| 10/10/2007 16h49min
O cientista mexicano Mario Molina, Prêmio Nobel de Química em 1995 por suas pesquisas sobre a camada de ozônio, afirmou nesta quarta, dia 10, em entrevista à Agência Efe que a mudança climática abre portas para um desenvolvimento "limpo" e sustentável na América Latina.
– Copiar o modelo de desenvolvimento dos países ricos será um erro, porque equivale a sujar para depois limpar – advertiu Molina, um dos 15 premiados com o Nobel reunidos em Potsdam para falar sobre como mitigar as conseqüências da mudança climática.
Para isso, destacou, o primeiro passo é mudar a convicção de que a mudança climática é um problema criado pelos países ricos e que tem de ser resolvido por eles, porque "isso é verdade apenas em parte".
Molina lembrou que "Um fator determinante na mudança climática foi e é o desmatamento, e todos sabemos que em nossos países isso ocorreu de forma predatória", e acrescentou que, embora esses hábitos estejam mudando, a poda em massa e ilegal de árvores persiste em áreas nas quais não "chega" o controle dos Governos.
– A mudança climática afeta todo o planeta e todos os países do planeta têm de contribuir para mitigar seus efeitos por meio de um acordo internacional que funcione, porque a verdade é que de todos os acordos internacionais sobre meio ambiente o único que funcionou foi o de Montreal – declarou.
No chamado Protocolo de Montreal, a comunidade internacional entrou em acordo quanto à proibição dos clorofluorocarbonos (CFC), gases que por excesso de acumulação na atmosfera danificaram a camada de ozônio.
Molina reconheceu que mudar a percepção dos países em desenvolvimento com relação à mudança climática é uma tarefa árdua, porque embora países como Brasil e México já comecem a perceber a real dimensão do problema, o tratam como um assunto a ser resolvido em longo prazo.
– Temos de aprender com os erros e apostar em um modelo de desenvolvimento que no início pode custar em termos econômicos um pouquinho mais, mas que com o tempo ficará mais barato – disse.
O cientista mexicano detalhou que atualmente se dispõe de tecnologias que podem ser mais rentáveis em médio e longo prazos que o uso indiscriminado de combustíveis fósseis. Citou como exemplo a obtenção de energia por fonte eólica e solar e os biocombustíveis.
Molina explicou que essa aposta por recursos naturais poderia ser acompanhada pela implantação de tecnologias para o tratamento de resíduos poluentes, "que sempre existirão, embora não os desejemos".
O cientista mencionou o setor de transportes, reivindicando a introdução de motores limpos e híbridos e o fim da prática da exportação a países pobres de automóveis que no mundo desenvolvido não podem circular por excesso de emissões.
– É preciso repensar a mobilidade, sobretudo nas cidades, com o desenho de um transporte público eficaz que acabe com os engarrafamentos e a poluição do ar – declarou.
Molina destacou nesse sentido a crescente conscientização do Governo e da população do México com relação ao meio ambiente e sua esperança de que o país se una a um acordo internacional contra a mudança climática.
– México, Brasil, Índia e China, entre outras economias emergentes, pedem uma responsabilidade diferenciada e é lógico que devem defender seu direito ao crescimento, mas isso não os exime de culpa. Temos de deixar as portas abertas para o desenvolvimento e não limitar em termos absolutos as emissões desses países, mas com o compromisso de uma queda baseada no uso de tecnologias limpas e eficientes – opinou Molina, que acrescentou que esse tipo de tecnologia já existe.
AGÊNCIA EFE