| 13/03/2009 19h31min
Quase a metade dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul estão fechados ou com os abates suspensos devido à crise financeira que atingiu o setor. Além da queda no volume de abates, a nova realidade das indústrias instaladas no Estado já traz reflexos diretos para os produtores, que sentem no bolso os efeitos.
Com uma desvalorização de quase R$ 20 em três meses, a crise na pecuária derrubou consideravelmente a cotação do boi gordo em Mato Grosso do Sul. A arroba que em dezembro era vendida a R$ 85 em média, esta semana chegou a ser negociada a R$ 68. Uma diferença que está fazendo com que os pecuaristas pensem duas vezes antes de retirar os animais da fazenda.
O pecuarista Arno Seemann é um retrato desta nova realidade. O criador de Brangus costuma vender gado para o frigorífico pelo menos uma vez por mês. No mês passado foi diferente. Como os preços despencaram, decidiu adiar a venda. Não foi a melhor escolha. Para arcar com as despesas da propriedade, precisou vender um lote de vacas esta semana e receberá R$ 62 por arroba.
— Como tenho compromissos mensais, não havia como não vender os animais. Não vendi no mês passado esperando que os preços reagissem, mas ocorreu o contrário e acabei perdendo ainda mais dinheiro — conta Seeman.
A queda é uma conseqüência direta do momento difícil enfrentado pelo setor. O resultado não poderia ser outro além de prejuízos e preocupação para a classe produtora.
O atual cenário da pecuária faz com que os produtores de Mato Grosso do Sul se recordem de um passado não muito distante. Após os focos de febre aftosa em 2005, os pecuaristas também viram a cotação despencar rapidamente. Naquele tempo, o abate de matrizes foi uma das saídas para superar os dias difíceis. Hoje, apesar de a crise atual ser motivada por fatores completamente diferentes dos daquela época, as lideranças do setor não descartam a possibilidade de uma nova redução no rebanho existente no Estado.
O presidente do Sindicato Rural de Campo Grande explica que após a aftosa o rebanho foi reduzido em cerca de 20%. Hoje, como os pecuaristas têm compromissos, eles também vão ou já estão abatendo as fêmeas, e o resultado também deverá ser a diminuição do rebanho.
Já para o Presidente do Movimento Nacional de Produtores (MNP), João Bosco Leal, a crise pode servir como um trampolim para uma mudança radical na maneira como pecuaristas e frigoríficos negociam.
— Talvez a solução seja passar a receber a vista na própria fazenda, no momento do embarque, e lá também pesar os animais. É uma alternativa para ampliar a confiança entre produtor e indústria e evitar que as empresas possam manipular os preços — diz Leal.
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