| 28/04/2009 19h24min
Produtores de suínos estão preocupados com uma possível queda nas exportações, em decorrência do pânico causado pela gripe suína. O setor teme que a epidemia afete o mercado com queda no consumo, apesar de médicos e especialistas esclarecerem que não há risco de contaminação pela ingestão de carne.
Amparados por uma nota divulgada pela Organização Mundial de Saúde Animal, que chamou a gripe suína de gripe norte-americana, representantes da cadeia produtiva de suínos declararam guerra à denominação que vem sendo dada a doença. Na tarde desta terça, dia 28, eles protocolaram nos ministérios da Saúde e Agricultura uma carta pedindo aos ministros que esclareçam à população sobre a doença, que até agora não contagiou animais.
– Não foi isolado o vírus no animal. Então a contaminação se dá entre humanos. Dizer que isso é uma gripe suína é arbitrário – afirma o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Fernando Barros.
Controle rigoroso
Em granjas comerciais, o controle com a sanidade é rigoroso. Os funcionários e visitantes precisam tomar banho e trocar de roupa para entrar no estabelecimento. Nas baias, o trabalho de limpeza é diário. E na maternidade da granja nada pode ser feito sem os equipamentos de higiene. Todos estes procedimentos são normais na rotina destes estabelecimentos. A possibilidade de ocorrer uma doença bacteriana ou viral com este controle é praticamente nula. Por isso, especialistas acham injusto que a culpa pela epidemia seja atribuída aos suínos.
– Eu acho um grande erro, um grande engano. Porque como nos estamos ha muito tempo trabalhando com isso a gente sabe que não é isso. Às vezes tentam difamar o suíno. Eu acredito que existe muita falta de informação e especulação em cima destas informações que está levando a este desespero todo – afirma a zootecnista Viviane Orbach.
De acordo com o presidente da Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS), Waldomiro Ferreira Filho, o que está acontecendo no mercado é especulação e, por isso, é importante que o criador não mude seus procedimentos na granja, nem suas estratégias de negócios neste momento.
– O que nós estamos aconselhando nossos produtores é muita calma. O mercado não tem ainda nenhum diagnóstico de demanda. De diminuição da demanda, ou aumento da demanda.
Novos negócios
O Brasil exportou, em 2008, 530 mil toneladas de carne suína. O principal mercado é a Rússia, que esta semana suspendeu a importação de carne do México por causa da gripe. Agora são os produtores brasileiros que temem queda nas exportações do produto.
–Com certeza, haja vista a questão da aftosa, que já é uma doença muito mais conhecida e que todos os países do mundo sabem como ela se processa e, assim mesmo, muitas vezes, levantam embargo às nossas importações. A gripe também poderá trazer conseqüências desastrosas. E isso é mais um sinal de que precisamos nos adiantar e preparar esse planejamento – afirma a presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu.
O momento, que parece delicado, pode trazer, por outro lado, boas surpresas para o mercado de exportações de carne suína. A China, grande cliente dos EUA e do México pode se tornar agora um belo cliente dos produtores brasileiros. É nisso que aposta o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Wolmi de Souza.
– Nós precisamos realmente passar este período de turbulência, que eu acredito que deva passar no mais rápido possível. Mas eu acho que de toda esta turbulência nós vamos colher bons frutos – afirma ele, que representa o Estado que tem mais produz carne suína no país.
Casos monitorados no Brasil
A gripe já matou centenas de pessoas no México e contagiou dezenas na América do Norte, Espanha, Reino Unido e Israel. No Brasil, o ministério da Saúde divulgou nota informando que até a tarde desta terça, dia 28, foram notificados 20 casos, que estão sendo monitorados, mas sem confirmação da doença. Os Estados do Amazonas, Minas Gerais e Santa Catarina registram três ocorrências cada. Na Bahia, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte foram notificados dois casos. O Paraná tem quatro pessoas em monitoramento e no Pará apenas um caso foi notificado.
De acordo com o coordenador da unidade de Doenças Transmissíveis da Organização Pan-Americana de Saúde no Brasil, Ruben Figueroa, o sistema de transmissão da doença é muito agressivo e o controle é difícil, por isso não há como garantir que as medidas adotadas pelo Brasil são suficientes.
Gripe Suína
Países atingidos:
México Estados Unidos Canadá Espanha Reino Unido Israel
Casos monitorados no Brasil:
AM, MG e SC: três casos cada
BA, RJ e RN: dois casos cada
Paraná: quatro casos
Pará: um caso
Fonte: Ministério da Saúde
Perguntas e Respostas sobre a Gripe Suína |
Fonte: Organização Mundial da Saúde - OMS |
O que é influenza (gripe) suína? |
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Influenza ou gripe suína é uma doença respiratória aguda altamente contagiosa de suínos, causada por um de vários vírus A da influenza suína. A morbidade tende a ser alta e a mortalidade baixa (1-4%). O vírus se dissemina entre os suínos através de aerossóis, contato direto e indireto e através de suínos portadores assintomáticos. Surtos em suínos ocorrem durante todo o ano, com maior incidência durante o outono e inverno em zonas temperadas. Muitos países vacinam rotineiramente as populações de suínos contra a influenza suína. Os vírus da influenza suína são geralmente do subtipo H1N1, mas outros subtipos também circulam em suínos (como H1N2, H3N1, H3N2). Os suínos também podem ser infectados pelos vírus da influenza aviária e por vírus sazonais da influenza humana, além dos vírus da influenza suína. Acredita-se que o vírus suíno H3N2 foi originalmente introduzido na população de suínos por seres humanos. Algumas vezes, os suínos podem ser simultaneamente infectados por mais de um tipo viral, o que pode permitir a combinação dos genes dos diferentes vírus, produzindo um vírus da influenza que contém genes de uma série de fontes, denominado vírus recombinado (reassortant virus). Embora os vírus da influenza suína sejam normalmente espécie-específicos e sejam apenas capazes de infectar suínos, algumas vezes cruzam a barreira entre espécies e causam doença em seres humanos. |
É seguro ingerir carne e produtos de origem suína? |
Sim. Não se demonstrou a transmissão da influenza suína a seres humanos através da ingestão de carne suína adequadamente manuseada e preparada ou de outros produtos de origem suína. O vírus da influenza suína é inativado por temperaturas de cozimento de 160°F/70°C, correspondentes às orientações gerais de preparo de carne suína e outros tipos de carnes. |
Quais são as implicações para a saúde humana? |
Existem relatos esporádicos de surtos e casos de infecção humana por vírus da influenza suína. Geralmente, os sintomas clínicos são semelhantes à influenza humana sazonal, mas os relatos descrevem desde infecção assintomática a pneumonia grave, resultando em morte. Uma vez que a manifestação clínica típica da infecção por vírus da influenza suína em seres humanos é semelhante à influenza humana sazonal e a outras infecções agudas do trato respiratório superior, a maior parte dos casos foi detectada ao acaso através da vigilância para influenza humana sazonal. Casos leves ou assintomáticos podem ter escapado à detecção; desta forma, não se conhece a real
extensão desta doença em seres humanos. |
Onde ocorreram os casos humanos? |
Desde a implementação da Regulamentação Internacional da Saúde (IHR - 2005), em 2007, a OMS recebeu notificações de casos de influenza suína dos Estados Unidos e da Espanha. |
Como as pessoas se infectam? |
As pessoas geralmente se infectam com influenza suína a partir de suínos infectados. Entretanto, em alguns dos casos humanos não houve comprovação de contato com suínos ou exposição a ambientes contendo suínos. A transmissão humano-a-humano ocorreu em alguns casos, mas foi limitada a pessoas próximas e grupos fechados. |
Que países foram afetados por surtos em suínos? |
Como a influenza suína não é uma doença de notificação compulsória às autoridades internacionais de saúde animal (OIE), não se conhece sua exata distribuição internacional em animais. A doença é considerada endêmica nos Estados Unidos. Surtos em suínos também já ocorreram na América do Norte, América do Sul, Europa (inclusive Reino Unido, Suécia e Itália), África (Quênia) e em regiões do leste da Ásia, como China e Japão. |
E quanto ao risco de pandemia? |
É provável que a maior parte das pessoas, especialmente as que não mantêm contato regular com suínos, não tenha imunidade aos vírus causadores da influenza suína, capaz de evitar a infecção. Caso um vírus suíno estabeleça uma transmissão eficiente humano-a-humano, poderá causar uma pandemia de influenza. O impacto de uma pandemia causada por um vírus suíno é difícil de prever: depende da virulência do vírus, do grau existente de imunidade na população humana, proteção cruzada conferida por anticorpos adquiridos contra a influenza sazonal humana e fatores relacionados ao hospedeiro. |
Existe uma vacina humana que confere proteção contra a influenza suína? |
Não existem vacinas humanas que contenham vírus suíno que está causando doença em seres humanos. Não se sabe se as vacinas contra a influenza sazonal humana são capazes de conferir proteção. Como os vírus da influenza mudam muito rapidamente, é importante desenvolver uma vacina contra as cepas de vírus atualmente circulantes para conferir máxima proteção à população vacinada. Esta é a razão pela qual a OMS deve ter acesso ao maior número possível de vírus para que seja selecionado o vírus candidato mais apropriado para a produção da vacina. |
Quais drogas existem para o tratamento? |
Em alguns países existem drogas antivirais para a
influenza sazonal humana e que são eficazes para a prevenção e tratamento da doença. Existem duas classes destes medicamentos: 1) derivados do adamantane (amantadina e rimantadina) e 2) inibidores da neuraminidase da influenza (oseltamivir e zanamivir). Na maior parte dos casos anteriormente relatados de influenza suína, os pacientes se recuperaram plenamente da doença sem necessidade de tratamento médico e sem medicamentos antivirais. Alguns vírus da influenza desenvolvem resistência aos medicamentos antivirais, limitando a eficácia da quimioprofilaxia e tratamento. Os vírus obtidos de casos humanos recentes por influenza suína nos Estados Unidos se mostraram sensíveis a oseltamivir e zanamivir, mas eram resistentes a amantadina e rimantadina. As informações ainda são insuficientes para justificar recomendações de uso de antivirais para a prevenção e tratamento da infecção por vírus da influenza suína. Os clínicos devem tomar decisões em base de avaliações clínicas e epidemiológicas e considerar potenciais prejuízos e benefícios da profilaxia/tratamento do paciente. Para o atual surto de infecção por vírus da influenza suína nos Estados Unidos e México, as autoridades nacionais e locais estão recomendando o uso de oseltamivir ou zanamivir para tratamento e prevenção da doença em base do perfil de suscetibilidade do vírus. |
Os passageiros de um voo comercial procedente de México usam máscaras em sua chegada ao aeroporto Heathrow em Londres, Grã-Bretanha.
Foto:
EFE
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