| 10/07/2009 08h51min
Por 30 anos, o agricultor Erni Lago, 59 anos, de Passo Fundo, no norte gaúcho, apostou na cultura do trigo. Nas última safra, reservou 40 hectares para o cultivo do cereal, mas na balança de gastos e lucros acabou amargando prejuízo de R$ 5 mil.
Este ano, insatisfeito com a instabilidade dos preços do produto, resolveu abandonar o cultivo.
Na área antes ocupada pelo trigo, Lago optou por forrageiras. Plantará apenas 10 hectares do cereal, que será usado como ração. Assim como este agricultor, muitos outros abandonaram a produção do grão por causa das incertezas do mercado.
Por causa disso, a estimativa da Emater é de que a safra gaúcha encolherá até 20% este ano em relação ao ano passado. A saca de 60 quilos, cotada a R$ 33 e, 2008, agora está sendo vendida a R$ 25.
– Com estes preços que temos aí, o agricultor tem mais é que abandonar a cultura – disse Lago.
De acordo com o agrônomo Cláudio Dóro, da Emater de
Passo Fundo, a recuperação dos estoques internacionais do grão
nos principais países produtores (Canadá, Estados Unidos, Austrália e China) derrubou os preços internos. Além disso, a valorização da moeda brasileira facilita as importações de trigo.
Mesmo com a queda de produção no nosso principal mercado fornecedor, a Argentina, que amargou quebra na safra, trigo de outros países continua abarrotando os moinhos nacionais. Somente Uruguai e Paraguai enviarão 1 milhão de toneladas para o Brasil em 2009.
– Importamos cerca de 5 milhões de toneladas por ano para atender a nossa demanda (que é de 10 milhões de toneladas). O excesso de trigo no mercado mundial foi prejudicial ao trigo gaúcho – explica Dóro.
Fora a concorrência e os problemas do câmbio, cerca de 80% do trigo gaúcho é do tipo brando, que não é o indicado para panificação (que consome 60% de toda produção do cereal), o que explica a demanda menor do grão produzido no Estado. A importância do produto importado para o Estado é tanta que cerca 40% de todo
trigo usado nos moinhos gaúchos vem de
outros países.
Para garantir a sobrevivência da agricultura nacional, o governo federal ergueu barreiras tarifárias que encarecem a produção trazida de fora. Em tempos de real forte, a ameaça de uma invasão em massa de trigo importado assusta os produtores rurais que apostam na cultura. Por isso, o Ministério da Agricultura resolveu manter a Tarifa Externa Comum (TEC) para países de fora do Mercosul em 10% até que o cereal comece a faltar no mercado interno.
– A gente vive do trigo gaúcho, mas infelizmente dependemos do trigo de fora. Este ano, estamos pagando mais caro por causa da valorização do real. Os argentinos, nossos grandes fornecedores, estão sem trigo para vender. Temos de procurar produto em outros mercados e estamos com mais gastos – revela Gerson Pretto, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Rio Grande do Sul (Sinditrigo).
Apesar disso, a indústria celebra a prorrogação da isenção do pagamento do PIS/Cofins, que
taxaria a produção em 9,25% e que dá
fôlego para os moinhos continuarem produzindo. A isenção vale até o ano que vem.
De acordo com a Emater, até o início de julho, 80% da área de trigo do Estado já havia sido plantada.
leandro.belles@zerohora.com.br
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