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 | 02/06/2009 05h10min

Por que Fernando Carvalho demora a atender o telefone?

Diogo Olivier, colunista online  |  diogo.olivier@zerohora.com.br












foto: Jefferson Botega, 11/04/2009

Essa eu descobri ontem. Recém havia chegado ao Beira-Rio, onde o Inter iria treinar no gramado suplementar. Parto hoje para Curitiba com a missão de cobrir a decisão de uma das vagas à final da Copa do Brasil no Estádio Couto Pereira. Antes de jogos assim é preciso estar atento a todos os detalhes. O frio rascante assoviava alto, como sempre acontece em dias de vento e temperatura baixa nas imediações da Avenida Padre Cacique.

Nisso, vislumbro o vice de futebol Fernando Carvalho (acima) saindo do vestiário, de casaco de lã e cachecol enrolado no pescoço. Fui até ele.

Todo jornalista que vai ao Beira-Rio, vê Fernando Carvalho dando sopa, sem ninguém por perto, e não inventa uma desculpa qualquer para puxar papo precisa repensar os seus métodos de reportagem. Nos anos 90, era assim no Olímpico com Fábio Koff. Tanto um quanto outro são oráculos da Dupla Gre-Nal. Eles conhecem todos os caminhos de seus clubes e, portanto, transbordam notícias por todos os poros.

Como o jogo de amanhã contra o Coritiba promete ser nervoso, tenso, aquele clima de guerra quase corriqueiro em decisões de mata-mata, fui medir a temperatura com Carvalho. Nisso, os dois encarangados de frio, conversa vai, conversa vem, ouve-se uma barulho de torcida e alguém falando.

Passam-se alguns segundos e reconheço o dono da voz. Galvão Bueno. Mas como? Estávamos na porta do vestiário. Ali não há nenhum aparelho de rádio, muito menos televisão. Além do mais, a Globo não transmite jogos às 15h de segunda-feira por um motivo simples: ninguém joga futebol às 15h de segunda-feira. O Galvão vai aumentando o ritmo da narração, com aquele "ohhhhhh" crescente de torcida ao fundo. À minha frente, Carvalho está impassível, sem mover um músculo sequer do rosto. "Olha o Iarley, vamos nessa..."

Só aí me dei conta. Era a narração do gol de Gabiru contra o Barcelona, em Yokohama.

Carvalho sorri, põe a mão no bolso esquerdo do casaco e tira o telefone. Vai atender, certo? Errado. Ele deixa seguir o toque do celular, correndo o risco de quem está do outro lado da linha desistir.

— Ah, eu só atendo depois que o Gabiru estufa a rede do Victor Valdés — suspira Carvalho.

Está solucionado um grande mistério do jornalismo gaúcho. É por isso que o presidente campeão do mundo demora tanto a atender o telefone. Carvalho só diz "alô" depois do gol de Gabiru. Como a jogada começa na linha de fundo com o chutão de Índio, demora um tempinho. Quantas vezes desisti de confirmar aquela informação preciosa, certo de que ia me perder na caixa postal, quando na verdade a bola estava ainda raspando na cabeça de Luiz Adriano. Bem, agora já sei. Paciência na hora de ligar para Carvalho: o gol de Gabiru vai sair logo em seguida.

Leia os textos anteriores da coluna No Ataque.

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