| 17/04/2008 04h57min
Indiciado pela Polícia Federal (PF) por suposto envolvimento na fraude do Detran, o ex-presidente da autarquia Flavio Vaz Netto enviou um recado ao Palácio Piratini: se os aliados da governadora Yeda Crusius não assumirem sua defesa na CPI que investiga o assunto, ele poderá optar por um "retorno voluntário" à comissão.
O destinatário do recado, enviado em dois e-mails nos dias 7 e 14, é o secretário-geral de Governo, Delson Martini.
A tentativa do procurador aposentado de marcar uma audiência com Martini, revelada nesta quarta-feira pela Página 10 de Zero Hora, gerou constrangimento no Palácio Piratini e agitação entre deputados da CPI. Demitido pela governadora em 7 de novembro, um dia depois de ser preso pela PF, Vaz Netto disse por telefone que está há 15 dias tentando se reunir com Martini.
— É um assunto pessoal — afirmou.
Questionado sobre se o tema da conversa envolveria o Detran, desconversou:
— São questões que ficaram para trás, que eu preciso resolver
com ele.
Disse que temas administrativos estão incluídos na pauta, mas negou-se a dar detalhes. As tentativas de contato foram por meio de telefonemas e e-mails. Vaz Netto garante ter ligado três vezes para o número direto do gabinete de Martini, no Piratini. Atendido por uma funcionária que se identificou como Janete, deixou recado pedindo retorno.
Sem obter resposta, decidiu tentar contato por e-mail. No dia 7, enviou uma mensagem de seu e-mail pessoal para o endereço do secretário-geral. No dia 14, pediu que sua mulher e procuradora fizesse nova tentativa, também direcionada ao e-mail de Delson. Foi a essa mensagem que Zero Hora teve acesso nesta quarta. Em ambas Vaz Netto não obteve retorno.
Secretário-geral afirmou desconhecer o assunto
O presidente da CPI do Detran, deputado Fabiano Pereira (PT), afirmou que o fato de Vaz Netto procurar Martini indica que o secretário-geral "sabe mais sobre as questões
do escândalo do Detran do que tem dito publicamente".
— Nos parece muito estranho que Delson Martini continue sendo interlocutor dessas questões, porque o próprio Vaz Netto falou que já tratou com ele antes. Naquela época o objetivo era intermediar o tema do Lair Ferst (empresário) — destacou o presidente da comissão.
O deputado Elvino Bohn Gass (PT) afirmou que vai reapresentar à comissão a proposta de convocação de Martini para depor. No dia 31 de março, o pedido foi rejeitado pela CPI por oito votos a quatro.
Acompanhando a governadora no Fórum dos Governadores ADVB 2008, no Rio de Janeiro, Martini não aceitou falar sobre o pedido do ex-presidente do Detran. Do Rio, o secretário-geral embarcou para São Paulo. Por meio de um assessor de imprensa que acompanhava Yeda, Martini afirmou que desconhece o assunto e que soube da intenção de Vaz Netto pelo jornal. Segundo a assessoria da Secretaria-Geral, não há pedido de audiência de Vaz Netto protocolado na agenda do titular da pasta. O porta-voz do
governo, Paulo Fona, preferiu não entrar
na polêmica, informando que a questão deve ser respondida pelo secretário-geral.
O que diz o e-mail:
"Aos cuidados do Exmo. sr. secretário Delson Martini.
Venho a sua presença, em representação a Flavio Vaz Netto, para reiterar o pedido de audiência que, a esta altura, revela-se urgente em razão da matéria a ser tratada e do fato de que o Dr. Flavio Vaz Netto estará na Capital até amanhã, dia 15/04, viajando na manhã do dia seguinte. Permito-me, na condição de sua procuradora, sugerir, respeitosamente, o acolhimento da presente solicitação. Reitero-lhe, outrossim, que a matéria a ser tratada na audiência versará sobre assuntos de interesse comum e de governo e, ainda, do retorno voluntário do Dr. Flavio à CPI do Detran, fundamentalmente em razão de imputações que lhes estão sendo feitas sem a contradita da base aliada cujos pontos são de inteiro conhecimento do governo . Pontos que, na ausência de esclarecimento por parte do
governo o fará de moto próprio."
*Colaborou Leandro Fontoura
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