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 | 28/04/2008 06h42min

Fome sobe ao topo da agenda internacional

Iniciativa da ONU tem alcance limitado, avalia Frei Betto

Com a reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) marcada para esta segunda e terça-feira, dias 28 e 29, em Berna, na Suíça, a crise dos alimentos chega ao topo da agenda internacional. O objetivo do secretário-geral, Ban Ki-moon, no encontro com os diretores das 27 agências da ONU, é coordenar esforços para enfrentar a escalada dos preços e o temor de desabastecimento.

Na sexta-feira, Ban disse que já há uma "crise global causada pelos altos preços dos produtos agrícolas e calculou que 100 milhões de pessoas se somariam aos famintos no mundo. Na reunião a portas fechadas, estarão também Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, e Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Um aumento na quantidade de alimentos distribuída pela ONU não vai resolver a crise, na avaliação de Frei Betto, assessor de movimentos sociais que foi coordenador de mobilização do Programa Fome Zero.

– Não resolve nada. É a pior coisa que se pode fazer – opina.

Betto acredita que os programas de distribuição de comida aumentam a corrupção nos países pobres e são transformados pelos governos em ferramenta eleitoral. Para o escritor, não existem soluções de curto prazo para a inflação dos alimentos. A ONU deveria incentivar a agricultura em países onde está estagnada, de acordo com Betto, que defende a reforma agrária e a redução de subsídios e de tarifas de importação.

– Fora isso, é enxugar o chão em dia de chuva. Sempre houve descaso com a questão da fome, agora é hora de correr contra o prejuízo. Os alimentos estão se tornando artigos de luxo – acrescenta.

O ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembra que a escassez - apontada como responsável pela alta de preço - já havia sido prevista em 2000, quando a ONU lançou o programa Metas do Milênio.

Escassez e custo elevado serão discutidos no G8

Pela primeira vez em quase 30 anos, o tema fará parte do encontro dos maiores países industrializados. Marcada para julho, no Japão, a próxima cúpula do G8 (grupo das sete maiores economias, mais a Rússia), discutirá os impactos da disparada.

Embora condene as barreiras à exportação e os subsídios agrícolas nos países ricos, a ONU pondera que a crise atual é complexa demais para apontar só um culpado. Entre os motivos principais, lista os biocombustíveis feitos de grãos - o que exclui o etanol brasileiro - , a alta do petróleo, fenômenos climáticos e o aumento da demanda em países como Índia e China.

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