| 04/08/2009 19h31min
Na lista das principais preocupações do agricultor brasileiro, o crédito está em primeiro lugar. Quando se soma endividamento com a crise financeira, o receio de faltar dinheiro para a safra aumenta.
A notícia de que o crédito oficial será maior não serviu de consolo para Ricardo Tomczyk, produtor de soja do Centro-oeste.
— Crédito oficial é algo muito raro já há alguns anos aqui para o produtor do MT, algo que a cada ano é mais distante da realidade — diz Tomczyc.
O dinheiro do governo não chega ao produtor por causa das constantes renegociações. Frente a isso, o crédito privado pode ser uma solução.
— As empresas se programaram, já contando com esta dificuldade de acesso, existe uma disponibilidade de crédito aí nas tradings, porém com uma maior rigorosidade na aprovação dos limites, na maior exigência de garantias e o que é pior, um maior custo financeiro — acrescenta o produtor de soja.
Os juros cobrados pelas tradings para emprestar ao agricultor são quase o dobro que os do governo. Dinheiro mais caro, mas na mesma quantidade. Pelo menos é o que as empresas prevêem para este ano.
Apesar de não informar os valores, a Bunge Alimentos garantiu que vai manter a quantidade de financiamentos nesta safra por meio de compras antecipadas. Segundo a empresa, na última safra foram disponibilizados US$ 700 milhões a mais em recursos do que na média dos três anos anteriores. A Louis Dreyfus Commodities também não detalhou a quantia, mas informou que não vai reduzir os financiamentos. A Cargill deve disponibilizar entre US$ 500 e US$ 550 milhões para operações de financiamento aos produtores na safra 2009/10, cem milhões a mais que na última safra e mais que o dobro do ciclo 2007/08. A Syngenta estima liberar recursos 15% maiores para o custeio agrícola este ano.
Um estudo da Agroconsult, que tomou como base o Mato Grosso, principal produtor de soja do Brasil, aponta que entre 2007 e 2008, as tradings financiaram 52% da safra agrícola. No último ano, a participação foi reduzida para 25%. Com problemas financeiros trazidos pela crise global, algumas empresas que tinham participação importante deixaram de atuar. Porém, para os analistas, a quantidade de crédito disponível não é um fator limitante.
— Todo mundo tem seu limite de crédito como os bancos também têm. E ele tinha sido atingido no ano passado e as tradings não podiam realmente desembolsar mais um tostão. Foi um ponto de acumulação muito grande e agora está pouco a pouco se saneando e as tradings estão voltando para os seus níveis plenos e os outros bancos estão financiando um pouco mais, inclusive, os menores — explica o presidente da Abiove, Carlo Lovatelli.
— É importante a gente lembrar que o custo de produção caiu. Caiu o custo de fertilizantes, caiu o custo de defensivos, está caindo um pouquinho o custo de óleo diesel, não subiu tanto a mão de obra, então o custo da lavoura esse ano é um pouco menor do que o ano passado. Se as tradings vão disponibilizar a mesma quantidade de crédito, ela cobre uma área um pouquinho maior — completa o diretor da Agroconsult André Pessoa.
A questão é que custear a safra não depende só do volume de crédito.
— Não quer dizer que o volume de crédito no país esteja caindo. Não está mais caindo como no final do ano passado, então você já tem um processo de recuperação, mas ele está procurando aqueles lugares mais seguros. E a agricultura não está podendo se apresentar como um lugar tão seguro porque existe um acumulado de dívidas de 2005 para cá que estão sem solução — diz o economista Guilherme Dias.
Pagar as dívidas é primordial para conseguir novos empréstimos, diz o diretor de agronegócios da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Ademiro Vian. Ainda assim, a entidade estima que as instituições vão aplicar a mesma quantidade ou um pouco menos de recursos na próxima safra.
— O cliente às vezes imagina que o banco pode aplicar no cliente que ele desejar. Não é verdade, nós temos que aplicar no tamanho dos clientes que o governo define, e no tamanho das operações que o governo define e nos produtos que o governo define e na taxa de juros que o governo define, com as garantias que o governo define. Então, o crédito rural hoje é 100% engessado e este crédito rural que nós temos aí atende a um terço da necessidade do setor — defende Vian.
Para o economista Guilherme Dias, essa vai ser a safra da chamada classe média agrícola.
— Não mais do que 20% dos tomadores de crédito normal que estão de fato numa situação de endividamento complicada, mas este outro pedaço importante, essa classe média agrícola que evitou se endividar muito nesses últimos anos, ela pode ainda expandir, quer dizer, ainda existe uma forma de compensar um pouco os outros — conclui Dias.
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