| 24/02/2009 19h14min
O governo e as patronais rurais da Argentina retomaram o diálogo após sete meses de estagnação e alcançaram "soluções parciais" a alguns dos problemas que afetam o setor, mas não abordaram a questão dos impostos às exportações de grãos, estopim de um extenso conflito no ano passado.
Apesar de as entidades agrárias terem reconhecido "a vontade de diálogo" do governo de Cristina Kirchner, também disseram que os avanços obtidos na reunião desta terça, dia 24, "estão longe de atingir as expectativas" dos produtores.
– De um a 10 pontos, estamos em quatro, mas pelo menos começamos a dialogar – afirmou Eduardo Buzzi, presidente da Federação Agrária Argentina, uma das quatro entidades rurais que representam cerca de 290 mil produtores.
Ao enumerar os avanços alcançados na reunião, o dirigente disse que o governo resolveu eliminar os impostos a exportações de lácteos e reduzir à metade os que incidem sobre alguns produtos de economias regionais.
Além disso, decidiu conceder subsídios à criação de gado bovino e medidas em favor do setor do trigo, explicou Buzzi.
O dirigente do campo destacou que os dois lados iniciaram um recesso até terça ou quarta que vem, e insistiu em que o diálogo foi "tranquilo, construtivo, e com disposição de buscar soluções".
– O que acontece é que, em duas ou três horas, não é possível resolver quatro ou cinco anos de conflitos – afirmou.
Além de Buzzi, participaram da reunião os dirigentes da Sociedade Rural Argentina, Hugo Biolcati, das Confederações Rurais Argentinas, Mario Llambías e da Coninagro, Carlos Garetto.
Os representantes do governo argentino foram os ministros do Interior, Florencio Randazzo, e da Produção, Débora Giorgi, assim como o secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca, Carlos Cheppi.
O encontro aconteceu horas depois que as entidades rurais encerraram uma greve de quatro dias – a sexta desde que o conflito começou e a primeira deste ano – durante a qual deixaram de vender grãos.
O fim da paralisação ocorreu quase simultaneamente à decisão de um grupo de produtores agropecuários de deixar a sede de um banco da província de Entre Ríos que tinham ocupado 24 horas antes, para pedir melhores condições no refinanciamento de suas dívidas.
A ocupação da entidade bancária foi duramente criticada pela presidente argentina, que pediu para "recapacitar setores da economia que hoje podem se dar o luxo, que outros não podem, de não comercializar seus produtos", em referência aos produtores.
– A solução aos problemas do país não ocorrerá através da violência, ocupando bancos e bloqueando estradas – disse Cristina.
O conflito entre o governo e o campo teve início em março do ano passado, quando o Executivo aumentou os impostos às exportações de grãos. A medida foi rejeitada pelo campo com cinco greves comerciais e bloqueios de estradas no país, que causaram um desabastecimento de alimentos e insumos para a indústria nas principais cidades da Argentina.
O Senado anulou o polêmico esquema tributário em 17 de julho, com o voto de Minerva do vice-presidente do país, Julio Cobos, aliado ao peronista Frente para a Victoria, de Cristina, o que significou um duro golpe à governante e sua primeira crise de governo.
Segundo as organizações agrárias, a situação do setor é "crítica" não só pelos impostos às exportações, mas também pela queda dos preços internacionais dos grãos, pela alta dos custos de produção, pela grave seca que afeta os campos e pela falta de financiamento, entre outros fatores.
A Argentina, um dos maiores produtores e exportadores mundiais de alimentos, sofreu, no ano passado, milionárias perdas pelas greves agropecuárias e pelos bloqueios de estradas dos produtores rurais.
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