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 | 27/03/2008 00h13min

Argentinos protestam contra o governo em apoio a produtores agropecuários

Produtores entraram em greve para contestar aumento de impostos

Moradores de diferentes bairros de Buenos Aires foram às ruas com panelas e frigideiras nesta quarta, dia 26, para protestar contra o governo argentino e apoiar os produtores agropecuários, que entraram em greve há duas semanas. O panelaço começou em áreas residenciais da capital argentina, como Recoleta, Barrio Norte e Belgrano, enquanto manifestações semelhantes ocorriam no interior do país.

A greve foi convocada pelas quatro principais entidades agropecuárias do país, em rejeição ao aumento dos impostos para as exportações de produtos agrícolas determinado no início deste mês pelo Executivo. O protesto foi acompanhado por bloqueios de estradas que impedem o transporte de alimentos, o que provocou desabastecimento de alguns produtos básicos em Buenos Aires e outras cidades da Argentina.

O conflito se agravou depois que na terça-feira a presidente do país, Cristina Fernández, advertiu de que não cederá à "extorsão" dos produtores agropecuários, o que gerou a reação popular.

Crise argentina deve afetar o Brasil

A elevação do imposto de exportação para o trigo deve se refletir nas prateleiras brasileiras em breve. Desde o começo do ano o preço do pão já subiu cerca de 20%, conseqüência da escassez de trigo argentino, mais barato do que o nacional. Para os moinhos brasileiros, o movimento argentino é um claro sinal de que será inevitável buscar outros fornecedores.

No final de 2007, quando o produtor argentino já estava pressionado pela alíquota de 28%, a indústria pediu ao governo brasileiro que retirasse o imposto sobre a importação de países de fora do Mercosul. Na ocasião a Argentina comprometeu-se a reabrir as exportações. O Brasil recebeu 2,6 milhões de toneladas. Houve a promessa de uma nova janela em 3 de março, para mais 1 milhão de toneladas, mas há dois meses não se fecham negócios.

Segundo o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo, Luiz Martins, os moinhos enfrentam dificuldades na importação desde novembro.

– Como reter exportações é um dos pilares da política econômica local, nós, aqui, corremos o risco de desabastecimento porque a maioria das indústrias mantém estoques para dois meses – explica Martins.

Produtores de soja podem ser beneficiados

A crise argentina pode render benefícios para os produtores brasileiros de soja, se vierem a ocupar o espaço deixado no mercado externo pelos vizinhos. Fernando Muraro, da consultoria AG Rural, diz que na Bolsa de Chicago, referência mundial, o problema é considerado de curto prazo, embora a tensão venha contribuindo para a terceira alta seguida na cotação do grão.

As medidas anunciadas no dia 11 pelo ministro da Economia da Argentina, Martín Lousteau, elevaram de 35% para 44,1% as retenciones (tributo sobre exportação) da soja. Há cinco anos o governo cobra esse tipo de imposto, que alcança outros produtos como grãos, carnes, leite e até combustíveis. Com isso, aumenta a arrecadação e inibe a inflação. No caso do trigo, a alíquota havia subido de 20% para 28% em novembro e há duas semanas foi reduzida para 27% – diferença considerada insignificante por irritados produtores argentinos que assistem à disparada dos preços das commodities no Exterior.

Transportadores enfrentam bloqueios

Os bloqueios de estradas por produtores rurais do país vizinho estão causando prejuízos calculados em US$ 1 mil ao dia por caminhão com carga parada, estima a Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (Abti).

Segundo a entidade, cerca de 3 mil caminhoneiros brasileiros circulam por dia na Argentina e estariam sendo prejudicados. A barreira mais próxima do Brasil está em Saladas, na localidade de Quatro Bocas, distante cerca de 120 quilômetros de Uruguaiana. Caminhoneiros que saem da cidade gaúcha pela Ruta 14, que leva a Buenos Aires, têm enfrentado em média uma hora e meia de espera em razão dos protestos.

Há pelo menos 300 pontos com bloqueios no país, segundo informação do sindicato rural da localidade argentina de Curuzu Cutia. Para o gerente executivo da Abti, José Élder Machado, os protestos na Argentina não são o principal motivo do prejuízo, mas ajudam a atrasar mais as cargas:

– A greve dos auditores (que ocorre no Brasil) causa mais transtornos. Depois que os caminhões passassem para a Argentina, poderiam seguir sem problemas, mas isso não está ocorrendo. Daí são duas horas numa barreira, uma noutra. Acaba atrasando ainda mais – explica.

Os ruralistas argentinos estão interrompendo as rodovias por uma hora. Depois, liberam por 15 minutos. Na província de Corrientes, região de ingresso dos caminhoneiros que saem do Rio Grande do Sul, são 10 pontos de bloqueio. De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Curuzu Cutia, Miguel Marticorena, quando a Ruta 14, em Saladas, está cortada, juntam-se 200 caminhões, 70% dos quais brasileiros. Os bloqueios não têm data para terminar e só cessam no período da noite.

A cada dia ingressam na Argentina cerca de 900 caminhões pelo Porto Seco de Uruguaiana, o ponto mais movimentado do Brasil na entrada de cargas para o país vizinho.

LÚCIA RITZEL E MARINA LOPES - ZERO HORA, COM AGÊNCIA EFE
Leo La Valle, EFE / 

Bloqueio de estradas na Argentina já afeta transportadores brasileiros
Foto:  Leo La Valle, EFE


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