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 | 03/01/2009 17h10min

Cooperativas mudam realidade de castanheiros ribeirinhos no Amapá

Unidos, membros grupos conquistam clientes no Brasil e no Exterior

Promover a geração de emprego, renda e não depender de atravessadores. O desejo de alcançar esses objetivos fez com que castanheiros ribeirinhos do Amapá se unissem e criassem duas cooperativas de sucesso: a Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru) e a Mista Extrativista Vegetal dos Agricultores de Laranjal do Jari (Comaja). A primeira fornece óleo de castanha-do-brasil para a empresa de cosméticos Natura; a outra exporta por ano, para a França, toneladas da massa resultante da extração do óleo da castanha, conhecida como torta.

As cooperativas fazem parte do Projeto Estruturante de Manejo Florestal Não-Madeireiro do Sebrae no Amapá. O projeto teve início em 2007, com o cadastro das espécies. No caso do Amapá foram selecionados o açaí de terra firme e a castanha-do-brasil.

– No momento, desenvolvemos ações de consultoria tecnológica e políticas públicas, tendo em vista que o projeto é de tecnologia e conhecimento – explica a gestora da iniciativa no Sebrae/AP, Denise Nunes.

A Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru) tem 17 anos. A idéia inicial era criar um mecanismo que reunisse a produção de todos os castanheiros para aumentar o poder de barganha no mercado e não ficar nas mãos dos atravessadores.

Passados alguns anos, o governo do Estado, por meio do Projeto Castanha-do-Brasil, forneceu aos produtores equipamentos e infra-estrutura. Firmou-se também acordo para que o Estado comprasse toda a produção de castanha para ser usada como complemento alimentar na merenda escolar da rede pública. Assim, teve início a produção artesanal de biscoito de castanha pela cooperativa. Essa ação trouxe mais benefícios do que o previsto, já que estudos do governo estadual mostraram que a introdução dos biscoitos no lanche das crianças resultou em um aumento do rendimento escolar.

O presidente da cooperativa, Edmar Viana, lembra que em 2004, após um incêndio na fábrica de biscoitos, a produção teve que ser interrompida. Nesse mesmo período, começaram a ser feitos os primeiros contatos com a empresa de cosméticos Natura, que teve a iniciativa de patrocinar a reconstrução da fábrica, mediante a assinatura de um contrato que previa como contrapartida o fornecimento das matérias-primas necessárias à produção de cosméticos. A nova fábrica passou a extrair o óleo da castanha, mas não produzia o biscoito, como a antiga.

Hoje, a Comaru conta com 46 associados e fornece duas toneladas de óleo ao ano para a Natura. A cooperativa também vende a torta da castanha para uma empresa no Rio de Janeiro, que extrai essência para a produção de perfumes. Já as empresas locais compram as cascas da semente para a produção de ração animal.

– O carro-chefe da cooperativa é a produção do óleo para a indústria da beleza – explica Edmar Viana.

Assim como a Comaru, a Cooperativa Mista Extrativista Vegetal dos Agricultores de Laranjal do Jarí (Comaja) surgiu com o objetivo de juntar as produções individuais dos cooperados, permitindo a negociação de melhores preços. Suas atividades tiveram início em 1986, com a comercialização da castanha com casca.

Após determinado tempo, os cooperados perceberam que podiam ganhar mais dinheiro se vendessem a castanha sem casca. Então, com recursos pessoais, foram adquiridas máquinas para a quebra da castanha. Além do valor agregado, outro grande benefício dessa iniciativa foi a geração de emprego para a família dos cooperados, especialmente as mulheres.

Já em 1998, a cooperativa foi incubada pelo Programa Parque de Incubação de Empresas e Extensão Tecnológica do Estado do Amapá (Pietec). O ingresso na incubadora teve o objetivo de promover o melhoramento tecnológico e o fortalecimento da cadeia produtiva; a estabilidade da produção e a conquista de mercados formais, antes considerados inacessíveis aos pequenos produtores. Durante o período de incubação, os cooperados e funcionários participaram de cursos de capacitação sobre os mais diversos temas, oferecidos tanto pelo Sebrae/AP quanto pelo Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa).

Com a transformação da castanha-do-brasil em commodity e a regulação do seu preço em dólar, a alternativa de exportar se tornou atraente. Com 22 anos de existência, a cooperativa conta com 48 sócios.

– No momento estamos analisando a proposta de 80 castanheiros que querem se associar. Durante o período de um a dois anos, avaliamos se o castanheiro está apto a entrar na cooperativa. O objetivo desse procedimento é garantir vida longa à cooperativa – explica o presidente da Comaja, Manoel de Jesus.

Segundo Manoel, este ano já foram vendidas seis toneladas da torta de castanha, a R$ 12 o quilo, para a França. A matéria-prima é utilizada em produtos farmacêuticos. A cooperativa também produz a castanha dry, seca e sem casca, e o azeite, que é comercializado localmente.

– Estamos batalhando para adquirir o Registro da Unidade de Produção do Ministério da Agricultura e a liberação da Anvisa. Sem essa certificação não podemos vender o azeite em larga escala e nem exportar – diz Manoel.

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