| 03/12/2008 10h44min
Nos últimos três anos, a indústria brasileira da carne adquiriu plantas em mais de 15 países. Com o desafio de conquistar novos mercados, não era possível esperar por condições sanitárias ideais no Brasil. Por isso, a saída foi instalar unidades em diversas regiões do mundo e, hoje, os frigoríficos brasileiros vendem proteína animal para mais de 180 países. Na terceira reportagem da série sobre a nova indústria da carne, você vai saber como os frigoríficos expandiram os negócios pelo mundo e se tornaram grandes companhias internacionais.
O Brasil assumiu a liderança mundial das exportações de carne bovina em 2001. De lá para cá, a indústria da carne não parou de crescer e ultrapassou as fronteiras do Brasil. A necessidade em conquistar mercados resistentes ao produto brasileiro, como Estados Unidos, Japão e União Européia fez com que em 2005 os frigoríficos iniciassem um processo de internacionalização. O real valorizado em relação ao dólar facilitou a compra de unidades em outros países, que muitas vezes custavam menos do que as plantas nacionais.
– Eles passaram a ver a possibilidade de comprar frigoríficos no Exterior, e o fizeram de forma muito agressiva na Argentina, Uruguai. Recentemente, nos Estados Unidos, Austrália e na Europa. Eles passaram então a comprar empresas para abater gado e produzir nestes mercados, seja para distribuir produtos brasileiros no mercado internacional – explica o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Roberto Giannetti da Fonseca.
O JBS Friboi foi o frigorífico pioneiro no processo de internacionalização. Além de ampliar o mercado, diversificou o portfólio de produtos, aproveitando as oportunidades de negócios que surgiram no mercado.
– Nós nunca pensamos em internacionalizar necessariamente a nossa empresa. Nós buscamos oportunidades de adquirir empresas onde nós acreditamos poder agregar valor, tanto no mercado nacional, quanto internacional – conta o diretor do grupo, Jeremiah Ocalaghan.
Hoje o JBS Friboi tem 62 plantas espalhadas pelo mundo. Com 22 unidades de produção no Brasil, seis na Argentina, 18 nos Estados Unidos, 10 na Austrália e oito na Itália, possui capacidade de abate de 65,2 mil cabeças de gado por dia. Além de 47,9 mil suínos e 20,5 mil ovinos diários. A companhia tem ainda plataformas de distribuição na Rússia, Argélia, Angola, Congo e Polônia.
O Grupo Marfrig produz quatro tipos de proteína animal e possui 64 plantas frigoríficas: 31 unidades no Brasil, 13 na Europa - distribuídas entre Inglaterra, Irlanda do Norte, França e Holanda - , nove na Argentina, oito no Uruguai, duas no Chile e uma nos Estados Unidos. A capacidade de abate diário do Marfrig é de 21,1 mil cabeças de bovinos, 5,4 mil suínos, 8 mil ovinos, e mais de 1,7 milhões de frangos. A companhia tem ainda no Brasil uma planta de couros e três confinamentos.
O Grupo Bertin tem 25 unidades produtivas, 22 instaladas no Brasil, uma planta de alimentos no Uruguai e outra no Paraguai, além de uma unidade de couro na China. A capacidade de abate é de 15 mil cabeças de gado por dia.
O Grupo Independência tem 20 plantas no Brasil e uma no Uruguai. Sua capacidade de abate é de 10 mil cabeças de gado por dia.
Os recursos captados com a venda de ações na bolsa de valores aceleraram a expansão da indústria da carne. Segundo especialistas, a internacionalização não serve apenas para mostrar a relevância dos frigoríficos brasileiros no mercado internacional. O movimento permite ainda que as empresas aprendam procedimentos da produção pecuária de outros países e implementem isso no Brasil.
– A gente importa uma cultura, sabe o que pensam a indústria americana, australiana, européia. A gente cria uma cultura mais globalizada das empresas brasileiras. Elas deixam de olhar só para si e passam a ter uma visão global do sistema produtivo, do sistema industrial – afirma o pesquisador do Centro de Pesquisa Econômica e Aplicada (Cepea) Sergio de Zen.
Na reportagem desta quinta, dia 4, você vai ver a polêmica sobre o excesso de concentração na indústria da carne. As empresas brasileiras enfrentaram resistências fora do Brasil.
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