| 10/04/2008 17h01min
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, delineou nesta quinta-feira um panorama complicado para a economia mundial e mencionou uma desaceleração generalizada acompanhada de inflação.
Em entrevista coletiva prévia à assembléia conjunta entre FMI e Banco Mundial, Strauss-Kahn alertou que a freada brusca que a economia mundial experimentará neste ano espantaria qualquer temor de uma alta de preços em outras circunstâncias — mas não será assim desta vez.
Segundo ele, "a inflação pode ter voltado" ao mundo pela alta dos preços dos alimentos e da energia. As regiões mais afetadas por esta conjuntura são o continente africano e países como Haiti, Mongólia e Afeganistão.
À parte do drama humano, do qual o Banco Mundial se ocupa mais diretamente, Strauss-Kahn enfatizou que a alta dos alimentos — que soma 48% desde o final de 2006 — causou graves prejuízos macroeconômicos.
Para grande parte da
África, a alta desses preços representará uma piora
de mais de 1% de seu setor externo entre 2007 e 2008, impacto que o chefe do FMI considerou "gigante", dizendo que "é provavelmente maior do que a maioria dos choques (econômicos) do passado".
Na Europa, as contas da maioria dos países sofrerão uma deterioração de menos de 1% por este motivo, enquanto que grandes exportadores como Brasil, Argentina, Estados Unidos, Rússia e Austrália ganharão.
Bolívia e Paraguai também se beneficiarão, enquanto que o resto da América Latina se verá "moderadamente" prejudicado.
Strauss-Kahn atribuiu a alta dos preços dos alimentos em grande parte ao aumento dos cultivos para biocombustíveis e recomendou eliminar as barreiras que restringem o crescimento do fornecimento de alimentos.
Além da inflação, ele lembrou também do arrefecimento das economias de alguns países desenvolvidos, particularmente os Estados Unidos.
Segundo dados do FMI, o mundo deixará para trás o crescimento
de 4,9% registrado em 2007 para ficar em 3,7% neste ano.
Esse número se aproxima perigosamente dos 3%, cifra considerada pelo órgão financeiro como "equivalente" a uma recessão mundial.
Em entrevista à Agência Efe, Subir Lall, coordenador do relatório de previsões econômicas do FMI, afirmou que esta taxa implicaria em uma retração em países desenvolvidos importantes e uma desaceleração em nações de alto crescimento, como China e Índia.
Juros
De acordo com o Fundo, a inflação nos EUA e na zona do euro está acima das metas oficiais, mas em ambos os casos as autoridades monetárias têm espaço para cortar os juros.
No entanto, o Banco Central Europeu (BCE) não atendeu a estas explicações e manteve nesta quinta-feira sua taxa básica de juros.
Strauss-Kahn reconheceu que os mercados emergentes suportaram bem a crise até agora, mas ressaltou que "não são imunes" a ela.
O diretor-gerente alertou para o risco de "uma
parada súbita ou, pelo menos, uma redução drástica" dos fluxos de capitais rumo a países
em desenvolvimento, o que afetaria em particular às nações que dependem mais do dinheiro externo para seu financiamento.
— Há muita preocupação com o que está ocorrendo nos países emergentes da Europa Central — declarou Strauss-Kahn, em referência à República Checa, Hungria, Polônia e Eslováquia, que têm grandes déficits.
O chefe do FMI afirmou que a captação de recursos externos por parte das empresas de países em desenvolvimento "quase entrou em colapso" no primeiro trimestre deste ano, comparado com os três primeiros meses de 2007.
Ele também refletiu sobre as lições da crise financeira. Segundo Strauss-Kahn, os bancos centrais dos países industrializados devem elaborar "uma forma padrão de intervir" nos mercados.
— É mais provável que o sinal enviado aos mercados seja entendido se diferentes bancos centrais mandarem o mesmo sinal, da mesma forma — afirmou.
Strauss-Kahn recomendou eliminar as barreiras que restringem o crescimento do fornecimento de alimentos
Foto:
Shawn Thew, EFE