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 | 20/04/2007 18h08min

Violência Futebol Clube - A mobilização da sociedade

Série da Rádio Gaúcha revela os bastidores das torcidas organizadas

Gre-Nal número 366, julho de 2006. Parte da torcida do Grêmio que estava no Estádio Beira-Rio queima oito banheiros químicos. A Brigada Militar tenta afastar gremistas e colorados com bombas de efeito moral. Bombeiros, ao tentar apagar o fogo, foram recebidos com pedras por alguns tricolores. Onze torcedores foram indiciados pelo tumulto. A reportagem localizou um dos jovens que ateou fogo nos banheiros. O jovem justificou o ato de vandalismo.

– Fizemos isso porque foram colocados banheiros químicos pra nós, pra não depredarmos os banheiros do Inter. E nós colocamos fogo. Fazer o quê? – relata o jovem, que pediu para não ser identificado.

Para tentar reverter a violência nos estádios, algumas ações começaram a ser tomadas.

– Se estuda e se trabalha junto com os clubes e com a Federação Gaúcha e que já estão no extremo do que se pode fazer em termos preventivos e sistêmicos dentro da segurança pública – destacou o promotor Renoir Cunha.

Para o sociólogo Rodrigo Azevedo, é preciso mapear os locais e os responsáveis pelos confrontos.

– Tem que identificar locais onde ocorrem agressões, inibir brigas com polícia. Necessário identificar líderes, separá-los, aplicar regras penais a eles.

O antropólogo Edison Gastaldo ressalta que o torcedor precisa ter noção do certo e do errado para não prejudicar o seu time.

– Precisa haver câmeras e punições. Apoiar o jogo inteiro é bonito, mas ele tem que ter noção do limite.

Apesar da Brigada Militar revelar que é difícil a revista de torcedores nos estádios, ações têm sido planejadas como destaca o Comandante do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar, Coronel Jones Calixtrato dos Santos.

– Nós temos identificados diversas pessoas com drogas e maconhas. Com relação aos sinalizadores, estamos conversando com as torcidas. Inclusive, existe um comprometimento que esse tipo de material não entre, principalmente os foguetes.

Para impedir a ação de Hooligans na Inglaterra, a partir dos anos 80, a polícia fichou os criminosos, proibiu a entrada deles nos estádios e uniu inteligência com novas tecnologias. Em dias de jogos, o torcedor punido assiste a partida de casa ou de uma delegacia.

Ação Pioneira
 
Em Porto Alegre, em uma ação pioneira no Brasil, um dos líderes da torcida do Grêmio, conhecido como o Alemão da Geral, terá de comparecer à Polícia Civil sempre que a dupla Gre-Nal estiver jogando na Capital. Ele aceitou a transação penal proposta pelo Ministério Público. Alemão é um dos três acusados de ter agredido o ex-presidente do Inter Fernando Carvalho em janeiro no Aeroporto Salgado Filho.

Em relação a São Leopoldo foi intensificada a fiscalização do metrô em dias de jogos. A polícia civil identificou cinco jovens que estão por trás de quase todas as ocorrências envolvendo torcidas. Eles foram expulsos das organizadas e os nomes foram repassados para os dirigentes.

O torcedor Bibiano Correia, 86 anos, tem saudades da época em que freqüentava os estádios.

– Eu levava a família. Os homens levavam até a namorada. A única preocupação que se tinha era se o time ia ganhar ou não. Não tinha preocupação nenhuma com a violência porque isso não existia – lembra.
 
Apreensão

A partir das matérias, a Brigada Militar mudou a tática de fiscalização e de investigação dentro e fora dos estádios de futebol como destacou o sub-comandante da BM, o coronel Paulo Roberto Mendes. Com isso, um dos líderes da torcida popular do Inter, foi preso na quinta, no final da tarde, quando tentava entrar no estádio. Jorge Roberto Martins, de 36 anos, conhecido como Hierro, não passou na revista da polícia, porque estava com 15 bombas caseiras e foguetes. O coronel Paulo Mendes, destaca que, com um rigor maior na fiscalização, conseguiu descobrir as bombas.

– Fizemos uma intensificação da revista dos torcedores. A veiculação das matérias, que expõem na gravidade deste assunto, culminou com uma busca muito forte sobre uma das torcidas do Inter, o que resultou em uma apreensão importante. Isso demonstrou a todos a gravidade do assunto.

Paulo Mendes garantiu que a Brigada Militar não irá tolerar quem for pego com armas nos estádios.

– Se forem, tenham a certeza que a polícia vai tomar uma medida para acabar com isso. Não é possível que onde estejam crianças e famílias estejam baderneiros – ressalta Mendes.

Hierro é suspeito de ter praticado crimes como homicídio, porte ilegal de arma, roubo a pedestre, lesões corporais e crime ambiental. Ele assinou um termo circunstanciado e foi liberado, já que não tinha nenhum mandado de prisão expedido pela justiça.

CID MARTINS, JOCIMAR FARINA/RÁDIO GAÚCHA E FÁBIO ALMEIDA/RÁDIO FARROUPILHA

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