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 | 30/04/2009 09h12min

Líderes indígenas manifestam inconformismo com retirada de arrozeiros da Raposa

Processo de desocupação está previsto para ser encerrado nesta quinta

O processo de desocupação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol - previsto para ser encerrado nesta quinta, dia 30, pacificamente - não é traumático apenas para quem está de partida. Representantes da Sociedade dos Índios Unidos em Defesa de Roraima (Sodiu-RR), que sempre foram contrários à retirada dos brancos da reserva, ainda demonstram inconformismo com a decisão do Supremo Tribunal Federal e se emocionam ao acompanhar a saída de vizinhos.

– É uma injustiça. Porque se o governo desse condições para todas essas pessoas seria bom, mas não dá. Só se importam com a retirada e tem família saindo para ficar na casa de um ou de outro. Então, fica uma revolta e uma dor de perder pessoas que nunca quiseram sair de dentro do Surumu – afirmou, chorando, a tuxaua (cacique) da comunidade do Surumu, Elielva dos Santos, da etnia Macuxi, enquanto observava famílias preparando suas mudanças.

– Estamos vendo um sofrimento desnecessário aqui – completou o índio José Brazão, um dos coordenadores da Sodiu-RR.

Segundo Elielva, a Sodiu-RR nunca foi ouvida pelas autoridades com atenção durante o processo que resultou na demarcação da reserva em faixa contínua. Integrantes de famílias indígenas trabalhavam nas fazendas de arroz e outras famílias de agricultores brancos nasceram e foram criados na Vila Surumu.

Essa parcela dos índios, evangélicos, tem divergências históricas com os parentes ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), católicos e entusiastas da demarcação contínua. Agora terão de chegar a um consenso quanto à exploração da área de 1,7 milhão de hectares. Mas não será fácil. Feridas seguem abertas e o risco de conflitos entre as comunidades é admissível.

– Acho que é agora que a Raposa vai ficar em guerra. Não tem mais branco para levar a culpa. O CIR não concorda com a ideologia da Sodiu-RR e não sabe respeitar a nossa opinião. Mas nossas comunidades não vão aceitar que eles cheguem impondo as coisas, ditando as regras – afirmou Elielva.

Brazão, o coordenador da Sodiu-RR, ressaltou que as comunidades ligadas à entidade têm planos imediatos para intensificar a produção agrícola de macaxeira, melancia e outros alimentos, inclusive com estrutura de transporte para viabilizar a comercialização nas cidades. Ele desdenha da capacidade do CIR de implantar algum projeto positivo na reserva.

No CIR, a direção prefere adotar um discurso diplomático. Reitera a satisfação com a decisão do STF, sob o argumento de que a cultura indígena será mais preservada e desenvolvida após a saída dos brancos. Em relação à Sodiu-RR, a promessa é de que haverá um esforço para por fim às divergências.

– Acho que isso (as diferenças ideológicas entre as entidades) vai mudar. Nossos parentes vão entender que o futuro da Raposa Serra do Sol será melhor para todo mundo – argumentou Martinho Macuxi, coordenador do CIR.

AGÊNCIA BRASIL
 
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