| 02/04/2002 10h05min
O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, deve anunciar nesta quarta-feira, dia 3, novas medidas econômicas, sociais e políticas, para tentar mudar a impressão de que o governo está paralisado diante da grave crise do país. A medida de impacto do pacote seria a apresentação de ambicioso plano de trabalho temporário para beneficiar 1,2 milhão de pais de família desempregados. Há expectativa sobre a reabertura do mercado de câmbio, hoje, após o feriadão de cinco dias.
A questão é saber se o dólar, que disparou para quase quatro pesos, recuando depois, está realmente contido. A queda nas cotações da moeda – que fechou a quarta-feira passada, dia 28, a 3,04 pesos no câmbio livre e 2,85 em bancos e agências que vendem dólares para o Banco Central – fez diminuírem as filas de compradores e desempregados que guardam lugares para ganhar dinheiro. A parte econômica do anúncio de Duhalde se resumiria ao aumento de 10% para 20% nas retenções às exportações, principalmente sobre produtos da cesta básica de alimentos, como óleo e farinha, que aumentaram 82% e 45%, respectivamente, nos últimos dois meses.
Outros produtos, especialmente os produzidos pelas províncias mais atingidas pela recessão, seriam beneficiadas com baixa de 10% para 5% nas retenções. Segundo fontes do Ministério da Economia, o governo prepara o detalhamento do programa de trabalho temporário, com pagamento, a 1,2 milhão de pais de família desempregados, de 150 pesos mensais (US$ 52,63), por quatro horas de trabalho, a partir de junho. Ainda não está definido de onde sairá o dinheiro para os pagamentos.
Uma das opções seria formar um fundo com a receita extra das retenções às exportações. Outra, recorrer ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ao Banco Mundial. Duhalde deve mencionar também a tantas vezes anunciada reforma política, que reduziria drasticamente o número de cadeiras parlamentares e fixaria um teto baixo para os salários dos políticos. O anúncio dessas medidas também serviria para amortecer o efeito da revogação, pelo Congresso Nacional, da Lei de Subversão Econômica, com a qual a Justiça vem processando empresários e banqueiros, e da Lei de Falências, que permite a empresas em crise renegociar suas dívidas com os credores, basicamente os bancos.
As mudanças são exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ontem, desembarcaram em Buenos Aires os primeiros técnicos da missão do Fundo que examinará as contas públicas. O principal alvo serão as províncias, que o FMI acusa de dilapidarem verbas. Enquanto o governo propõe criar fontes de trabalho, um polêmico memorando do Fundo, divulgado em Buenos Aires, indica que o FMI exigirá das províncias que demitam 375 mil de seu 1,4 milhão de funcionários públicos, que custam em conjunto 18 bilhões de pesos (US$ 6,3 bilhão) aos cofres provinciais.
O FMI calcula com as demissões economia de 4,8 bilhões de pesos anuais, dos quais 2,8 bilhões de pesos (US$ 982 milhões) poderiam ser destinados a um seguro-desemprego de 575 pesos (US$ 201) mensais para os demitidos. Em algumas áreas do país, segundo dados extra-oficiais, o desemprego já atinge 30%. Em empobrecidas províncias como a de Formosa, 40% da população depende direta ou indiretamente da máquina estatal.
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