| 01/10/2008 10h03min
Depois da surpreendente rejeição ao pacote de socorro ao mercado financeiro proposto pelo governo dos Estados Unidos, uma versão modificada da proposta deverá ser votada pelos senadores ainda nesta quarta, dia 1º. O novo plano inclui cláusulas sobre reduções tributárias e de elevação dos limites de depósitos garantidos pela Corporação Federal de Seguros e Depósitos, de US$ 100 mil para US$ 250 mil.
Pressões dos dois principais candidatos à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama e John McCain, contribuíram para as mudanças. A medida é vista como um gesto de proteção aos contribuintes e um agrado para os congressistas. Obama e McCain devem participar da votação no Senado.
A expectativa é de que os senadores dêem sinal verde para o plano. Depois ele deve ser votado pela Câmara. Considerado impopular pelos eleitores americanos, o socorro aos bancos é visto apenas como ajuda aos banqueiros. Mas o presidente George W. Bush avaliou que a situação é grave e que, se medidas não forem tomadas com urgência, a crise será duradoura.
Apesar da gravidade da situação, o fato dos Estados Unidos estarem em período eleitoral e a impopularidade da medida foram determinantes para que a Câmara rejeitasse a primeira versão do pacote, avaliou o analista financeiro Miguel Daoud, comentarista do Canal Rural.
– Como o voto é distrital e 70% da população americana é contra esse pacote, os deputado, principalmente na base do governo, não votaram – disse ele ao Agribusiness.
Daoud acredita que, com a ampliação da margem de depósitos garantidos (valor que o governo garante ser ressarcido aos correntistas no caso de um banco falir), o pacote tem mais chances de passar. Não é uma segurança de que o mercado financeiro ficará menos turbulento, mas, pelo menos, dá um piso, como explicou o analista.
– O que os investidores estão apreensivos é com risco sistêmico no sistema financeiro. Mas há um forte desejo dos governos, dos Bancos Centrais, em evitar que isso ocorra. Tanto que, na Europa, nos últimos dias, mais de cinco bancos foram socorridos. Agora, é uma crise gravíssima que vai exigir muita atenção por parte dos governos.
Por outro lado, Miguel Daoud ressalta que o principal objetivo do pacote é evitar o chamado efeito manada sobre o mercado financeiro, ou seja, que muito investidores passem a deixar suas posições de forma desenfreada.
– O atropelo mata mais que a causa. O objetivo é evitar o atropelo para que o mercado volte a se estabilizar. É uma crise financeira. Conseqüentemente, a parte econômica já vem sendo atingida.
Para o mercado financeiro no Brasil, a conseqüência mais evidente da crise, segundo Daoud, é a fuga dos investidores do negócios em bolsa de valores. Muitos deles levam até mesmo anos para voltar.
– A estratégia é não sair da bolsa. Mas isso é muito difícil. Ele (investidor) vê o dinheiro dele lá, diariamente sua posição cair. Quer comprar uma coisa e não pode, quer fazer uma coisa e não pode porque está perdendo na bolsa. A sensação de riqueza acaba retraindo o consumo e a economia começa a desaquecer.
CANAL RURAL