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 | 30/05/2009 11h10min

Apicultura muda o cenário no sertão de Alagoas

Criadores de abelha comemoram alternativas que a atividade oferece na geração de renda e emprego

Em meio à caatinga do sertão nordestino, onde o sustento das famílias depende, basicamente, da agricultura ou pecuária, uma nova atividade tem despontado como alternativa para geração de emprego e renda entre os sertanejos: a apicultura. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2005 e 2007 a produção nacional de mel cresceu 7,2%.

A apicultura é uma das atividades econômicas mais rentáveis para o pequeno agricultor familiar. O apicultor não tem gastos com rações, pode capturar os enxames na própria natureza e ainda continuar desenvolvendo outras culturas, já que a apicultura não exige que o produtor esteja todos os dias trabalhando no manejo. Em geral, duas vezes ao mês é o suficiente.

Em Alagoas, atualmente, cerca de 800 pessoas se dedicam a apicultura, que a cada ano soma novos adeptos. A atividade tem ganhado tanta importância que dos 75 projetos coordenados pelo Sebrae no Estado, sete estão voltados ao desenvolvimento da apicultura.

E é no sertão de Alagoas que ela se destaca. A vegetação diversificada, composta por árvores de pequeno porte e o clima seco fazem da região um local propício para a produção de mel. De acordo com Alberto Brasil, gestor do Arranjo Produtivo Local Apicultura no Sertão, o potencial produtivo da região é o melhor se comparado as outras localidades do Estado. Segundo ele, enquanto na Zona da Mata uma colméia produz 30 quilos de mel por ano, no sertão, a produção chega aos 70 quilos.

De professora a apicultora

Dona Cícera Alves da Silva, conhecida como Cícera Cupira, é professora em Olho D’Água do Casado. Em 2003, fez um curso básico sobre apicultura e viu na atividade uma oportunidade de negócios. O primeiro desafio foi convencer ao marido de vender os dois bois que tinha para comprar dez caixas de abelha e começar a produção. Desde então não parou mais.

– Quando participei do curso me interessei logo, porque vi que poderia ganhar dinheiro de forma sustentável sem agredir ao meio ambiente. A apicultura é só construção, você não destrói nada – explicou Cícera.

No primeiro ano da produção, Cícera colheu sete quilos de mel e no segundo ano, já com 16 colméias, recolheu 980 uilos de mel. Parte da produção foi vendida de porta em porta e a outra, comercializada por meio da cooperativa, o que trouxe um retorno total de mais de R$ 7 mil. O lucro obtido com as abelhas é investido na compra em produtos apícolas como cera, colméias e fumegadores. Atualmente, a apicultora de 47 anos, mãe de nove filhos, conta com 44 colméias e construiu uma casa do mel em seu próprio terreno, com todo material necessário à produção e extração do mel.

Segundo ela, sua produção em 2008, bateu o recorde de mais de uma tonelada de mel e o dinheiro desta vez foi investido, entre outras coisas, em educação.

– Para mim, a apicultura foi uma bênção. Com ela, consegui realizar sonhos como comprar minha geladeira, ter uma ceia de Natal bonita, arrumar minha casa, e agora investir na minha formação enquanto professora. Pretendo trabalhar com apicultura até o dia em que eu morrer – finaliza animada a apicultora.

De acordo com técnicos do setor, quem deseja iniciar na atividade precisa investir aproximadamente R$ 6 mil e ter, no mínimo, 20 colméias.

Própolis Vermelha

De acordo com José Roberto Medeiros, engenheiro agrônomo da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Agrário (Seagri), a produção anual de mel em Alagoas chega a 150 toneladas, mas a meta para 2009/2010, é dobrar a produção.

– Até 2010, a intenção é produzir 300 toneladas de mel. Para produzir bem é preciso muita dedicação e comprometimento por parte dos produtores – disse José Roberto.

Mas além do mel, principal produto da apicultura, a produção de própolis vermelha vem ganhando espaço entre os produtores, por ter uma lucratividade superior aos demais derivados. Enquanto o quilo do mel é vendido por cerca de R$ 4, o da própolis pode ser comercializado por R$ 550.

Esse valioso alimento produzido nas colméias é uma mistura de substâncias resinosas coletados pelas abelhas de diferentes partes das plantas, utilizada para selar buracos e proteger a colméia. A própolis vermelha produzida em Alagoas é elaborada a partir da resina do Rabo-de-Bugiu, uma planta localizada próximo a manguezais. Apresenta propriedades antioxidante, antiinflamatória e antibiótica e por isso vem sendo procurada por indústrias de diversos países. No Japão, por exemplo, o produto brasileiro é utilizado em tratamento bucal, produção de solução de bochecho, balas, chocolates, cápsulas, entre outros.

De acordo com Rúbia Barbalho, coordenadora do Projeto Própolis Vermelha na Região Litorânea e Lagunar de Alagoas, coordenado pelo Sebrae/AL, com o projeto de Identificação Geográfica (IG) da própolis, que está em andamento, essa própolis passará a ser ainda mais valorizado.

– A Identificação Geográfica determina a origem da própolis (local, região ou país), bem como as características e qualidades. Já para os consumidores, a IG é um certificado de garantia de autenticidade, o que valoriza o produto/serviço no mercado, tornando mais competitivo e com maior valor agregado – explica Rúbia.

A IG servirá de base para normatizar a produção da própolis vermelha em Alagoas, definindo aspectos como padronização e a delimitação da área geográfica de produção. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) será o órgão responsável pela emissão do Certificado de Origem. Com o documento, a própolis vermelha alagoana passará a ter uma espécie de selo que atestará suas características e identidade, também tido como sinônimo de qualidade no exterior.

– Atualmente, apenas 35 apicultores estão produzindo própolis e por isso, a produção ainda é pequena chegando a 350 quilos por ano. Porém, novos produtores estão surgindo e outros que já são apicultores passam a aceitar a produção de própolis como mais uma alternativa. A intenção é que em 2010, nós possamos registrar uma tonelada de própolis vermelha – disse José Roberto Medeiros, engenheiro agrônomo da Seagri.

O Projeto Própolis Vermelha é coordenado pelo Sebrae/AL e visa estruturar a produção da própolis vermelha com foco na eficiência, sustentabilidade e acesso a novos mercados. O objetivo é fortalecer as associações ligadas à atividade e melhorar a qualidade do produto. Entre as ações do projeto, que conta com outras instituições parceiras, estão pesquisa, acesso a novos mercados e ao crédito, conhecimento em gestão e capacitação.

Para 2009, estão previstos investimentos de mais de R$ 160 mil para a estruturação e fortalecimento da produção de própolis no Estado, por meio do projeto Própolis Vermelha na Região Litorânea e Lagunar de Alagoas.

SEBRAE

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