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 | 02/10/2008 19h30min

Produtores de Mato Grosso do Sul pedem mudanças no acesso ao crédito

Segundo o setor, pacote de R$ 5 bilhões não deve melhorar o cenário

Luiz Patroni, Campo Grande (MS)  |  reportagem@canalrural.com.br

O pacote de R$ 5 bilhões anunciado pelo governo federal nesta quarta, dia 1º, como uma medida para evitar uma crise de crédito na agricultura não deve melhorar o atual cenário de descapitalização do setor. É a avaliação da classe produtora de Mato Grosso do Sul, para a qual não adianta anunciar recursos se não houver alterações significativas no acesso restrito ao crédito agrícola.

A uma semana do início do plantio, o produtor Jaime Basso ainda não sabe de onde virão os recursos necessários para custear os oito mil hectares de soja que planta. A única certeza, por enquanto, é que os créditos oficiais, com tachas de juros bem abaixo das cobradas no mercado, vão garantir o plantio de apenas 10% da área total, reflexo do aumento dos custos de produção e principalmente da restrição do acesso ao crédito de custeio. Como o produtor tem dívidas renegociadas com o banco, o limite para empréstimo ficou quase 50% menor.

– Com essa restrição ao crédito, é difícil conseguir plantar apenas com os recursos de custeio financiados pelo governo federal – diz o sojicultor.

De acordo com os agentes financeiros, prorrogar as dívidas significa entrar para a chamada lista de risco de pagamento, onde a conseqüência é a restrição no acesso ao crédito.

– O Banco do Brasil pensa como qualquer outra empresa financeira, analisando todos os riscos de emprestar crédito – explica o gerente de Agronegócio da instituição em Mato Grosso do Sul, Loreno Budke.

Em função disso, a classe produtora reagiu com desconfiança ao anúncio da liberação do pacote de R$ 5 bilhões para o setor.

– É preciso explicar bem que este recurso não está sendo antecipado, como falou o ministro [Guido Mantega, da Fazenda], e sim atrasado. E que dificilmente irá chegar às mãos do produtor, já que há muita restrição de crédito – diz o presidente do Sindicato Rural de Maracajú, Luis Alberto Novaes.

A insuficiência do crédito oficial já não é mais uma surpresa para os agricultores. Mas na avaliação do setor, a situação pode ter um impacto maior nesta safra, já que a crise econômica internacional atingiu em cheio as principais fontes alternativas de recursos para a classe produtora: as tradings e as multinacionais, que também estão reduzindo a oferta de crédito.

Em Mato Grosso, maior produtor de soja do país, a estimativa é de que o déficit no volume de recursos para custear a safra chegue aos R$ 2 bilhões. Já em Mato Grosso do Sul, a escassez não deve ser tão expressiva, mas também é uma ameaça ao desempenho da safra 2008/2009.

– São prováveis conseqüências dessa descapitalização a redução no uso de tecnologia, a redução da área plantada e também da produtividade das lavouras – diz Novaes.

Diante dos riscos e da possibilidade de reflexos negativos para o futuro do setor, as lideranças do agronegócio apresentam caminhos que poderiam ao menos mudar o clima de apreensão entre os produtores, e amenizar a dificuldade de acesso aos recursos oficiais.

– O primeiro passo poderia ser a criação de uma nova fonte de recursos oficiais que atue com o mesmo poder do Banco do Brasil, hoje inflado, o que acaba prejudicando a viabilidade e a agilidade necessárias para atender à classe produtora – sugere o vice-presidente da Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel.

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