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 | 01/08/2006 16h40min

Grêmio identifica e afasta um associado

Torcedor teria participado do tumulto no Beira-Rio

A direção do Grêmio identificou um associado que supostamente teria participado do vandalismo no Beira-Rio, no Gre-Nal do último domingo. Em entrevista online ao clicRBS nesta terça, o vice-presidente jurídico do clube, Carlos Josias de Oliveira declarou que esse torcedor terá seus direitos de sócio suspensos até que as investigações sejam concluídas pela polícia:

– Neste período, o mesmo não poderá, como associado que é, ter acesso às dependências do Olímpico – disse Josias.

O dirigente esclareceu que todas as informações sobre o torcedor foram encaminhadas aos órgãos de segurança. Para ele, os indivíduos que participaram da baderna não podem ser classificados como torcedores, mas sim como bandidos.

Sobre o envolvimento de alguns integrantes da Geral do Grêmio nos incidentes, Josias esclareceu que esta torcida não é organizada, pois muitas pessoas se juntam ao grupo ao chegarem ao estádio. Além disso, não há um subsídio formal do clube ao grupo:

– O que ocorre é que muitos integrantes são sócios do clube e o Grêmio eventualmente subsidia grupos de sócios, especialmente disponibilizando ônibus. Nestas ocasiões é bem provável que alguns integrantes da Geral se beneficiem, mas não há subsídio específico – afirmou.

Questionado se a direção do Tricolor entregou ingressos para integrantes da Geral, o vice-presidente explicou que o time distribui bilhetes a sócios, que podem ter repassado à componentes da torcida. Entretanto, Josias alertou que está se fazendo uma condenação equivocada da Geral:

– Independentemente de quem deu ou deixou de dar início àqueles incidentes, o fato é que ali tem início atitudes condenáveis de torcedores do Grêmio, sejam ou não condenáveis as demais. Nenhum daqueles torcedores era ou está identificado com a Geral. A Geral do Grêmio sequer estava, naquele momento (no começo do tumulto), dentro do Beira-Rio. Aqueles torcedores que praticaram aqueles atos também de vandalismo, identificavam-se com outras torcidas organizadas. Então tem que se ter o cuidado de não se atribuir a Abel as penas de Caim – salientou.

O dirigente disse ainda que não há possibilidade do Grêmio ressarcir o Inter pelos estragos no Beira-Rio, pois, segundo ele, o Olímpico sempre é depredado em Gre-Nais:

– Não tenho dúvidas de que se este Gre-Nal fosse no Olímpico haveria repetição dos danos que o primeiro clássico deixou. O Grêmio teve imensos prejuízos e não cobrou nesse nem em qualquer ressarcimento advindo da mesma procedência – salientou.

Ana Acker
ana.acker@rbsonline.com.br

Confira a íntegra da entrevista online:

Pergunta - Qual a opnião atual da direção do Grêmio sobre o que ocorreu no Beira-Rio domingo?
Carlos Josias
- Os episódios, todos, foram lamentáveis com reflexos dos mais diversos, a começar pelo desempenho dos jogadores dentro do campo e me fixo no Grêmio, constatando que houve abatimento dos jogadores, alguns preocupados com familiares que poderiam estar no local das ocorrências, e que visivelmente baixaram de produção. Penso que o Grêmio se encaminhava para uma vitória que restou truncada diante do que se passava na geral. No que diz respeito ao clube, as ocorrências podem levar à punições que nos causarão imensos prejuízos, oriundos em atos de vandalismo que, antes de terem sido praticados por torcedores, se trata de obra de autênticos bandidos.

Pergunta - Após a suspensão das torcidas organizadas, qual será o próximo passo da direção do Grêmio para coibir atos de violência?
Carlos Josias
- O Grêmio desde as primeiras horas de segunda-feira passou a investigar os responsáveis pela baderna produzida. Inúmeros torcedores foram identificados e encaminhados à polícia. Por coincidência, o clicRBS vai ficar sabendo em primeira mão a mais atual das providências tomadas. Em decorrência de viagem a ser empreendida pelo presidente em exercício, Dr. Túlio Macedo, este me transmitiu, também em caráter de interinidade, a presidência do clube. Concluída a identificação de um associado entre os torcedores que, supostamente teriam participado dos episódios, estou assinando resolução que suspende os direitos de ambos como associados até o final dos procedimentos pelas autoridades competentes. Ou seja, neste período os mesmos não poderão, como associados que são, ter acesso às dependências do Olímpico (posteriormente, o clube confirmou o afastamento de apenas um sócio).

Pergunta - A procuradoria do STJD deve oferecer denúncia contra o Tricolor nesta quarta. Como o clube prepara a sua defesa?
Carlos Josias
- Somente depois do recebimento da denúncia é que o clube, sabendo do que efetivamente é acusado vai encaminhar estratégia de defesa. Por hora, posso assegurar que o clube cumpre os dois requisitos que a lei exige para a isenção de responsabilidade: o Grêmio tomou providências para prevenir e agora está a repreender.

Pergunta - Além do site e da distribuição de panfletos, estão previstas outras ações para orientar e promover a paz entre os torcedores?
Carlos Josias
- Todos os meios disponíveis e ao alcance do clube foram utilizados. O Grêmio tem empreendido campanhas e, sendo pioneiro inclusive em algumas questões, como a do racismo, por exemplo, utilizando-se dos seus espaços no campo, nos intervalos dos jogos, e através de produtos licenciados incentivar comportamentos do tipo. Não custa lembrar que estas questões são sociais e de alcance universal. É evidente que o clube não é responsável único por empreendimentos do tipo, mas acreditamos que estamos fazendo a nossa parte e bem.

Pergunta - A Geral do Grêmio era mesmo subsidiada pelo clube, conforme informação divulgada pela Rádio Gaúcha ontem?
Carlos Josias
- A Geral do Grêmio não é uma torcida organizada, razão pela qual ela não tem, a exemplo e outras, uma visibilidade física semelhante a pessoa jurídica, em resumo ela "não existe" porque não há catálogo nem cadastro de seus integrantes. Se for observado, em dias de jogos se identifica perfeitamente no estádio aonde estão as organizadas e quem compõe tais torcidas. É possível ver nas gerais a Raça, a Garra, a Jovem e etc. Estas torcidas não possuem muitos componentes podendo-se até, por exagero, contar-se nos dedos. A Geral do Grêmio tem sido um fenômeno atípico no estádio. Atraídos pela repercussão da forma de torcer desta torcida, inúmeros torcedores vão ao estádio e se postam ao seu lado. Inúmeros integrantes da social deslocam-se dela até a Geral para se agregarem a esta torcida e participarem da encenação coreográfica que apresentam durante o jogo, como a avalanche quando acontece o gol. De sorte, que se olhando a geral do estádio, onde se posta esta torcida pode-se ver que ela acaba concentrando, às vezes, cinco, seis mil pessoas ou mais, conforme a partida. Seria inviável subsidiar um grupo desses. O que ocorre é que muitos deles são sócios do clube e o Grêmio, eventualmente, subsidia
grupos de sócios especialmente disponibilizando ônibus. Nestas ocasiões, é bem provável que alguns integrantes da Geral se beneficiem, mas não há subsídio específico.

Pergunta - Houve distribuição de ingressos para a Geral do Grêmio?
Carlos Josias
- O Grêmio disponibiliza alguns ingressos para associados, assim como convites em dias de jogos no Olímpico. É possível que, como disse anteriormente, que alguns integrantes daquela torcida possam ter recebido. Mas aqui tem que se ter cuidado. Penso
que está havendo uma certa precipitação em se fazer juízo imediato e antecipado de condenação da referida torcida. Ilustro. As imagens mostradas, reiteradas vezes pelas emissoras de TV, mostram que os primeiros atos de vandalismo ocorrem exatamente na parte limítrofe da geral, onde estavam os torcedores do Grêmio, e as sociais do Internacional. Se prestarem bem atenção naquelas imagens, ou mesmo se for descuidado ao apreciá-las, qualquer um poderá verificar que o policiamento ali era precário quando ocorreram os incidentes. Possuímos imagens que não estão rodando de que foram jogadas pedras das sociais do Inter em direção ao torcedor do Grêmio. Em seguida, este torcedor passa a arrombar ou derrubar a grade ali existente, invade as sociais e há encontro de torcidas com troca de agressões. A propósito alguns seguranças do Internacional assistem a este encontro. Em determinado momento, os torcedores do Grêmio retornam ao seu lugar e a Brigada fecha o cerco. Independentemente de quem deu ou deixou de dar início àqueles incidentes, o fato é que ali tem início atitudes condenáveis de torcedores do Grêmio, sejam ou não condenáveis as demais. Nenhum daqueles torcedores era ou está identificado com a geral. A Geral do Grêmio sequer estava, naquele momento, dentro do Beira-Rio. Aqueles torcedores que praticaram aqueles atos também de vandalismo, identificavam-se com outras torcidas organizadas. Então tem que se ter o cuidado de não se atribuir a Abel as penas de Caim.

Pergunta - O Grêmio pretende ressarcir o Inter pelos prejuízos?
Carlos Josias
- Quanto ao ressarcimento, há trinta anos que vejo o Estádio Olímpico ser depredado em Gre-Nais. Como, aliás, ocorreu no primeiro Gre-Nal do ano e que infelizmente se estendeu aos demais. Não tenho dúvidas de que se este Gre-Nal fosse no Olímpico, haveria repetição dos danos que o primeiro clássico deixou. O Grêmio teve imensos prejuízos e não cobrou nesse nem em qualquer ressarcimento advindo da mesma procedência.

Pergunta – A direção do Tricolor concorda com algumas medidas que estão sendo discutidas pelo MP, como Gre-Nal com torcida única e a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos jogos?
Carlos Josias –
Eu, particularmente, há muitos anos penso que a proibição de venda de bebida alcoólica nos estádios e arredores diminuiria sensivelmente incidentes durante um jogo de futebol. Mas admitir torcida única, a meu juízo, além de se punir a grande maioria em favor de uma minoria bandida seria reconhecer o fracasso do estado como órgão repressor da violência. Seria dizer para a sociedade "perdemos para os bandidos e sem solução, excluímos vocês, os inocentes".

Pergunta – Qual a expectativa da direção do Grêmio sobre uma possível interdição do Olímpico por até 10 jogos? Como será o controle das torcidas organizadas, quando essas forem autorizadas novamente?
Carlos Josias –
Não trabalho com essa hipótese, estamos cumprindo o que a lei determina e o que está ao nosso alcance, e se cumprimos com o que a lei determina punir seria rasgar a lei. Com relação às torcidas, temos que pensar numa coisa de cada vez. A primeira medida foi tomada, quando estivermos que tomar a segunda, vamos ter que refletir e ordenar o procedimento de retorno.

 
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