| 05/07/2008 11h10min
Se o governo colombiano pagou um resgate milionário e armou uma grande farsa para viabilizar a tão esperada libertação de Ingrid Betancourt, como alguns acusam, só o tempo dirá. Por ora, a informação disponível e palpável é que os militares apresentaram uma encenação digna dos melhores palcos e enganaram a cúpula das Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (Farc). Eles receberam treinamento teatral e forjaram uma missão humanitária que deveria apenas discutir a libertação, mas acabou levando embora Ingrid e mais 14 reféns.
O governo de Álvaro Uribe divulgou na sexta-feira um vídeo da Operação Jaque, com cenas que mostram reféns revoltados dando entrevista, sendo algemados e, posteriormente, dentro do helicóptero de resgate, em estado de êxtase ao saber que estavam livres. Tudo parecendo cenas reais, mas editado. O vídeo tem menos de quatro minutos de duração.
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libertação
Na entrevista coletiva que concederam depois da apresentação do vídeo, o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, e os dois principais comandantes das Forças Armadas forneceram uma série de detalhes sobre as imagens mostradas. Disseram, por exemplo, que agentes de inteligência do exercito foram treinados durante três semanas por um professor de teatro para convencer as Farc de que integravam a missão humanitária.
O líder do grupo seria um italiano, que, de tão bem treinado, teria convencido um guerrilheiro a lhe entregar a arma, uma pistola nove milímetros. Haveria um com aparência de árabe e um australiano que, segundo o ministro, "é a cara" de Paul Hogan, o protagonista do filme Crocodilo Dundee, além de uma falsa equipe de TV. O ministro explicou a operação:
— Depois do treinamento cênico, chegou a hora da verdade, e ninguém refugou. Quando o presidente assumiu a
responsabilidade política, entramos em fase de maior segredo, informando apenas
pouco a pouco aos infiltrados o que iriam fazer. Quando dissemos a eles que poderiam ser seqüestrados ou mortos, a afirmação de todos foi enfática: sim, queremos fazer.
Veja a reconstituição do resgate:
O resgate ocorreu depois que os 15 reféns foram levados para uma localidade no sul da Colômbia, onde deveriam se encontrar com Alfonso Cano, o líder das Farc, e iniciar um processo de negociação, segundo o ministro. Eles se fizeram passar por integrantes de uma "missão internacional supostamente ajudando o intercâmbio humanitário", explicou, com uma expressão de vitória.
— Então vocês enganaram Alfonso Cano? — perguntou um jornalista, e o ministro não respondeu.
O repórter insistiu e Santos chamou outro jornalista para a
próxima pergunta.
Como as Farc raramente se manifestam, o que se tem é a versão do governo e algumas opiniões dissonantes publicadas nos meios de comunicação. Uma delas é a da Agência de Notícias Nova Colômbia (Anncol), que divulga informações da guerrilha. O veículo classifica o resgate de surrealista e considera estranho o fato de uma organização que atua há 44 anos mostrar tanta desarticulação a ponto de cair no "conto da ajuda humanitária", o que acabou levando embora seu principal troféu, a jóia colombiano-francesa, como Ingrid era chamada no cativeiro.
Ingrid está na França, onde foi muito festejada ao chegar ontem. Em Bogotá, colombianos demonstram satisfação pela libertação da ex-senadora e dizem que o enfraquecimento das Farc é o grande trunfo do presidente Álvaro Uribe, que ousou mexer no vespeiro que seus antecessores evitaram.
Mas a repercussão vai além. A imprensa divulgou melhorias econômicas que teriam resultado do efeito Ingrid,
como uma possível animação de
investidores estrangeiros, que já estariam vendo a Colômbia como um país mais seguro para injetar recursos, e a valorização do peso frente ao dólar, que se verifica nos últimos dias. A reportagem da Agência Brasil presenciou, inclusive, pessoas reclamando da cotação da moeda norte-americana nas casas de câmbio do aeroporto de Bogotá.
Franco-colombiana aparece no vídeo divulgado pelo governo dentro de um helicóptero em Guaviare, no sudeste do país
Foto:
www.youtube.com, Reprodução
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