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 | 21/11/2008 06h57min

Em dois meses, indústria calçadista demite 4,2 mil pessoas no Rio Grande do Sul

Quase 41% das 10,3 mil demissões de 2008 foram feitas entre o final de setembro e novembro

Carla Dutra  |  carla.dutra@zerohora.com.br

Desde o agravamento da crise mundial, nos últimos dois meses, 4,2 mil pessoas foram demitidas nas fábricas de calçados no Rio Grande do Sul. Quase 41% das 10,3 mil demissões de 2008 foram feitas entre o final de setembro e novembro.

Em 2007, quando mais de 5,5 mil pessoas perderam suas vagas em conseqüência do fechamento da Reichert, apenas 9,5%, ou seja, 1,8 mil dos 18.950 desligamentos foram registrados em igual período. Os sintomas ficaram ainda mais evidentes nesta semana com o fechamento de unidades de duas empresas tradicionais no Estado – Dakota, em Bom Retiro do Sul, e Vulcabras/Azaléia, em Portão.

– O que nos preocupa é que os desligamentos ocorridos de outubro para cá não são comuns para a época que antecede o Natal – diz o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados e Vestuário do Rio Grande do Sul, João Nadir Pires.

Atualmente, entre 20% e 25% da produção brasileira de calçados é voltada ao mercado externo. O país fabrica cerca de 800 milhões de pares e exporta anualmente de 170 milhões a 200 milhões. Entre janeiro e outubro deste ano o volume de pares enviados ao Exterior caiu para 139,9 milhões – ante 149,1 milhões no mesmo período do ano passado.A redução no faturamento também ocorreu, passando de US$ 1,61 bilhão para US$ 1,6 bilhão.

De acordo com os dados da federação, é nas empresas voltadas ao mercado externo que está a maioria das demissões dos últimos meses. Cerca de 70% das rescisões teriam ocorrido em exportadoras e 30% em empresas voltadas ao mercado interno. Na estatística, estão pelo menos 12 fábricas que foram fechadas, como a unidade da Dakota ou terceirizadas que prestam serviços a grandes empresas.

Entre as explicações está a alta dos insumos, impulsionada pela rápida valorização do dólar, aliada à redução de crédito e do mercado consumidor. Exportadores também argumentam que mantinham contratos com dólar prefixado. Ou seja, a valorização da moeda não teria se refletido em aumento no preço do produto exportado.

Na avaliação de Pires, os funcionários demitidos nos últimos meses não serão recolocados no mercado antes de março. Mais otimista, João Batista Xavier da Silva, presidente de outra entidade que congrega sindicatos da categoria, a Federação Democrática dos Trabalhadores na Indústria do Calçado no Rio Grande do Sul, acredita que, à exceção de casos pontuais, a rotatividade ainda será mantida.

– Não considero que o momento seja de alarde – pondera.

Governo pode ampliar o seguro-desemprego

Opinião semelhante tem o consultor da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Enio Klein. Para ele, apesar das demissões, não há motivos para pânico:

– A situação está mais difícil, mas não desesperadora. Temos um mercado interno bastante favorável. Mas, se o Brasil não crescer no próximo ano, o consumo de calçados cairá.

A desaceleração no mercado formal de trabalho também começa a ser percebida em outros setores. Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem, outubro registrou a geração de apenas 61.401 vagas no país, o menor resultado para o período desde 2002. Em relação, a setembro, quando foram abertas 272.841 vagas, a queda foi de 77%.

Ao divulgar os dados, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, informou que o governo poderá ampliar o seguro-desemprego, atendendo pedido de centrais sindicais. Mas ainda seria preciso comprovar uma situação de risco para os trabalhadores por causa da crise.

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