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 | 21/07/2008 02h24min

Comparação de Amorim sobre tática nazista de ricos vira arma contra o Brasil

Incidente diplomático azedou ainda mais as já difíceis tratativas da Rodada de Doha

Começou mal o que deveria ser uma reunião decisiva para a liberação do comércio internacional. Ao comparar a estratégia dos países ricos à do nazista Joseph Goebbels, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ofendeu a representante dos Estados Unidos, Susan Schwab, filha de sobreviventes do Holocausto. O incidente diplomático azedou ainda mais as já difíceis tratativas da Rodada de Doha.

Ao chegar a Genebra, Suíça, onde se reúnem hoje representantes de 30 países para tentar sair de um impasse de cinco anos, Amorim respondeu ao comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, que acusou o Brasil de "estar sempre por trás" das dificuldades nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Foi quando o embaixador brasileiro lembrou Goebbels para contra-atacar a estratégia dos países ricos que dizem ceder às exigências dos emergentes, mas agem de forma diferente.

Mal a frase de Amorim havia sido divulgada, o porta-voz de Susan Schwab, Sean Spicer, respondeu que a representante de Comércio da Casa Branca a considerara um "insulto baixo e pessoal". E, numa referência aos riscos do incidente, acrescentou esperar que "os comentários não afetem a rodada". Quando soube da origem familiar da negociadora e da dura reação, o Itamaraty apressou-se a pedir desculpas, distribuindo nota no início da madrugada de ontem em Genebra.

— O ministro lamenta se Schwab ou qualquer um ficou afetado por seus comentários sobre um fato histórico. Ele certamente não tinha a intenção de ferir o sentimento de ninguém e respeita profundamente Schwab — afirmou Ricardo Neiva Tavares, porta-voz do Itamaraty.

Mesmo depois das desculpas brasileiras, o porta-voz americano não deu o incidente por superado:

— Ele (Amorim) é o responsável pela diplomacia do Brasil.

Ontem, o embaixador brasileiro insinuou que os EUA estão usando suas declarações para tentar enfraquecer a posição do Brasil na Rodada de Doha. Líder da criação do G-20, grupo de países em desenvolvimento formado para ganhar poder de negociação, o Itamaraty teme que o uso de seu deslize tenha a função de afetar a credibilidade numa semana crucial para OMC. Amorim confirmou que não teve a intenção de ofender e avisou que vai se reunir hoje com Schwab para tentar vencer o mal-estar. E insistiu:

— A repetição de distorções leva a pensar que são verdadeiras.

Quando criticou o Brasil, Mandelson disse que os grandes emergentes devem assumir responsabilidades, não apenas pressionar os ricos por concessões. Com seu presidente Nicolas Sarkozy no comando da UE, a França já avisou que não aceita cortar subsídios, sob pena de perder 100 mil empregos.

No sábado, Amorim alertara que, em caso de fracasso, o processo pode ser adiado em três ou quatro anos. Até lá, opinou, seriam os países emergentes quem ganhariam terreno.

ZERO HORA
Salvatore Di Nolfi, EFE / 

Celso Amorim, durante reunião ministerial da OMC
Foto:  Salvatore Di Nolfi, EFE


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