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Festival de Cinema  | 12/08/2011 16h00min

Daniel Feix comenta os longas "Garcia" e "O Carteiro"

Filmes foram exibidos na penúltima noite da mostra competitiva

Garcia 
 
Segundo e último dos sete longas latino-americanos projetado em 35mm, e não em DVD, Garcia agradou a maior parte dos presentes no Palácio dos Festivais. Já havia sido assim com Perro Come Perro (de Carlos Moreno, 2008), outro título vindo da Colômbia que trouxe a Gramado um thriller de desamor e violência na periferia de uma grande cidade daquele país. Desta vez, no entanto, o diretor Jose Luis Rugeles recheou a trama de referências e elementos de gêneros diversos, dando ao seu trabalho uma pretensão que ele não consegue de todo corresponder.

A história é puro irmãos Coen: Garcia, um segurança humilde e maniático (Damián Alcázar), consegue comprar uma casa nova, porém, a residência é muito menos interessante do que aquilo que imaginava a sua mulher (Margarida Rosa de Francisco). Ambos atuam num registro que vai um pouco além do naturalismo, ressaltando as suas angústias, no caso dela, e a felicidade plena com a nova vida, no dele. E, ainda, dando ao filme uma dose considerável de humor — às vezes bem empregada, noutras, nem tanto, sobretudo após entrarem em cena os personagens de dois traficantes brasileiros (Rui Resende e Giulio Lopes). Ambos aparecem quando a sucessão de erros que começou com o misterioso sequestro da mulher e que é típica de produções como Fargo (1996) já trouxe a comédia para o primeiro plano, esvaziando as sequências de ação e suspense antes do desfecho.

O que Garcia tem de melhor é o trabalho de composição dos tipos que habitam a região de periferia colombiana (não identificada), especialmente o principal parceiro do personagem-título, o gordinho Gómez (Fabio Restrepo) — o que pode render ao filme algum Kikito de interpretação. Mais do que isso vai depender do rigor com que o júri avaliá-lo.
 
O Carteiro
 
Após 27 anos sem dirigir um longa-metragem, Reginaldo Faria veio ao Rio Grande do Sul realizar a produção gaúcha O Carteiro, comédia popular folhetinesca que se passa no pequeno Vale Vêneto, em São José do Polêsine, região central do Estado. O filme tem mais a ver com a sua estreia no longa, a comédia Os Paqueras (1969), e com a sua larga experiência com teledramaturgia no país do que com os dramas de carga social que ele dirigira antes deste hiato.

Candé Farias, filho do diretor, interpreta o protagonista, carteiro da comunidade que viola correspondências alheias até entrar na vida de uma nova moradora da região (Ana Carolina Machado), por quem se apaixona. Os personagens em torno dele são muitos, construídos a partir de estereótipos como a jovem viúva gostosa (Fernanda Carvalho Leite), o dono de boteco bonachão (Zé Victor Castiel) e, destaque do elenco, o cômico colega e melhor amigo do personagem principal (Felipe de Paula).

A inspiração, segundo o diretor, são comédias italianas como as de Monicelli. O problema é que O Carteiro é tão cheio de excessos — de música, de atenção a algumas sequências como a da acareação na delegacia e, sobretudo, de interpretações — que tem dificuldade para encontrar o tom até quando escancara a sua opção pelo pastelão. Tem passagens divertidas e é bem fotografado, porém, a estética envelhecida e os exageros diversos comprometem o resultado final — ao menos no que diz respeito a construir uma carreira em festivais.

No circuito comercial, para o qual ele evidentemente foi concebido, até pode funcionar. Desde que o mercado permita e que o grande público também o queira.

ZERO HORA
 

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