| 08/07/2008 10h08min
De aluno predileto de um dos cérebros mais privilegiados do Brasil, o ex-ministro Mário Henrique Simonsen, a acusado de bilionário crime de colarinho branco no Brasil, Daniel Dantas, 53 anos, manteve uma característica intacta: a aguda inteligência. Segundo inimigos, usada para o mal. Para aliados, motivo de inveja e perseguição.
Clique no gráfico abaixo para ver matérias, comentário da colunista Rosane de Oliveira e como foi a Operação Satiagraha:
Filho de Luiz Raymundo Tourinho Dantas, dono de uma fábrica de tecidos, também manteve da juventude o perfil discreto, quase retraído. Mesmo quanto estava no auge, esse baiano formado em engenharia
civil e economia não posava de celebridade. Restringia seu círculo
social a um pequeno grupo formado pela família e amigos muito próximos. Não é à toa que colocou, na diretoria do Opportunity, sua irmã Verônica, e o ex-marido dela, Carlos Rodenburg.
Com um decisivo estímulo de Simonsen, ingressou no competitivo mercado financeiro, para finalmente, em 1994, abrir seu próprio banco de investimentos. O Opportunity se transformaria, quatro anos depois, na principal alavanca de sustentação do empresário como um dos mais poderosos do país. Com argúcia, para os admiradores, ou malícia, para os adversários, montou uma complexa estrutura financeira que lhe permitiu, com poucos recursos próprios, controlar um império privatizado concentrado em telecomunicações.
É de natureza intelectual a maior vaidade de Dantas. Com uma rapidez de raciocínio difícil de acompanhar, tem baixa tolerância a ritmos mais lentos. Mesmo usando o uniforme de empresários e executivos bem-sucedidos - terno Armani - , tinha fama de sovina: costumava usar um modelo de
carro antigo e comprara
apartamento em leilão judicial, abaixo do valor de mercado.
Essa personalidade incomum também alimentou lendas. Uma das tantas relata que os funcionários do Opportunity, ao avistá-lo ao longe nos corredores, entoavam em surdina o tema musical que marca a entrada em cena de Darth Vader na série de filmes Guerra nas Estrelas. Outra fábula, que ele mesmo se encarregou de negar, é a de que teria sido convidado para ser ministro no governo de Fernando Collor. Mas admitiu ter discutido planos de estabilização no início de 1990, com o então presidente eleito.
Impaciente com mentes menos astutas, parece ter o dom de transformar aliados em inimigos (veja quadro). O primeiro e mais tenaz é Luís Roberto Demarco, que abandonou a sociedade no Opportunity em 1999 e, por não receber o valor da indenização que considerava devido, obstinou-se em atacar o antigo parceiro. Uma das explicações dadas pelas dezenas de inimigos ocultos que Dantas angariou durante sua escalada ao poder é o
fato de o empresário ter
desenvolvido um apetite excessivo - "uma goela do tamanho do mundo", como é descrito por um adversário.
Empresário esteve envolvido na criação da supertele
Embora assegurasse estar dedicado à criação de gado no Pará, por meio de uma suculenta participação na Agropecuária Santa Bárbara, Dantas foi personagem do mais recente meganegócio verde-amarelo, a compra da Brasil Telecom pela Oi. Para permitir o negócio, anunciaram os envolvidos, todas as pendências envolvendo os sócios Citigroup e Opportunity foram resolvidas. Isso significa que o Citi retirou uma ação de cobrança de US$ 300 milhões que havia aberto em Nova York. Ou seja, até para sair da nova supertele Dantas acabou lucrando, o que despertou suspeitas de novos elos com o governo, depois da perda do principal aliado, José Dirceu. Deflagrada na semana em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fora do país, a operação da Polícia Federal pode desmentir esses rumores -
dependendo da evolução do caso.
Banqueiro tornou-se suspeito em alguns dos maiores escândalos econômicos e políticos do país
Foto:
Roosewelt Pinheiro, ABr, Banco de Dados - 22/09/2005
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