| 08/04/2008 12h36min
O Fundo Monetário Internacional (FMI) declarou hoje que a crise financeira pode se intensificar, com novos prejuízos para os bancos que possuem valores nos Estados Unidos, onde as perdas potenciais chegam a quase US$ 1 trilhão, segundo seus cálculos. Só nos EUA, o Fundo estima que a redução nos preços dos imóveis e o aumento da inadimplência podem gerar perdas de até US$ 565 bilhões. Somados os prejuízos em juros de empréstimos, as perdas potenciais chegariam a US$ 945 bilhões.
Em relatório semestral sobre a estabilidade dos mercados financeiros divulgado hoje, o FMI não apontou nenhum sinal de "luz no fim do túnel". Pelo contrário, afirma acreditar que o ajuste pode continuar em
circunstâncias muito mais perigosas.
"Os
mercados financeiros permanecem sob uma tensão considerável, aguçada agora pela queda do entorno macroeconômico, pela capitalização deficiente das instituições e por uma desestabilização generalizada", afirma o relatório, que mostra que o crescimento econômico sentiu as turbulências financeiras, os bancos sentem falta de efetivo e o crédito evaporou.
O FMI fez um pedido aos governos para que atuem "imediatamente para abrandar os riscos de um ajuste ainda mais penoso", além de pedir para que exerçam uma supervisão mais intensa das contas dos bancos, e se mantenham preparados para intervir, caso necessário.
FMI teme retração mundial do crédito
O relatório destaca que a crise, que surgiu no mercado de créditos de alto risco (chamado de subprime), se estendeu às hipotecas de qualidade, aos créditos para consumo e às empresas, assim como os bancos fora dos EUA. O organismo teme que ocorra uma retração mundial do crédito, que
poderia levar os países industriais, onde os
preços dos imóveis estão altos em relação aos parâmetros fundamentais da economia ou onde os balanços das empresas ou famílias suportam mais pressão, a também ficarem expostos a riscos.
O FMI alertou que "a atual turbulência não é uma mera circunstância relacionada com a liquidez, mas sim um reflexo de fragilidades fundamentais nos balanços e de uma capitalização deficiente". Para o Fundo, "isso significa que os efeitos vão ser mais amplos, profundos e prolongados".
Outros bancos podem ser atingidos
A entidade fala também de uma "falha coletiva" no momento de estimar o nível de endividamento dos bancos. Segundo a instituição financeira, erraram as agências reguladoras, com o Federal Reserve (Fed, Banco Central americano) à frente, pois a supervisão financeira esteve "na retaguarda" dos novos produtos do mercado. Para o FMI, os bancos e os investidores assumiram riscos excessivos ao não medir adequadamente a qualidade
dos valores, e não manter reservas suficientes
para se proteger de uma crise de liquidez.
"Os grandes bancos adotaram uma atitude mais confiante e menos exigente em matéria de sistemas de gestão de risco. Eles confiaram na intervenção do banco central para resolver seus problemas", afirma o Fundo.
Foi isso o que ocorreu com o banco de investimentos Bear Stearns, para quem o Fed deu, em março, um financiamento de emergência para facilitar sua aquisição por parte da JP Morgan Chase. O Bear Stearns, quinto maior banco de investimento do país, esteve prestes a quebrar devido a seus investimentos em títulos vinculados a hipotecas americanas, onde a inadimplência e a moratória dispararam. Segundo o alerta feito hoje pelo FMI, no entanto, o banco pode não ser a última vítima.