| 25/05/2009 19h12min
O excesso de chuva deixa agricultores cearenses endividados. Os custos da safra seriam pagos com a venda da produção. Porém, em algumas localidades, as perdas causadas pelas enchentes chegam a 100%.
Os estragos estão por todos os lados. Grande parte da soja foi perdida e a lavoura de feijão ficou arrasada. Em alguns lugares, o acesso ao que restou das plantações é restrito. Porém, a situação já esteve pior. O produtor de arroz João Jackson Mendes faz questão de mostrar até onde a água chegou e conta como seus quatro hectares de arroz ficaram nesta situação.
— Foi algo de momento. Começou a subir a água do rio e inundou tudo. A água encheu e tudo apodreceu — contou Mendes.
Há poucos metros dali, o também produtor Raimundo Bezerra parece não acreditar no que vê. A lavoura de oito hectares de arroz foi totalmente destruída pela chuva.
— Aqui eu perdi tudo, não tenho mais como recuperar nada. Já estava na época de colher. Não sobrou nada. Não sei o que vou fazer, se eu não pagar as dividas ninguém mais vai confiar em mim — desabafou Bezerra.
O agricultor cearense, acostumado com a seca, se instalou nas margens dos rios para aproveitar a água na irrigação da lavoura. Ele só não contava com o excesso de chuva que ocorreu este ano. Os rios não suportaram o volume de água, transbordaram e acabaram inundando as plantações. E a solução que o sertanejo encontrou para produzir alimentos se transformou em problema.
— Nós temos constatação de municípios que perderam 50 ou 60% da safra — afirmou o secretário de Desenvolvimento Agrário do Ceará, Camilo Santana.
Já Wilson Nascimento é agricultor por herança familiar. Ele produz arroz irrigado desde 1975. Não conseguiu plantar a safra de inverno porque o solo estava encharcado, mas precisou abandonar a casa, que foi invadida pela água. Assim como ele, mais de 200 famílias de pequenos produtores rurais precisaram ser resgatadas de núcleos habitacionais da zona rural de Morada Nova. Muitos ainda não voltaram.
— Escorreu essa água, agora a gente está aqui, ajeitando a casa para entrar de novo — declarou Nascimento.
O Ceará esperava colher este ano uma safra recorde de grãos estimada em 1,4 milhão de toneladas. Porém, de acordo com o último levantamento da Emater-CE, as perdas passam de 20%. O feijão e o amendoim foram as culturas mais prejudicadas, com quebra de quase 30%. A lavoura de milho, que representa 75% da produção de grãos do Estado foi a que teve o maior prejuízo econômico, registrando perdas de 20%. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário, nos municípios com perdas de mais da metade da safra, os produtores podem receber um seguro. Porém, nem mesmo os agricultores que tiveram prejuízos com a enchente do ano passado receberam o auxílio.
— O programa Garantia Safra só incluía perdas por seca. Na realidade, a situação é até inusitada para o Nordeste perder safra por excesso de água. No ano passado, tivemos que mudar a lei que gera o fundo — disse o secretário de Desenvolvimento Agrário do Estado.
Enquanto o socorro do governo não chega, João, Raimundo e Wilson pedem ajuda ao céu para recomeçar.
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