Será que o trabalho ideal, aquele com que todos sonhamos, existe mesmo? Há algum tempo, um hotel na Bahia oferecia o chamado “emprego dos sonhos”. A profissão: hóspede. Na Nova Zelândia, um homem tornou-se zelador da ilha Hamilton por mais de US$ 100 mil por ano. A Royal Caribbean International também oferecia, por volta desta época, uma vaga para diretor de cruzeiros marítimos, responsável por administrar e planejar o programa de atividades de entretenimento a bordo de navios da companhia. Esses três exemplos servem para concluir apenas que o trabalho ideal pode ser simplesmente algo que seja instigante e que faça a pessoa se sentir bem. Mas definir o universo de opções que pode se enquadrar dentro desse perfil não é fácil.

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Há quem pense que o trabalho dos sonhos é ganhar dinheiro, ter benefícios e conforto. Mas especialistas afirmam uma outra realidade; os profissionais não querem só bens materiais. Eles querem, na grande maioria das vezes, se sentir úteis, insubstituíveis, ter oportunidades de crescer e de contribuir. Eles querem desenvolvimento de carreira. Querem desafios.

Segundo Tânia Rodrigues, psicóloga com atuação em psicoterapia e orientação profissional, o emprego dos sonhos deveria ser aquele passível de realização, e, com isso, compatível com o as competências da pessoa que sonha. Ou seja, o ser humano busca algo que aproveite o que ele sabe fazer melhor. Porém, é preciso equilibrar sonho e realidade.

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“Se conseguirmos um equilíbrio entre o princípio da realidade (ela e seu atual emprego) e o princípio do prazer (ela e o seu emprego ideal), teremos condições de realizar nossos sonhos profissionais”, afirma a psicóloga. De acordo com ela, o profissional deveria se questionar da seguinte forma: “Qual o emprego dos meus sonhos diante das minhas prioridades, e o que eu preciso desenvolver para conquistá-lo?”. Capacitar-se para obter o que se deseja é, assim, uma forma de tornar o ideal mais real e alcançável.
Outro ponto importante a realçar é que conquistar o emprego dos sonhos depende muito do autoconhecimento. Se a pessoa conhece suas características, seus pontos fortes e fracos, seus anseios, suas prioridades, ela poderá desenhar esse sonho de forma a ser mais compatível com sua realidade, e, dessa forma, identificar uma estratégia para alcançá-lo.

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Para o CEO do Instituto Great Place to Work, Ruy Shiozawa, as pessoas costumam frequentemente responder à pergunta “O que te faz querer permanecer aqui nessa empresa?” com referências à oportunidade de desenvolvimento de carreira. Esse é, diz ele, um ideal tangível: “O que as pessoas apontam não é salário, não é número, não é benefício. Elas querem, de fato, oportunidade de se desenvolver. E isso não necessariamente envolve aumento de cargo ou de salário. Mas, oportunidade profissional para darem o melhor de si, para utilizar toda a sua capacidade”, informa.

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Oportunidade de desenvolvimento de carreira implica em obter novos desafios. Segundo as pesquisas, os profissionais querem sentir que estão aproveitando suas habilidades, competências, talentos, e que podem sonhar, vislumbrar que ali está uma possibilidade real de evolução. “Construir um bom ambiente de trabalho não depende do porte ou tamanho de empresa. Senão, estaríamos dizendo que uma empresa maior oferece mais oportunidades de crescimento, o que não é verdade. Você pode ter uma empresa pequena, mas que seja muito apreciada por seus funcionários, pois eles percebem que lá podem ser eles mesmos, aplicar seus conhecimentos. Percebem que são estimulados, e isso é que é desenvolvimento.”

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As pessoas gostam de cargos e de altos salários, é claro. “Mas, se fosse só isso, elas se sentiriam muito alegres e realizadas no primeiro momento, e logo depois essa sensação iria acabar. Quando a oportunidade de crescer é real, ela independe de cargos. Ela está lá sempre. É uma diferença sutil, mas importante”, explica Ruy.

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Conceito depende da experiência profissional
Também é preciso considerar que o conceito de emprego dos sonhos realizável varia conforme a experiência profissional. Um pessoa que está entrando no mercado de trabalho agora sonha com algo diferente de outra mais experiente, pois as expectativas e necessidades de começo de carreira são bem diferentes dos objetivos daqueles já experientes na profissão. “No primeiro caso, o profissional está, geralmente, focado nas oportunidades de aprendizado, na diversidade de experiências e no crescimento profissional. No segundo, ele privilegia a identificação dos seus valores com a empresa, na qualidade de vida, na relação positiva (custo/benefício) entre empresa e colaborador, e, claro, no seu desenvolvimento”, detalha Tânia.

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Tanto a psicóloga quanto o executivo concordam que o conceito geral de emprego dos sonhos tem a ver com a satisfação em relação ao lugar em que se trabalha. Para a terapeuta, contudo, a insatisfação é inerente ao ser humano: “O que nos falta no lugar atual será o que ansiamos em um novo lugar, ou novo papel”. Ela afirma ainda que a satisfação do funcionário para com a empresa, assim como o grau de maturidade do funcionário para lidar com as insatisfações, influenciam na estabilidade profissional.

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Um profissional pode gostar muito da empresa em que trabalha, pois ela tem uma marca forte, é reconhecida no mercado, observa Ruy. Mas, caso seu líder imediato seja uma pessoa que não dê oportunidade, não estimule o funcionário a desenvolver-se, ele será capaz de abandonar o emprego, mesmo que a empresa seja excelente. “O nome, a marca da empresa, o que ela faz, é claro que são aspectos importantes, mas a relação com a chefia imediata, com o líder direto, ainda é muito mais. Isso é muito relevante ao se falar sobre lugares ideais para trabalhar e emprego dos sonhos”, destaca.

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Segundo as pesquisas do instituto Great Place to Work, uma empresa excelente para se trabalhar é caracterizada por três grandes dimensões:

- O profissional confia nas pessoas para quem trabalha: a confiança compreende a relação entre o funcionário e seu líder imediato, que o estimula ao desenvolvimento de suas habilidades.
- O profissional tem orgulho do trabalho que realiza e da empresa para a qual trabalha: é o âmbito da relação entre o profissional e seu trabalho em si.
- O profissional tem bom relacionamento com os colegas: existe espírito de equipe (camaradagem, relações interpessoais). Tudo isso faz com que o profissional deseje estar nesta empresa e, estando lá, sinta-se feliz e realizado.

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Quando se trata de obter felicidade na área profissional, é importante também não esquecer da natureza humana: assim que conquistamos um objetivo, ficarmos insatisfeitos de novo. Poderíamos, assim, definir o emprego dos sonhos como aquele que proporciona ao profissional um desafio novo todos os dias.

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E, no entanto, nem todas as pessoas gostam de estar sempre diante de novos desafios. Muitos desafios todos os dias podem resultar em estafa e insatisfação, e o ciclo recomeça. A psicóloga Tânia lembra ainda que a felicidade é um conceito subjetivo e, de certa forma, efêmera. “Porém, enquanto o indivíduo se sene feliz no emprego, este é o emprego ideal (ou o mais próximo do chamado emprego dos sonhos”.

(Simone Marques, com informações da Catho Online - Portal Carreira & Sucesso)

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