| 26/07/2009 16h40min
As questões relacionadas à produção sustentável de energias alternativas a partir da biomassa vegetal ganharam um forte aliado com o lançamento do projeto Global Sustainable Bioenergy: Feasibility and Implementation Paths.
A iniciativa irá reunir uma equipe internacional de cientistas para o estudo das possibilidades de uso dos biocombustíveis em nível mundial e em larga escala, partindo, em parte, da experiência brasileira de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar.
Pelo lado brasileiro participam do comitê organizador das reuniões do projeto Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, e José Goldemberg, pesquisador do Centro Nacional de Referência em Biomassa, vinculado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).
– Esse debate mundial será muito importante para o Brasil porque o caso brasileiro de substituição bem-sucedida de petróleo por biocombustíveis ainda tem uma dúvida legítima sobre em que escala a nossa experiência poderia ser replicada em outros países. A adoção em larga escala de biocombustíveis no mundo dependerá de muitos países se convencerem de que eles também são capazes de produzir uma quantia relevante do combustível que desejarem usar. E isso, por outro lado, não significa que não haverá possibilidades para o Brasil exportar biocombustível e as tecnologias para sua produção – disse Brito Cruz.
O projeto será desenvolvido em três etapas. A primeira será composta de reuniões realizadas em cinco regiões do mundo, com início em novembro, na Malásia, seguidas de encontros, no primeiro semestre de 2010, na Holanda, África do Sul, Brasil e nos Estados Unidos.
Na segunda etapa os pesquisadores irão responder à seguinte questão: será fisicamente possível atender a demanda mundial por mobilidade e geração de eletricidade a partir de fontes vegetais enquanto a sociedade global também tem necessidades como a alimentação humana, a preservação da natureza e a manutenção da qualidade ambiental?
A terceira etapa do projeto irá analisar a implementação de questões técnicas, sociais, econômicas, políticas e éticas com o objetivo de desenvolver estratégias para uma transição para uma sociedade sustentável responsável.
A iniciativa é liderada por uma comissão de três pessoas: Nathanael Greene, do Natural Resources Defense Council, Tom Richard, da Universidade Estadual da Pensilvânia, e Lee Lynd, da Thayer School of Engineering, Dartmouth College e Mascoma Corporation. As reuniões serão supervisionadas ainda por uma comissão organizadora com ampla representação de acadêmicos, advogados ambientais e instituições de pesquisa de todo o mundo.
Liderança mundial
O Brasil é o maior produtor de etanol de cana-de-açúcar do mundo e ocupa posição de liderança na tecnologia de sua produção. Essa liderança e competitividade devem-se ao longo trabalho de muitos anos feito por pesquisadores em instituições de ensino e pesquisa e em empresas privadas, que resultou em valiosa bagagem de conhecimento e de tecnologia sobre a cana, seus derivados e sobre o processo de fabricação do etanol.
– Não se pode plantar cana em todo lugar do mundo, então, além de contribuir para a formação de um consenso sobre o assunto, partindo da experiência brasileira o estudo poderá gerar conhecimentos novos para a produção de biocombustíveis com base em tecnologias que usem outros insumos que não necessariamente venham da agricultura, como a celulose, que pode ser convertida em etanol e que pode vir do lixo e de resíduos florestais, por exemplo – explicou Brito Cruz.
Segundo ele, o projeto também deverá levar em conta as restrições de cada país, entre elas a competição entre a produção de biocombustíveis e de alimentos e os impactos das mudanças de uso da terra causados pelas emissões de gases poluentes na atmosfera.
– Por mais que no Brasil as plantações de cana não afetem a produção de alimentos, sabemos que nos Estados Unidos o etanol de milho afeta. Essa é uma discussão que não pode ser simplificada. E se no Brasil a cana for plantada em regiões que tinham floresta, por exemplo, isso é ruim do ponto de vista das emissões. Mas se a cultura for plantada em áreas de pasto degradado isso é bom porque fixa mais carbono na terra – disse.
Iniciativa global
Em resposta à rápida elevação dos preços do petróleo em meados dos anos 1970, o Brasil lançou uma iniciativa global que visava à diminuição da dependência da energia importada. Quase quatro décadas depois o país, cuja economia é hoje a 9ª maior do mundo, é praticamente autossuficiente no setor energético.
Parte essencial da estratégia brasileira na área é a utilização de etanol a partir da cana-de-açúcar no setor de transportes em substituição às importações de petróleo. Calcula-se que, desde 1975, a produção de etanol no Brasil tenha aumentado cerca de 50 vezes.
O etanol proveniente da cana supre hoje metade da frota de carros leves no Brasil e 95%
dos automóveis vendidos anualmente podem rodar
tanto em etanol como gasolina, sendo que o país adiciona ainda 25% de etanol à gasolina. O etanol de cana-de-açúcar ajuda ainda o país a ter quase metade da sua energia proveniente de fontes renováveis.
AGÊNCIA FAPESP
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