| 29/09/2008 06h54min
Com a crise na economia americana, várias expressões, antes só conhecidas no mercado financeiro, passaram a ser pronunciadas com freqüência nos veículos de comunicação, ingressando na vida de toda a sociedade. Confira as palavras-chave do vocabulário da crise financeira mundial:
Alavancagem: é a relação entre empréstimos e o patrimônio dos bancos. Uma das causas da atual crise foi a elevada alavancagem de bancos não submetidos a controles rígidos, como no Brasil. Se um banco tem um patrimônio de US$ 10 bilhões e faz aplicações (fundos, empréstimos, compra de títulos) de US$ 300 bilhões, a alavancagem dessa instituição é de 30 por 1. O limite, pelo Acordo de Basiléia, convenção que rege a atuação bancária no mundo todo, é de 12 por 1. No entanto, em vários bancos americanos, a alavancagem superava a relação de 30 por 1.
Bailout (pronuncia-se bêilaut): palavra em inglês que representa o socorro financeiro dado pelo governo a empresas ou setores falidos. O vocábulo se origina na ejeção do assento dos pilotos de caça quando o avião é abatido.
Banco comercial: capta dinheiro de clientes que podem aplicar, a taxas mais baixas, e empresta, a taxas superiores, para quem precisa. Financia pessoas e empresas nos setores de comércio, indústria, prestação de serviços. São regidos pelo Acordo de Basiléia. Nos EUA, são sujeitos a maior regulação.
Banco de investimento: tem foco em administração de recursos de terceiros, financiamento da atividade produtiva (capital de giro e de investimentos) e operações temporárias de participação societária. Nos EUA, estavam apenas sujeitos à fiscalização da SEC (ver verbete abaixo).
Circuit breaker (pronuncia-se circuit brêiquer): é um mecanismo de controle do pânico nas bolsas de valores. Quando a variação dos índices supera determinados limites de alta ou de baixa, as negociações são interrompidas. No caso da Bolsa de São Paulo, o pregão pára quando seu índice mais importante, o Ibovespa, atinge os 10% — de alta ou de baixa. Primeiro, a paralisação é feita por 30 minutos. Os negócios são retomados, mas, se a queda persistir e chegar a 15%, há nova interrupção, por uma hora.
Derivativos: instrumentos financeiros criados com a finalidade de diluir o risco dos investidores. Por exemplo: se alguém vende ações à vista, pode comprar opções no mercado futuro para se proteger da possibilidade de que os papéis subam depois de feita a operação. Ao longo do tempo, nos EUA, esses mecanismos foram se sofisticando e se complicando a tal ponto que houve perda de controle sobre o volume das operações.
Fed Federal Reserve: o banco central dos Estados Unidos, responsável pela formulação e execução das políticas monetárias e regulamentação e supervisão dos bancos. Tem 12 divisões regionais: Atlanta, Boston, Chicago, Cleveland, Dallas, Kansas City, Minneapolis, Nova York, Filadélfia, Richmond, São Francisco e Saint Louis. Cada um tem uma função. As injeções de dinheiro no sistema financeiro são responsabilidade do Fed de Nova York.
FDIC: sigla em inglês para Federal Deposit Insurance Corporation, uma agência independente, criada pelo Congresso, que supervisiona o sistema bancário, podendo assumir o controle de instituições bancárias para, depois, revendê-lo a outras empresas. Tem um fundo de reserva para garantir os depósitos em caso de quebra do banco.
Hedge funds: em português seriam "fundos de proteção". Aplicam em qualquer tipo de ativo, como ação, câmbio, renda fixa e derivativos (contratos que fixam o preço para compra ou venda de um contrato numa data futura). A idéia original do nome era fazer operações variadas, para reduzir riscos de perdas, mas se transformaram em instrumento de especulação, explorando todo tipo de derivativos.
Hipotecas subprime: são as hipotecas de alto risco nos Estados Unidos, financiamentos imobiliários concedidos a clientes que não têm boa avaliação de crédito. As hipotecas servem para financiar a compra de casas, tendo o próprio imóvel como garantia do empréstimo. Quando o cliente não consegue pagar, a casa é facilmente retomada. Nos EUA, hipotecas se transformaram em instrumento de financiamento do consumo — havia imóveis com duas ou três hipotecas.
Liquidez: capacidade de determinada aplicação ou bem ser convertida rapidamente em dinheiro, também define a capacidade de circulação de dinheiro na economia. As últimas semanas foram marcadas por uma crise de liquidez: a troca de recursos entre bancos e entre bancos e seus clientes diminuiu muito. As injeções de recursos dos bancos centrais são uma tentativa de combater a falta de liquidez no sistema financeiro.
SEC: sigla em inglês para Securities and Exchange Commission, o órgão que fiscaliza e regulamenta o mercado de capitais (que negocia ações) americano. É equivalente, no
Brasil, à Comissão de Valores Mobiliários
(CVM).
Securitização: outra palavra que está na raiz da crise, vem de securities (títulos, em inglês), porque designa a emissão de papéis que tem garantia em pagamentos a receber. Alguém que tem direitos a receber "vende" títulos que representam esse direito com desconto sobre o valor total, para ganhar o dinheiro mais rápido. Quem aceita esperar mais fica com o risco de que as dívidas não sejam honradas. No Brasil, também são conhecidos como "recebíveis", mas representam uma parte muito menor do mercado.
ZERO HORA