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 | 18/07/2008 03h18min

A polêmica dos peões se espalha pelo Pampa

Medida que proíbe que os peões durmam junto aos animais na Expointer é discutida

Patrícia Meira  |  patricia.meira@zerohora.com.br

Cresceu a polêmica sobre a decisão do Ministério do Trabalho de exigir que os peões não durmam junto aos animais na Expointer a partir deste ano. Antes mesmo de oficializada, a medida ocorreu ontem como um rastilho de pólvora pelo interior do Estado

O assunto divide opiniões. Quem participa de exposições locais ou pelo país argumenta que a prática é a mesma na Expolondrina, no Paraná, onde tratadores dormem em barracas ao lado dos pavilhões de animais. No caso da Feicorte, em São Paulo, há dormitórios, mas são insuficientes.

Uma vez por ano, o peão Altair Dias Pinheiro, 44 anos, troca sua casa, na Estância Cambuí, em Capão do Leão, pelo parque Assis Brasil, em Esteio, para apresentar na exposição os cavalos crioulos do criador Bernardo Falson. Acostumado com a vida nos galpões, Pinheiro admite não gostar da idéia de ser obrigado a trocar a cama de campanha por um quarto de hotel.

Para Adão Ávila, de Pelotas, criador de gado jersey acostumado a ficar com os seus animais durante as exposições, a imposição pode se transformar num problema:

— Se um animal adoecer? Como deixar um leigo cuidar disso? É preciso que alguém acostumado a lidar com o animal esteja por perto.

Mas o médico Iseu Milman alerta que qualquer trabalhador, seja rural ou não, precisa de condições mínimas de conforto, higiene e segurança. Segundo o especialista em medicina do trabalho, dormir em colchões inadequados, num lugar onde há constante movimento, o que afeta a qualidade do sono, pode causar dores no corpo, cansaço, déficit de atenção e irritação acentuada.

— Depende muito da pessoa. As habituadas até suportam essas condições, mas isso não é o ideal. Existem normas regulamentadoras rurais a ser cumpridas — reforçou Milman.

O presidente da Comissão Executiva da Expointer 2008, Antônio Alves, estranha que justamente agora o ministério tenha resolvido impor restrições aos alojamentos:

— Eles não sabem o que estão falando, isto é cultural. Este ano, todo mundo, em especial órgãos regulatórios, quer vitrina e marketing.

Reunião na terça-feira definirá novos passos

O Estado espera ser chamado pelo ministério para discutir o que pode ser feito. Surpreso, Alves disse que o Estado vinha negociando com o Ministério Público do Trabalho, mas no sentido de exigir das empresas que fazem limpeza, vigilância e recepção durante a mostra, no parque Assis Brasil, em Esteio, tenham rígidos controles do trabalho infantil.

O superintendente regional do Ministério do Trabalho, Heron de Oliveira, explicou que a motivação para as ações baseia-se em tentativas frustradas de eliminar os problemas. E acrescentou que as ações incluem repressão ao trabalho de menores de 16 anos. Uma reunião na próxima terça-feira com auditores definirá quando os promotores da exposição serão chamados para conversar.

Duda Pinto / 

Para o tratador Ildo das Trevas Cabreiro, a medida é inviável: "Em vez de retirarem os peões, deveriam melhorar as condições dos pavilhões, que não são boas"
Foto:  Duda Pinto


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