| 19/04/2009 08h51min
Um dos fatores que mais atrapalhou a economia brasileira nos últimos meses foi a instabilidade do real. Sem uma cotação firme, as empresas não conseguiam planejar e muitas se viram forçadas a sentar na produção, à espera de um cenário mais previsível. Nas últimas semanas, com a relativa estabilidade do dólar ao redor de R$ 2,20, criou-se um ambiente mais favorável para as empresas que têm negócios vinculados à moeda americana. As que mais tiram proveito são as que dependem de importação.
A fabricante de meias e lingerie Lupo viu nesse nível do dólar uma oportunidade para antecipar a aquisição de máquinas importadas da Itália, no valor de US$ 6,5 milhões, que inicialmente estava prevista para ocorrer no fim do ano.
— O dólar estável facilita principalmente os pagamentos futuros, que é o que importa — diz Valquirio Cabral Jr., diretor comercial da empresa.
Com as novas máquinas, a Lupo vai aumentar em 25% a capacidade de produção de lingerie,
que hoje é de 700 mil peças por dia, e
em 7% a fabricação de meias (8 mil pares por dia). Além do câmbio mais estável, pesou na decisão a demanda aquecida no mercado doméstico.
— Nunca vendemos tanto para um inverno como agora — diz Cabral.
— Só em março, o crescimento foi de 31% em relação a igual período de 2008.
Para o empresário Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, a trajetória recente da taxa de câmbio se reflete de forma positiva no cotidiano de muitas empresas e traz alívio para segmentos voltados para o mercado interno que dependem da matérias-primas e insumos importados, como é o caso do setor moageiro. Hoje, o Moinho Pacífico importa 80% de todo o trigo que processa, vindos preferencialmente da Argentina.
— A economia brasileira está indo bem em comparação com o resto do mundo e a nossa moeda deverá se fortalecer em relação ao dólar — diz Pih.
Ele projeta para o segundo semestre a cotação do dólar em R$ 2,00.
— Esse cenário facilita muito o nosso planejamento de médio e
longo prazos.
O dólar fechou a semana passada em R$ 2,19. Em agosto, antes da crise, estava em R$ 1,50. Em dezembro, chegou a bater em R$ 2,50. Para as empresas, planejar em dólar é importante porque permite definir preços de forma que seus produtos sejam competitivos para exportação ou venda no mercado interno. Tudo o que elas não querem é um câmbio instável. No caso das que dependem de insumos e matérias-primas importadas, o problema em períodos de câmbio volátil é não saber, por exemplo, se estão comprando os produtos por R$ 2,15 ou R$ 2,30.