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 | 10/10/2007 17h38min

Vencedores do Nobel pedem acordo internacional para revolução energética

Cientistas convocam países industrializados para acordo contra aquecimento global

Cinqüenta cientistas, dentre os quais 15 vencedores do prêmio Nobel, apresentaram nesta quarta, dia 10, um memorando no qual convocam todos os países industrializados a assinar um acordo internacional contra o aquecimento global, que abra caminho para uma "grande revolução energética".

O documento será entregue pelo diretor-geral do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), Rajendra Pachauri, à secretaria da Conferência sobre o Clima da ONU, que será realizada em dezembro, em Bali, na Indonésia.

No memorando, que resume dois dias de discussões sobre os efeitos do aquecimento global e as maneiras de suavizá-los, os Nobel (em sua maioria de Física e de Química) afirmaram que, caso não haja uma atuação rápida e global, "o mundo estará fadado ao apocalipse".

– O crescimento socioeconômico experimentado após a Segunda Guerra Mundial pôs nosso planeta em uma situação sem precedentes. A humanidade está atuando em escala planetária como uma força quase geológica e, se não tomarmos providências, os danos no sistema terrestre serão muito qualitativos e irreversíveis – diz o texto.

Os quinze laureados - entre eles o descobridor do buraco da camada de ozônio, o mexicano Mario Molina - concordaram que a única maneira de evitar essa situação é "reinventar o metabolismo industrial" e iniciar "um Plano Marshall mundial".

O Plano Marshall foi uma política elaborada pelos Estados Unidos e destinada à recuperação dos países da Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial.

– É preciso reduzir de forma drástica as emissões de gases que provocam o efeito estufa, e isso requer uma mudança no estilo de vida dos países ricos e mais responsabilidade por parte dos países pobres – afirmam os vencedores do Nobel.

Para os cientistas, uma responsabilidade comum a todos é acabar com o desmatamento e acelerar o reflorestamento, oferecendo incentivos às comunidades para que preservem suas florestas. O memorando propõe um novo "pacto entre a sociedade e a comunidade científica", e sustenta que o acordo seguinte ao Protocolo de Kioto, em 2012, deve incluir sete elementos-chave para conseguir a estabilização do clima.

Dentre estes sete tópicos, o documento destaca a redução pela metade das emissões de dióxido de carbono (CO2) até o ano de 2050, o que permitiria uma queda de até 2°C na temperatura terrestre. Segundo o que foi antecipado por Pachauri do relatório que será apresentado pelo IPCC no mês que vem, em Valência (Espanha), os efeitos do aquecimento global estão sendo mais rápidos e perceptíveis do que o previsto. Para chegar à meta dos 2°C, os Nobel recomendaram a fixação de objetivos drásticos de redução a curto e médio prazo, além de um aumento do investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.

O memorando reconhece o direito das nações mais pobres ao desenvolvimento, embora estabeleça limites para a obtenção de energia por meio de combustíveis fósseis. Os quinze cientistas vencedores do Nobel cunharam o conceito de "justiça do carbono", resultante da equação entre emissões per capita e a capacidade de emissão de cada país.

No documento de Potsdam, o grupo qualifica como "imprescindível" a inclusão, em um acordo contra a mudança climática pós-Protocolo de Kioto, da criação de um mercado mundial de compra e venda de emissões transparente e com preços estáveis.

Os Nobel defenderam também a rápida implementação de projetos avançados de energia solar e de "captura e armazenamento" de CO2, projeto este que foi discutido com entusiasmo pelos cientistas durante os dois dias de reunião. Trata-se da criação de "cemitérios de CO2", semelhantes aos chamados "cemitérios de resíduos nucleares", o que permitiria a continuação do uso de combustíveis fósseis.

Os cientistas destacaram também a necessidade da criação de uma aliança público-privada para tecer uma rede mundial de serviços e tecnologias de alerta e de adaptação à mudança climática, especialmente nos países em desenvolvimento, os mais afetados. Para iniciar "esta grande transformação", os Nobel concordaram que todos os esforços têm que ser realizados de forma completa e integrada através da ONU.

– Temos que criar um novo sistema que, em vez de debilitar, reforce o sistema das Nações Unidas e integre as discussões sobre mudança climática, ecossistemas, comércio e desenvolvimento e que, além disso, tenha credibilidade na hora de promover estruturas democráticas – concluíram.

AGÊNCIA EFE

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