| 28/01/2009 19h25min
A falta de crédito deve ser o grande vilão da safra 2009/2010. A previsão é da consultoria Agra FNP, que lançou nesta quarta, dia 28, a edição deste ano de uma das principais publicações do setor.
O lançamento do Agrianual 2009 serviu para analistas da consultoria falarem sobre os rumos da produção agrícola brasileira em tempos de desaceleração econômica. Os consultores analisaram os preços e a produtividade de soja, milho e cana-de-açúcar, desde a pior fase da crise financeira global, em setembro. Ambos foram bastante modificados em função de clima e câmbio.
Após fazerem uma retrospectiva do comportamento das principais culturas em meio à crise financeira global, os analistas da Agra FNP deram um alerta: apesar de os custos de produção começarem a reduzir e os preços a se recuperar, a falta de recursos ainda pode ser uma ameaça para a safra 2009/2010.
Segundo os analistas, mesmo eventuais bons resultados da safra atual não vão garantir o plantio da próxima. Serão necessários R$ 150 bilhões para custear a produção agrícola, e tanto o crédito oficial quanto o oferecido pelas tradings estão longe de atender a essa demanda. Além disso, a dívida dos agricultores já chegou em R$ 130 bilhões. Até agora, R$ 75 bilhões foram renegociados.
– Os custos de produção devem reduzir, já que os preços dos fertilizantes caíram mais de 20% e que as commodities começaram a ter alta. Mas, mesmo assim, isso não garante uma boa safra. O grande problema será o crédito – disse a gerente da Agra FNP, Jacqueline Bierhals.
De acordo com a empresa, as tradings e revendas que custearam 40% da última safra devem reduzir a participação para 25% no atual ciclo. A estratégia de diminuir a quantidade de insumos não poderá ser utilizada novamente pelos produtores, pois comprometeria muito a produtividade. O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso confirma que o crédito será o principal entrave para o bom desempenho do setor.
– Com a crise, as tradings reduziram muito o nível de crédito. Os recursos oficiais do Banco do Brasil também não chegam ao produtor. Isso é o que mais tem dificultado a produção de soja do Centro-Oeste – afirma o presidente da Aprosoja, Glauber Silveira.
No caso da soja, ainda existem outras preocupações. A produção que está sendo colhida deve ter quebra de três milhões de toneladas por causa da seca no Rio Grande do Sul e Paraná. A crise financeira também deixa o setor apreensivo em relação à demanda pelo grão. Mas, por outro lado, a forte redução da safra argentina, que enfrenta a pior estiagem dos últimos 40 anos, pode representar maior mercado para a soja brasileira.
– Para o Brasil isso significa que um importante player internacional terá menos produto para exportação, o que pode dar maior espaço para exportar a soja brasileira – explica o analista de grãos da Agra FNP, Pedro Collussi.
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