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Festival de Cinema  | 08/08/2011 06h10min

O comentário de Roger Lerina sobre os filmes "Medianeras" e "Ponto Final"

Longas foram exibidos nas mostras competitivas internacional e nacional, respectivamente

Roger Lerina  |  contracapa@zerohora.com.br


A exibição do primeiro filme da competição de longas-metragens estrangeiros renovou na noite de sábado o entusiasmo dos festivaleiros - que deixaram o Cine Embaixador na véspera felizes com os dois filmes brasileiros exibidos: O Palhaço (fora da competição) e Riscado.

O argentino Medianeras Buenos Aires - Na Era do Amor Virtual (2010) foi calorosamente acolhido pelo público, enganchado pela história de um casal de jovens solitários que, apesar de morarem frente a frente e parecerem feitos um para o outro, nunca se encontram. A estreia no longa do curta-metragista Gustavo Taretto acompanha em paralelo o dia a dia de Martín (Javier Drolas) e Mariana (vivida pela bela atriz espanhola Pilar López de Ayala, do filme Lope) - que, além da vizinhança, compartilham uma mesma sensação de inadaptação no ambiente urbano e uma dificuldade em relacionar-se com outras pessoas, que tentam superar conectando-se à internet.

O longa é uma espécie de desdobramento de Medianeras - como os argentinos chamam as paredes laterais dos edifícios -, curta-metragem de Taretto premiado em mais de 40 festivais internacionais. O filme empolga no início ao costurar a apresentação dos protagonistas com comentários irônicos e críticos a respeito da desordem arquitetônica de Buenos Aires e da crise econômico-social da Argentina, ilustrados por curiosas imagens da cidade. A partir da metade, porém, Medianeras perde o frescor narrativo e patina ao apelar para certos clichês de comédia romântica convencional - o que não chegou a comprometer a empatia da plateia para com esse caloroso filme.

Já o segundo longa brasileiro concorrente em Gramado passou ao largo dessa conexão alcançada pela produção argentina. Ponto Final (2011) foi recebido com frieza pela audiência, que parece não ter embarcado na proposta do diretor Marcelo Taranto - literalmente: boa parte do filme se passa com os personagens principais dentro de um ônibus ou de cenários construídos a partir de carrocerias de coletivos. Na trama, um homem (Roberto Bomtempo) é abordado por uma mulher (Hermila Guedes) - espécie de reencarnação da protagonista do filme A Dama do Lotação (1982) - dentro de um ônibus, que tem ainda um motorista (Othon Bastos) e um cobrador (Silvio Guindane). Davi tortura-se pela dor da perda da filha, morta por uma bala perdida no centro do Rio, ao mesmo tempo em que se sente cada vez mais distante da esposa (Dedina Bernardelli).

Inspirado em uma peça chamada Tudo Passageiro - segundo o realizador Taranto, um texto no estilo do teatro do absurdo -, Ponto Final apresenta-se inicialmente como uma intrigante narrativa que transita entre os registros da imaginação e da realidade. Graças à direção de arte e à fotografia bem cuidadas, o filme logra evocar em certos momentos a desejada ambientação onírica. O problema está no roteiro e na direção de atores: ainda que o excelente elenco se esforce bravamente em emprestar verossimilhança às falas, a baixa qualidade dos diálogos - recheados de lugares-comuns de autoajuda -, o tom artificioso da atuação e a marcha lenta do ritmo impedem Ponto Final de sair do ponto morto.

ZERO HORA
Divulgação / 

Enquanto produção brasileira não empolgou, filme argentino teve recepção semelhante a dos longas exibidos na primeira noite.
Foto:  Divulgação


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