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 | 14/07/2008 19h35min

Inflação provoca redução dos investimentos na agricultura familiar

Renda do produtor não acompanha aumento nos preços dos insumos

Sônia Campos, Brasília (DF)  |  reportagem@canalrural.com.br

Os agricultores familiares sofrem com o aumento nos custos de produção, que não acompanha a valorização dos produtos. Com isso estão deixando de investir em máquinas agrícolas.

Rivaldo Gonçalves é produtor de leite em São Sebastião, cidade localizada a 26 quilômetros de Brasília (DF). Em uma propriedade de 19 hectares ele possui 13 matrizes, e conta que em três anos viu a renda diminuir. Dos três insumos que mais compra, o produtor calcula um aumento de 60% na variação dos custos.

A casca de soja subiu de R$ 9,50 em julho de 2007 para R$ 16 neste mês. O preço da ração passou de R$ 21,90 para R$ 29,40. Em um ano o custo do sal pulou de R$ 31,90 para R$ 59,80.

A variação do preço pago pelo leite também não acompanhou o aumento nos gastos. O litro do produto que era vendido à cooperativa em julho do ano passado por R$ 0,60 hoje é comercializado por R$ 0,72, um aumento de apenas R$ 0,12 centavos, cerca de 20%. 

Apesar de sua família ter assistência técnica da Emater e acesso ao crédito de investimento do Pronaf, o produtor Rivaldo Gonçalves calcula que este ano vai investir 20% a menos na modernização da produção.

– Eu pretendia modernizar o curral este ano, mas terei que esperar o próximo – diz ele.

Enquanto isso, o produtor de leite conta com a ajuda da experiência para administrar as despesas.

– Eu diminuí a ração concentrada e aumentei a casquinha de soja na produção até melhorar a qualidade do meu leite. A gente apanha no dia-a-dia e procura a reduzir os custos fazendo experiências – revela.

A expectativa de Rivaldo é parecida com a de cerca de quatro milhões de agricultores familiares brasileiros. Todos estão sofrendo as conseqüências da crise mundial de alimentos. A renda não acompanhou a alta dos fertilizantes e a especulação das commodities no mercado financeiro.

O professor de Gestão de Agronegócio da Universidade de Brasília Moisés Balestro explica que para amenizar os efeitos é preciso aumentar o crédito para financiamento, medida anunciada pelo governo na semana passada no Plano Safra Mais Alimentos, que prevê R$ 13 bilhões para agricultura familiar. Mas Balestro acha que ainda é preciso uma intervenção política do governo no mercado.

– Principalmente em relação àquilo que provoca uma distorção de preço, a especulação financeira dos fundos de commodities e a questão dos oligopólios praticadas pelos fornecedores de insumos – conclui.

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