| 13/08/2009 18h43min
Ampliar a produção agrícola sem prejudicar o meio ambiente. Este é um dos maiores desafios dos agricultores de norte a sul do país, que buscam se adequar às exigências ambientais, sem comprometer a geração de renda. A corrida pela sustentabilidade é um caminho sem volta, mas em algumas regiões, cumprir o que determina o código florestal brasileiro se tornou um obstáculo para os produtores.
A necessidade de atender às cobranças dos ambientalistas, dos consumidores e ainda assim conseguir gerar renda com a atividade está cada vez mais presente no dia-a-dia dos agricultores. É um longo caminho a ser seguido.
As exigências do atual código florestal brasileiro são motivo de discussão em todo o país. Em Mato Grosso, a polêmica questão não sai da cabeça dos agricultores. No Estado que foi responsável por mais de 30% de toda a soja produzida no Brasil na última safra, o setor alerta: caso não haja mudanças no código, a atividade se tornará completamente inviável.
Em algumas regiões de Mato Grosso, é obrigatória a preservação de 80% da área total da propriedade. Para o agricultor José Rezende, algo impraticável. Ele tem uma área de 2,6 mil hectares em Querência, região leste do Estado. Metade da área é destinada à produção de grãos e o restante compõe a reserva legal. Como o município integra a chamada Amazônia Legal, o cultivo só pode ser feito em 20% do terreno, o que deixa o produtor em débito com as exigências ambientais.
Para atender os mercados mais exigentes será preciso ficar em dia com o meio ambiente.
— Hoje, toda a questão ambiental no Brasil é tratada no termo chamado de comando de controle. O pessoal do governo acredita que multas, perseguições, moratórias e outras coisas mais são o que vão trazer o produtor para a legalização. Nós achamos que não é verdade. Nós achamos que, quando o Brasil, com outros Estados também, não só o Mato Grosso, receber benefícios pela preservação acima do que nós fazemos em relação a outros países produtores, isso vai trazer sim os produtores para a legalização — defende o presidente da Comissão de Sustentabilidade da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), um dos grandes reflexos do novo código florestal é a perda de competitividade dos produtores brasileiros, em relação aos de outros países. Uma das consequências poderá ser o comprometimento da atividade agropecuária.
— Olha, eu não sei até quando o produtor vai aguentar, agora o fato é que está muito difícil. O produtor brasileiro vem acumulando dívidas, ao contrário de outros produtores em outros países em que há um crescimento do ponto de vista financeiro, e nós não podemos mais continuar desta forma, com problemas de logística, com a questão ambiental não resolvida. O Congresso Nacional precisa chamar para si estas questões ambientais e aí sim, legislar de uma maneira inteligente para que preserve o meio ambiente, mas também contemple a produção, e no momento em que acontecer isso, o produtor terá tranquilidade para produzir — diz o presidente da Famato, Rui Prado.
Estimativas indicam que o consumo de alimentos no mundo vai crescer nos próximos 20 anos. Para atender a demanda, será preciso ampliar a produção. Caberá ao Estado que é símbolo da produção de soja no Brasil liderar este avanço sustentavelmente. O que para as lideranças do setor já começou a ser feito.
— Em função do crescimento da produção, vimos que nós crescemos a produção sem aumentar as áreas, e isso foi conseguido com tecnologia e equipamentos. Modernizando a produção, os produtores têm conseguido, e esta talvez seja uma das causas da repercussão, porque quando se aumenta a produção se pensa logo em desmatamento — diz o secretário de desenvolvimento rural de Mato Grosso (Seder-MT), Neldo Egon Weirich.
A pesquisa atua como uma grande ferramenta na produção cada vez mais sustentável. Um dos exemplos é o avanço do potencial produtivo das plantas, nos últimos anos, que permitiram um crescimento significativo da produção no Brasil.
— Para o futuro, a gente pode esperar realmente mais. Nós caminhamos para ter mais eficiência, aumentarmos esta velocidade de ganho de produtividade. Então, eu acredito que, como nós já temos lavoura produzindo em torno de 65 sacas por hectare, não é difícil nós imaginarmos que em um futuro breve a gente possa fechar a média do Estado não mais na faixa de 50,52, mas em um patamar indo para 55 até nós atingirmos 60 sacas por hectare de média — avalia o pesquisador da Fundação MT, Sérgio Suzuki.
A busca pela sustentabilidade estará à frente de qualquer decisão, e que além da preocupação com o clima, preços, colheita e escoamento dos grãos, o setor também precisa de atenção extra para algo que poderá definir os rumos da agricultura: a construção e a consolidação de uma boa imagem da atividade.
CANAL RURAL