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 | 16/10/2007 14h59min

Graziano diz que erradicação da fome é fundamental para coesão social

Especialista crê que América Latina passa por momento histórico

A América Latina está vivendo uma época de bonança econômica e tem uma oportunidade histórica de erradicar a fome, que aflige 52,4 milhões de pessoas na região, assegura o brasileiro José Graziano, diretor regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). A entidade celebra nesta terça o Dia Mundial da Alimentação.

– Estamos começando um novo ciclo com muito mais apoio político, com condições materiais e econômicas e sabemos como desenvolvê-lo – acrescentou Graziano, responsável da FAO para a América Latina e o Caribe.

O brasileiro, que situou o início do novo ciclo na região em 2005, disse que este ocorre em um contexto de crescimento econômico sustentável, com taxas de 5%, altos preços em exportações e responsabilidade fiscal.

– Agora é (tempo de) querer desenvolver (o novo ciclo), há recursos, há tecnologia, há disponibilidade e vontade nos países. Nesta celebração do Dia Mundial da Alimentação, a FAO está fazendo um apelo para que se ponha o pé no futuro – ressaltou Graziano, que advertiu que a erradicação da fome "é um direito humano básico e imprescindível para promover a coesão social", tema da próxima Cúpula Ibero-Americana no Chile.

– Não pode haver coesão social com fome. As sociedades que convivem com a fome não obtêm pactos sociais. Para a FAO, a fome deveria ser a primeira prioridade política e a primeira urgência rumo a uma maior coesão social e igualdade na América Latina – ressaltou.

Graziano acrescentou que a enorme desigualdade no acesso aos recursos naturais explica que mais de 52 milhões de latino-americanos não tenham garantidos direitos à alimentação. Segundo números das Nações Unidas, 852 milhões de pessoas no mundo têm dificuldades para alimentar-se adequadamente, das quais o 95% vivem nos países em desenvolvimento.

A desnutrição crônica infantil afeta 9 milhões de crianças na região, o que para Graziano "é preocupante e grave, já que uma criança que passa fome vai ser um incapacitado no futuro". Paradoxalmente, "esses indicadores são registrados em um contexto de produção de alimentos", indicou.

– A FAO estima que a região produz hoje muito mais do que o necessário para alimentar a sua população, concretamente 41% a mais que a necessidade básica de toda sua população. Isso mostra que não há uma razão para a fome, salvo a exclusão e a desigualdade, situação que afeta principalmente a indígenas, afrodescendentes, imigrantes e camponeses que têm terra mas não água – ressaltou.

No entanto, admitiu que está "otimista", pois a situação melhorou e os indicadores mostram um avanço significativo na redução da pobreza.

Graziano explicou que o crescimento econômico e das exportações estimularam a produção agropecuária e que países como Brasil, Argentina e Peru, que sofreram crises entre 2000 e 2004, recuperaram fortemente suas economias.

– Há um boom agrícola, mas isso não é suficiente, pois não há transferência aos bolsões de pobreza extrema, e por isso a FAO propõe o aproveitamento desse momento muito propício, marcado ainda pelo aparecimento de governos progressistas – declarou.

O responsável brasileiro da FAO indicou, além disso, que países como Brasil, Argentina e Chile, que impulsionaram programas bem-sucedidos de redução da pobreza, demonstraram que combater a fome não é só uma política social, mas também de desenvolvimento econômico.

– Resulta que combater a miséria extrema e a fome é lucrativo. Nossos números indicam que os prejuízos pela fome na América Central, por exemplo, chegam a 6% ou 7% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a erradicação da fome custaria só 2% – especificou.

AGÊNCIA EFE

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