| 17/07/2008 18h20min
O preço do pão, um dos primeiros vilões a pressionar a alta dos preços e a elevação crescente da inflação, deve sofrer uma redução de 4% neste ano. A previsão é do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral.
Segundo ele, os preços ainda não baixaram porque as medidas adotadas pelo governo, de desoneração tributária e a redução a zero da tarifa de importação — o que permitiu comprar o cereal proveniente dos Estados Unidos e do Canadá — ainda não produziram o efeito final para o consumidor.
Amaral afirmou que as padarias, quando as medidas foram anunciadas, trabalhavam com estoques, comprados a preços anteriores às mudanças. Como resultado dessas medidas, a farinha de trigo baixou entre 10% e 12%.
— Os pães também estão baixando de preço — disse.
Trigo
O presidente da Abitrigo lembrou ainda que a produção brasileira de trigo está aumentando.
Segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), a produção do cereal aumentou em 65,3%, em 2007, na comparação com o ano anterior, com um volume de 4,1 milhões de toneladas.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que a produção de trigo aumentou 71% na safra 2007/08, em comparação à anterior, com um volume de 3,8 milhões de toneladas.
Para a próxima safra, que está no fim do plantio, a estimativa da Conab é de crescimento de mais 35%, atingindo 5,3 milhões de toneladas.
A quantidade, no entanto, não é suficiente para atender o consumo interno do grão, que é de 10,2 milhões de toneladas por ano.
Entretanto, para Amaral, o Brasil não deve ter a preocupação de se tornar auto-suficiente na produção de trigo, mas sim, de melhorar a qualidade e a quantidade da produção.
— A idéia não é nos concentramos em termos auto-suficiência em todos os campos. Devemos nos concentrar naquilo que somos os melhores —
opinou.
Amaral explicou a importância da importação de
trigo pelo Brasil, que é garantir o abastecimento.
— A Argentina, nesse momento, não tem a capacidade para exportar o que tinha prometido. Não podemos correr o risco do desabastecimento — observou.
Por isso, o presidente da Abitrigo defende que se mantenha a redução das alíquotas de importação para permitir a compra do grão produzido em outros países.
O presidente da Abitrigo disse que a entidade quer que o governo mantenha a suspensão do adicional de frete para o Fundo de Renovação da Marinha Mercante, tributação retirada por um período de seis meses, até novembro.
— Seria bom que fosse mantido porque, se voltar, evidentemente vai ter um peso sobre os preços — afirmou.
Transporte
Amaral defendeu ainda que se avalie a possibilidade de reduzir o adicional do transporte de cabotagem, que é feito na costa brasileira.
— Porque sai mais barato
exportar trigo de Buenos Aires para o Ceará, do que vender o trigo do Rio Grande do Sul para o
Ceará, porque o nosso transporte de cabotagem é muito caro — explicou.
Para ele, os benefícios previstos na Política Industrial para estimular a Marinha Mercante brasileira são suficientes, não sendo necessário o adicional de frete:
— É muito razoável que se tire esse adicional de frete porque ele só faz encarecer o comércio dentro do Brasil e, certamente, é uma fonte de inflação.
Nesta semana, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, criticou a eficiência da Marinha Mercante e a cobrança do adicional de 25% do frete no preço da importação.
Amaral lembrou que a alta do preço do trigo foi influenciada pelo mercado internacional e pelas incertezas em relação à importação do produto da Argentina. Atualmente, o Brasil depende das importações para abastecer o mercado interno.
Hoje, Amaral reuniu-se com os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Reinhold Stephanes, para pedir que as medidas
de desoneração sejam mantidas.
— E com isso, o setor quer dar uma contribuição ao esforço de todos para combater a inflação e para impedir que o pão volte a ter um outro aumento — argumentou.
Amaral também comentou sobre a decisão do Senado argentino de não aprovar projeto de lei que aumenta os impostos cobrados para exportação de grãos:
— Isso mostra uma divisão grande no governo, mostra que continuará a haver uma grande incerteza do fornecimento de trigo pela Argentina ao Brasil. Quando não há previsibilidade no abastecimento, evidentemente há uma pressão sobre preços.
O presidente da Abitrigo disse ainda que o empresariado do setor está buscando uma integração da cadeia produtiva para "antever as dificuldades, tomar providências para evitar os problemas, aumentar a eficiência, reduzir preços e melhorar a qualidade dos produtos".