupo no final de setembro.
Ele classificou a ação de “desesperada” e motivada pela situação em que se encontravam os militantes do movimento acampados na região há seis anos.
— Foi uma atitude desesperada das famílias que ocupavam a fazenda. Com a notícia do próprio Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] de que a área é da União, desde 1910, naquele clima de indignação, alguns dos companheiros pegaram o trator e destruíram os laranjais — disse o coordenador do MST.
— Evidentemente que foi um equívoco, porque a direita e os órgãos de comunicação deste país, que servem aos interesses da burguesia brasileira, se utilizaram daquelas imagens, que foram gravadas pelo helicóptero e pelo serviço de inteligência da PM de São Paulo, e nos execraram na opinião pública — completou.
Stédile defendeu o movimento da acusação de que militantes haviam invadido casas de trabalhadores da fazenda e causado danos.
— Nenhum militante entrou nas casas dos funcionários. Aquilo lá foi uma armação da polícia e da Cutrale, sobretudo da Cutrale. Quem fez o serviço [de entrar nas casas] não foi o MST. Ou seja, tem uma hora aí de espaço. Nós saímos, deixamos tudo bonitinho, não mexemos nas casas. Aí ficou a polícia sozinha com a Cutrale dentro da fazenda por uma hora. Aí depois dessa hora veio a imprensa — acusou.
O coordenador do MST ainda criticou a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CMPI) para investigar repasses de verbas do governo ao movimento.
— A CPMI é uma armação. Eles fizeram uma matéria na Veja com dados requentados de três anos. Com a matéria da Veja, convocaram a outra CPMI. Aí nós derrubamos, porque era sintomático. Aí com a ocupação da Cutrale, você acha que por uma ocupação, por algumas laranjas vale a pena abrir uma CPMI? Então é melhor abrir uma CPMI aqui na Assembléia Legislativa de São Paulo para saber por que a Cutrale tem aquela área grilada — afirmou.
Stédile explicou também que Organizações Não Governamentais (ONGs) independentes do MST é que recebem dinheiro para a realização de serviços no campo.
— Desde o Fernando Henrique, o governo contrata Ongs para fazer o serviço que deveria ser do Estado. E que recebem dinheiro público. Esse dinheiro vai lá para resolver um problema concreto, ou de escola, ou de contratar agrônomo, ou de fazer casa, ou fazer medição, ou luz elétrica. Quem organiza essas Ongs, às vezes, são grupos de agrônomos, às vezes tem até jornalista, é iniciativa da sociedade — disse.
Segundo Stédile, todo o dinheiro é fiscalizado pelo Incra, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
— A nossa posição é que isso é esdrúxulo. Somos contra isso, nós dissemos já ao Lula: Pelo amor de Deus pare com essa história de Ongs, faça com que o Estado consiga fazer isso — completou.
O coordenador do MST reafirmou a posição do movimento em defesa da agricultura familiar. De acordo com ele, apenas com uma posição clara do governo e da sociedade a favor desse modo de produção é que a reforma agrária vai andar.
— A reforma agrária, como um programa realmente universalizado, que chegue a milhões de trabalhadores, é só quando o governo e a sociedade brasileira priorizarem a agricultura familiar. E hoje há esse embate entre esses dois modelos [agronegócio e agricultura familiar], e não há uma prioridade clara de dizer a agricultura familiar é política de governo — defendeu.
Stédile ainda fez uma avaliação do processo de reforma agrária no governo Lula.
— Em alguns aspectos, ela ficou para trás, como o ritmo desapropriações no Nordeste, Sul e Sudeste. O governo continuou priorizando a Amazônia. Em outros aspectos, ela avançou muito, com o Luz para Todos, um outro programa de moradia, que é insuficiente em números, mas os programa é bom. É um balanço equilibrado, é bem melhor que na época do Fernando Henrique, mas ainda insuficiente para enorme demanda dos pobres do campo têm — afirmou.
A entrevista para a TV Brasil, que vai ao ar no próximo dia 11, foi feita pelo âncora do programa, Luiz Carlos Azedo, pela jornalista do jornal Folha de S.Paulo Kátia Seabra, e pelo jornalista da revista Brasieiros Ricardo Kotscho.
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