| 31/10/2008 06h19min
Poucos sabem, mas as abelhas têm papel fundamental nos pomares de maçã. Vacaria, na região dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul, abriga 6,2 mil hectares de macieiras. Nesta primavera, essa imensidão de árvores frutíferas é sobrevoada por cerca de 1 bilhão de abelhas. Detalhe: os insetos são alugados de apicultores para polinizar as flores a fim de assegurar mais produtividade e maior qualidade. O bilhão de abelhas provém de 15,5 mil caixas trazidas das mais diversas regiões do Estado e de Santa Catarina. Cada hectare necessita de duas a três colméias para assegurar uma polinização eficaz. É abelha sem fim: cada caixa comporta de 60 mil a 80 mil insetos.
O manejo correto dos ninhos durante o outono e o inverno assegura colméias sadias e populosas na primavera, estação em que a abelha voa até três quilômetros atrás de pólen e néctar, matéria-prima do mel. Pousando de flor em flor, a abelha recolhe pólen para levar às caixas. Nesses vôos, porém, ela também deixa nas flores fragmentos de grãozinhos recolhidos anteriormente, provocando a necessária polinização, ou o ato sexual das plantas. É daí que germinarão sementes e, posteriormente, frutos.
Os apicultores que alugam colméias para polinizar macieiras não visam o mel que a abelha, em tese, produziria ao visitar as flores. Explica-se: a flor de macieira não é melífera, ou seja, produz pouquíssimo néctar, substância que a abelha transforma em mel. Os apicultores miram mesmo é o dinheiro do aluguel. Nesta safra, cada colméia é alugada por R$ 40 a R$ 50. O valor do mercado depende do tamanho da florada: pomares muito floridos precisam de mais abelhas, elevando o preço do aluguel.
Mas alugar colméias é negócio considerado seguro. Há plantas que necessitam do reforço das abelhas para polinizar. No caso das macieiras, quanto mais polinização, melhor. Com mais frutos, o produtor poderá se dar ao luxo de descartar as maçãs pequenas, feias ou defeituosas. Esse processo, o raleio, permite qualificar a safra.
José Sozo começou a plantar macieiras em 1993. A primeira colheita ocorreu quatro anos depois, já com auxílio de abelhas na polinização. Atualmente, Sozo cultiva 35 hectares das variedades gala e fuji. Para repetir a safra do ano passado (1,5 mil toneladas), há algumas semanas espalhou 105 colméias pelo pomar. A intenção é manter a produtividade em 45 toneladas por hectare.
– Queremos aumentar a qualidade e a produtividade da macieira.
Neste ano, Sozo pagou R$ 45 pelo aluguel de cada colméia, totalizando investimento de R$ 5 mil. Cada hectare recebe três caixas de abelhas.
O negócio de abelhas tem atraído novos empreendedores. O pecuarista Cássio Borges Ferreira viu no aluguel de colméias uma fonte alternativa de renda. Estudante da unidade vacariense do Curso Técnico em Agropecuária da Escola Agrotécnica Federal de Sertão, de Passo Fundo, Ferreira fez um curso de apicultura na Emater e pôs mãos à obra. Construiu cem caixas para capturar abelhas, destas 20 das caixas já estão ocupadas. Até o final de novembro, Ferreira pretende ter 70% das colméias habitadas.
ZERO HORA
Sozo, que desde a primeira colheita em 1997 conta com a ajuda das abelhas, há algumas semanas espalhou 105 colméias de olho na qualidade das maçãs
Foto:
Ricardo Wolffenbütel
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