| 27/05/2008 03h56min
O depoimento de Lair Ferst, entre a tarde de segunda-feira e a madrugada de hoje, foi o mais longo da CPI do Detran. A sessão começou por volta das 14h30min e terminou às 2h37min. Foram cerca de 10 horas em que o consultor de empresas esteve à disposição dos parlamentares. Minutos antes de encerrar a sessão, Ferst declarou algumas vezes a expressão "nada a declarar", em protesto contra tempo de duração da sessão. No início, ele havia explicado o motivo dos habeas corpus pedidos ao Tribunal de Justiça e ao Superior Tribunal de Justiça requerendo limitação de tempo de seu depoimento:
— Todo ser humano tem limite.
Apesar de negar ser proprietário das empresas Newmark Tecnologia e Rio Del Sur, contratadas para prestar serviços ao Detran, o consultor e lobista admitiu que tinha poderes para atuar como procurador dessas empresas. Ferst negou que suas irmãs, Elci Terezinha Ferst e Rosana Ferst , sócias das terceirizadas, seriam laranjas.
— O que
caracteriza um laranja é bem diferente do que
ocorreu na Newmark e na Rio Del Sur. A gestão delas era exercida pelo sócios proprietários. Quem assinava pelas empresas eram elas — afirmou Ferst.
O consultor afirmou ter tido procuração para responder pelas empresas na ausência de um dos sócios, mas que teriam sido revogadas em 26 de abril de 2004.
— Eu poderia ter praticado esses fatos, mas não os pratiquei — afirmou Ferst, que disse ser a Newmark e a Rio Del Sur "o motivo central " de seu indiciamento e denúncia pelo Ministério Público Federal.
Denunciados
Suspeito de ser o lobista que intermediou a contratação irregular de sistemistas pela Fatec, de 2003 a 2007, Ferst disse conhecer a maioria dos 44 denunciados, especialmente o ex-presidente do Detran Carlos Ubiratan dos Santos, o ex-diretor da CEEE Antônio Dorneu Maciel e membros da família Fernandes, sócios da Pensant Consultores.
— Nunca tive relações pessoais com qualquer
um dos indiciados, a não ser com os familiares. Só tenho uma maior
relação com o Ubiratan, com quem tenho amizade de 30 anos.
Assim como havia afirmado em entrevista a Zero Hora publicada ontem, Ferst disse não ter sido arrecadador de campanha de Yeda Crusius ao governo do Estado. Afastado do PSDB desde que foi deflagrada a Operação Rodin, Ferst manteve a versão de que não tinha intimidade com a governadora.
Intermediação
Responsável por intermediar a contratação da Fatec pelo Detran em junho de 2003, Ferst também reconheceu ter aproximado a Newmark e Rio Del Sur à Fatec e reafirmou que essas empresas "se adequaram para prestar serviços à fundação". Alegou, entretanto, que Ubiratan não tinha conhecimento da prestação de serviços dessas empresas à Fatec. Conforme o Ministério Público de Contas, dos R$ 44 milhões desviados do Detran, R$ 21 milhões teriam sido pagos às empresas da família Ferst. O lobista desafiou os deputados a encontrar testemunhas que mostrariam ter sido ele
arrecadador de campanha, e disse estar disposto a abrir
mão do sigilo telefônico.
Questionado pelo deputado Paulo Azeredo (PDT) sobre supostas ligações empresariais e financeiras no Uruguai, Ferst reconheceu que sua mãe, Decila Gabriel Ferst, em 2001 e 2002 foi sócia do uruguaio Ricardo Ulisses Clivio Sosa na empresa Riesur Engenharia Ltda., que, posteriormente, teria originado a Rio Del Sur. Ferst tinha procuração para assinar em nome da mãe, cuja empresa teria atuado no ramo de telecomunicações no Uruguai e no Brasil.
Para Azeredo, o fato de Decila também ter sido sócia de uma empresa que tinha o filho como procurador seria mais um indicativo de que Ferst era o verdadeiro operador das empresas.