| 26/01/2009 12h
O Fórum Social Mundial, criado há nove anos como antítese do Fórum Econômico Mundial, volta a atacar o capitalismo, desta vez culpando-o pela crise que mergulhou a economia global em uma aguda recessão.
Desde sua primeira edição, em 2001, em Porto Alegre, o Fórum Social se posicionou contra o que classificou como "ordem econômica dominante no mundo" e combateu o que chama de "globalização do capitalismo selvagem e "neoliberal".
Agora que o capitalismo entrou em uma de suas piores crises após a queda de boa parte do sistema financeiro mundial, essas críticas ganharam mais força e prometem dominar boa parte dos debates do 9º Fórum Social Mundial, entre 27 de janeiro e 1º de fevereiro, em Belém.
Como é de sua tradição, o evento acontecerá paralelamente ao Fórum Econômico Mundial, que desde 1971, reúne em Davos, ao pé dos Alpes suíços, chefes de Estado e homens de negócios de todo o mundo para debater sobre os rumos do planeta.
A última edição sediada no Brasil havia sido em
2005, também em Porto Alegre. Em 2007, o Fórum ocorreu em Nairóbi, no Quênia. Em 2006 e 2008, o fórum que se define como um contraponto à globalização não teve sede central, sendo realizado em eventos espalhados pelo mundo.
— A crise estará no centro dos debates e não pode ser de outra maneira, embora seja difícil o fórum propor uma única solução, dada sua própria diversidade — disse Cândido Grybowski, membro do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial.
"É muito difícil prever" o que podem dizer sobre a crise os representantes dos cerca de 1.500 movimentos sociais de todo o mundo que se reunirão em Belém, disse o sociólogo.
Na opinião de Grybowski, algumas das exigências que o Fórum Social colocou desde 2001 já se cumpriram, devido à dimensão da própria crise.
— O fórum pedia que os governos tivessem a iniciativa, que houvesse uma subordinação maior da economia ao poder público e à sociedade civil e que os governos
regulassem a economia — opinou.
No entanto,
indicou que, embora os governos tenham decidido assumir uma atitude mais reguladora dos mercados e da economia, isso não é suficiente para "mudar a essência do capitalismo neoliberal".
Segundo Grybowski, para "conseguir que a economia tenha prioridades humanas e ambientais, e esteja dirigida para um caráter "solidário", é necessária a pressão dos movimentos sociais" representados no fórum.
Para ele, a atual crise financeira demonstrou que, na realidade, "não existia uma riqueza real, mas uma economia de jogo, de cassino, que não levou em conta a pobreza dantesca e crescente nem o sofrimento de milhões de pessoas, que são reais".
Grybowski considerou que o Fórum Social abordará a crise em todos os seus aspectos e não só no plano financeiro:
— A crise tem muitas dimensões. Tudo começou com uma crise ambiental e climática, depois vieram as crises de energia e de alimentos, e ela culmina agora com esta crise financeira, que afeta a
economia real de uma maneira profunda.
As dificuldades que o Fórum pode encontrar na hora de discutir a crise financeira também foram apontadas pelo suíço Peter Niggli, diretor da Aliança Sul, que reúne movimentos sociais europeus.
— Será interessante ver se as organizações e movimentos de base são capazes de formular mais claramente suas propostas para mudar a direção da economia global e as políticas que imperam no mundo — disse o ativista suíço.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, outro dos membros do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial, considerou que o encontro de Belém está obrigado a concluir com uma posição unitária, pois o movimento "deve ter uma postura clara e visível sobre como solucionar a crise".
Na opinião dele, "deve se exigir a eliminação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), ou uma reforma radical desses organismos", pois são assuntos que "se discutiram" nos oito encontros anteriores e nos quais "há posições de consenso, que
devem se transformar em uma posição
política única e global".
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