| 20/06/2007 23h53min
O Grêmio enfrentou três adversários nesta noite. O Boca Juniors, Riquelme e o tempo. O time argentino, parava o jogo a todo instante. O jogador, no único lance em que dominou a bola, mandou um foguete no ângulo de Saja, aos 24 do segundo tempo – o segundo gol do Boca, digo, de Riquelme, saiu aos 35. O terceiro inimigo, o tempo, não parou de correr.
O tricolor não soube como vencer os três. Num Olímpico lotado, o time acabou perdendo o tricampeonato da Libertadores da América para o Boca Juniors pelo placar de 2 a 0. Palermo, aos 37, ainda desperdiçou um pênalti.
O Estádio Olímpico tremia, rugia com os gritos que ecoavam das arquibancadas de Grêmiooooo, Grêmiooooo. Mas nada foi capaz de abalar a serenidade do olhar, da cadência do toque de bola do Boca Juniors. O time argentino conquistou na noite desta quarta, dia 20, o sexto título da Copa Libertadores da América. A cada falta, escanteio e tiro de meta, Palermo, Palacio, Riquelme, Ledesma, Caranta e companhia faziam a areia da ampulheta tricolor escorrer mais rapidamente.
Com o apito do árbitro Oscar Ruiz, conivente com a cera da equipe argentina, o Grêmio partiu para cima. Ao mesmo tempo, o Boca mostrou ao que vinha: segurar o jogo, fazer o tempo correr. Riquelme, como sempre, conduzia a equipe tocando a bola com uma facilidade ímpar. Para lhe tirarem a pelota, só com faltas. E como o Grêmio abusou das faltas. Não deixou ninguém escapar.
A torcida não parava por um instante. Com isso, o time dentro de campo se inflava. Aos 2 minutos já tinha um escanteio. Parecia que a pressão surtiria efeito. Mas, ansioso, os jogadores de Mano Menezes pecaram: confundiram velocidade com pressa. Passaram, então, a errar passes. Abriu-se um espaço entre a defesa e o meio-campo.
Espertos, os argentinos passaram a ocupar este espaço. E dá-lhe toque de bola. E, para voltar a ficar com a bola, o Grêmio passou a cometer faltas. Abusou delas até. O Boca agradecia. Cada interrupção deixava Palermo, capitão do Boca, mais perto de levantar a taça. O único no meio-campo gremista que interceptava e interrompia o futebol de troca de passes do Boca era Gavilán, de ótima atuação.
O ataque tricolor
A equipe começou mordendo. Atacando dentro do campo do Boca. Carlos Eduardo, liso, escorregadio, aprontava diabruras pela esquerda com a parceria de Lucio. Tentaram vários cruzamentos, mas a zaga boquense não deu chances. Tirou tudo. Tuta, aos nove, subiu para o cabeceio, mas Caranta, no centro do gol, segurou. No minuto seguinte, Tcheco foi brigador e, na vontade, ganhou uma dividida e sofreu uma falta na entrada da área. Na cobrança ensaiada, Lúcio mandou uma bomba rasteira. Caranta, com total sangue-frio, catou.
Numa jogada, desta vez de velocidade, Carlos Eduardo escapou pela esquerda, cortou o zagueiro e cruzou. Ibarra, bem colocado, afastou. Aos 19, outra vez pela esquerda, Diego Souza jogou para a área. Tuta tentou pegar de bicicleta e, no rebote, Tcheco, dentro da pequena área, bateu em cima de Caranta, mas sem força. A ansiedade passou a somar-se aos adversários do tricolor.
Lucas, meio afoito, aos 23 minutos, perdeu a oportunidade de chutar de frente para o gol, preferiu o passe. Parecia fora de ritmo. A melhor chance do Grêmio, por ironia, saiu de um contra-ataque. Diego Souza recebeu passe de Lucas, invadiu a área e chutou cruzado no ângulo: a bola explodiu na trave. Em outros tempos, a sorte também ajudaria.
Ações do Boca
Os argentinos, aos seis minutos, chegaram tocando a bola. Palermo, de cabeça, tocou fraco nas mãos de Saja. Afora isso, o Boca catimbou muito. Aproveitou ao máximo cada segundo. Experiente, soube enervar time e torcida gremista ao ficar com a bola no pé. Aos 27, Palacio chutou da entrada da área e Saja salvou. A melhor chance dos boquenses veio aos 37 minutos. Numa triangulação pela direita, Palermo bateu rasteiro. A bola explodiu na placa de proteção atrás do gol do goleiro gremista.
Segundo tempo
Na segunda etapa, o Grêmio entrou com Amoroso no lugar de Tcheco. Não adiantou nada. O time até arriscou mais chutes. Aos cinco, perdeu uma chance incrível. Amoroso, levantou na área e Schiavi cabeceou na trave. No rebote, Diego Souza chutou e o goleiro Caranta catou.
Depois disso, o Grêmio parou. Tocou a bola, fez levantamentos, mas faltou potência, posicionamento dos atacantes frente aos zagueiros argentinos. E houve descuido.
Aos 23 minutos, Riquelme, que já havia desequilibrado em Buenos Aires, recebeu livre, teve espaço para dominar e chutar no ângulo. Golaço.
A torcida gremista gritou na tentativa de ajudar o time a não se abater. Não adiantou. O time já estava sem forças, sem saber como chegar ao gol de Caranta. Então, aos 35, Riquelme deu o golpe de misericórdia no Grêmio e assegurou o sexto título da América ao Boca. Depois de um contra-ataque, Palacio chutou, Saja deu rebote e Riquelme mandou para o fundo das redes.
Depois disso, o Grêmio, atordoado, nada pôde fazer. O Boca fez o Grêmio dançar um tango, com um final mais do que melancólico para os gremistas.
RODRIGO CELENTE