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 | 04/04/2008 03h08min

Pesquisadora peruana desenvolve bioplástico a partir da quinoa

Grão originário de países andinos também pode ser cultivado no Brasil

Renata Maron  |  reportagem@canalrural.com.br

Um projeto desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas pela pesquisadora peruana Patricia Farro resultou em um filme biodegradável feito a partir de um grão de origem andina, a quinoa. Por enquanto a pequisa ainda não saiu do laboratório, mas a patente de alguns processos já está em andamento. 


O cultivo do grão de quinoa se concentra no berço andino formado por Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, mas no Brasil a Embrapa já está trabalhando no desenvolvimento de variedades adaptadas. A presença da planta na América do Sul levou Patrícia Farro a iniciar em 2003 a pesquisa intitulada "Utilização de filme a partir de grão de quinoa".
 
– Primeiro porque é uma matéria-prima própria da América do Sul. O segundo motivo é porque sou peruana e acho importante pesquisar diferentes matérias-primas que possam ser aplicadas na indústria de biomateriais – explica Patrícia.
 
Primeiro a pesquisadora avaliou seis variedades de quinoa que trouxe do Peru: cochamarca, amarillo de marangani, real, killawaman, blanca de junin e mantaro. Na análise de composição a quinoa real apresentou maior concentração de amido, com 72% do total – resultado excelente para a produção de bioplásticos, já que o amido é totalmente biodegradável. Depois Patrícia observou as características do amido de quinoa, da farinha obtida por extração úmida e da farinha integral para saber qual deles gerava um plástico com características semelhantes ao convencional. O filme feito a partir do amido teve o melhor resultado, oferecendo um produto resistente e transparente, podendo ser facilmente colorido.

– O produto de amido apresentou baixa solubilidade e boas propriedades de tração, ou propriedade de resistências mecânicas – detalha a pesquisadora.

Dependendo do tipo de embalagem a ser produzida, Patrícia não descarta os benefícios dos outros dois compostos.

– Os filmes de farinha integral apresentaram alta flexibilidade, embora pouca resistência mecânica. E o ponto intermediário entre os filmes de amido e os filmes de farinha integral foi apresentado pelos filmes de farinha de extração úmida.
 
Testes realizados no Laboratório de Engenharia de Processos da Universidade Estadual de Campinas comprovam que em apenas oito horas é possível transformar o grão em bioplástico. O primeiro passo é o processo de hidratação, onde o amido é misturado com água. Em seguida é feito o ajuste de PH, e depois a solução é colocada em banho maria até ficar com aspecto gelatinoso. Nesta fase a mistura recebe um plastificante, e então a solução é colocada em um suporte e o peso é verificado. O último passo é o descanso na estufa, de onde o plástico sai pronto.

A quinoa ainda é pouco conhecida e divulgada no Brasil, mas a pesquisadora acredita que o país tem tudo para dominar a tecnologia e desenvolver variedades do grão adaptadas ao solo brasileiro, garantindo o baixo custo de produção do bioplástico.
 
– Acredito que com o tempo o Brasil pode virar um dos maiores produtores deste grão, e com isso eles podem deter a tecnologia a ser aplicada em diferentes áreas, tanto na alimentícia quanto na de biomateriais. 
 
Depois de chegar à conclusão de que é possível produzir filme a partir da quinoa, o próximo passo é patentear alguns processos da pesquisa. Enquanto a Unicamp providencia os registro, Patrícia alimenta um sonho:
 
– Eu gostaria que a maioria dos pesquisadores do país se interessassem também em continuar com a área de biomateriais, em especial a quinoa. Se um país tem a tecnologia e o know how, ele tem quase 80% do valor do processo.
 
O projeto contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Capes, que forneceu uma bolsa de convênio bilateral entre o Brasíli e países da América Latina, e do CTYTED, um convênio de desenvolvimento tecnológico firmado entre países íbero-americanos e o Instituto Politécnico Nacional do México.

CANAL RURAL
Reprodução / 

Grão da quinoa apresenta alto teor de amido, o que o torna atraente para a produção de biomateriais
Foto:  Reprodução


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