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 | 26/01/2006 16h20min

Galvão diz que individualismo atrapalhou em 1990

Ex-zagueiro e líbero no Mundial da Itália concedeu entrevista ao clicRBS

O ex-zagueiro Mauro Galvão, que defendeu a Seleção Brasileira na Copa de 1990, além de ter passado pela dupla Gre-Nal, apontou na tarde desta quinta alguns fatores que contribuíram para a precoce desclassificação da equipe no Mundial da Itália. O ex-jogador, atual técnico de futebol, admitiu em uma entrevista online concedida ao clicRBS que havia muito egoísmo dentro do grupo, assim como problemas sobre os valores de patrocínios.

– Existia uma preocupação individual, ou seja, cada um estava pensando no seu lado – considerou. – Houve ainda o problema com a questão do patrocínio que durou até o Mundial e isso realmente atrapalhou bastante. Não era problema com a premiação, e sim uma questão relativa à divisão do patrocínio – completou.

Galvão lembrou que a relação dos jogadores com o técnico Sebastião Lazaroni era boa, porém o clima no vestiário não era de espírito coletivo:

– No momento em que chegamos na Itália todos queriam jogar, e só podem entrar 11 – disse.

Para o líbero brasileiro em 1990, faltou também todos pensarem no mesmo objetivo, que era faturar a Copa do Mundo, além de o grupo não ter um jogador que fosse capaz de desequilibrar uma partida.

– Não tínhamos um jogador que pudesse fazer a diferença, era mais uma geração equilibrada. Ou seja, dependia muito do conjunto – aponta. – Talvez o fato de não estarmos totalmente comprometidos com o objetivo, tenha pesado no momento de dificuldades. Por isso, quando não saía o gol, acabávamos perdendo a tranqüilidade – avalia.

Sobre a derrota para a Argentina, com um gol de Caniggia na jogada que nasceu nos pés de Maradona, nas oitavas-de-final, Galvão considera que foi o melhor jogo do Brasil no Mundial. Porém, admite que o time não foi capaz de fazer os gols, apesar das oportunidades desperdiçadas.

– Infelizmente a única oportunidade que a Argentina teve foi naquele lance, realmente o Maradona escapou do Alemão e depois do Dunga. Acho que talvez se tivéssemos feito uma marcação fixa teria sido melhor, mas agora é tarde – lamentou.

Ainda sobre o confronto no Estádio Delle Alpi, em Turim, o ex-jogador comentou o episódio da água supostamente com relaxante que os argentinos ofereceram ao lateral Branco na ocasião. Ele disse que estranhou o relato do companheiro, que estava se sentindo tonto no intervalo.

– No calor do jogo, ninguém poderia imaginar que fosse por isso, até porque eu não sabia que ele havia bebido água da Argentina.

Em um resumo geral da Copa do Mundo de 1990, Galvão traça um paralelo da seleção alemã da época, que para ele atuou com muita regularidade e acabou levantando a taça, com a equipe argentina, classificada como "operária", que acabou ficando em segundo lugar, e questiona como quase foi possível que Maradona e seus companheiros chegasse ao título do torneio.

Já num comparativo com os defensores da atual Seleção do técnico Carlos Alberto Parreira, Mauro Galvão apontou Juan e Edmílson como os zagueiros que mais se assemelham ao seu estilo.

Confira a integra da entrevista:

clicRBS: Para começar, queria perguntar o seguinte: quando a Seleção chegou na Itália em 90 era apontada como uma das favoritas?
Mauro Galvão:
Estávamos entre os favoritos, mas não como é hoje o Brasil.

Pergunta de Internatuta: Quais os motivos da desclassificação da Seleção na Copa de 1990?
Mauro Galvão:
Nossa melhor partida foi contra Argentina. Mas não fomos capazes de fazer os gols. Por isso acabamos perdendo, mas acho que isso aconteceu também por não estarmos totalmente focados em um objetivo comum.

Pergunta de Internauta: Como era o relacionamento dos jogadores com o técnico Lazaroni?
Mauro Galvão:
Era bom, mas no momento em que chegamos na Itália todos queriam jogar e só podem entrar 11.

Pergunta de Internauta: Existia algum problema relaciomento entre os atletas?
Mauro Galvão:
Que eu soubesse não. Apenas existia uma preocupação individual, ou seja, cada um estava pensando no seu lado.

Pergunta de Internauta: A seleção sentia-se obrigada a ganhar a Copa após as derrotas em 1982 e 1986?
Mauro Galvão:
Fazia 20 anos que a Seleção não ganhava, por isso era muito importante conquistar esse Mundial. Infelizmente não nos preparamos adeqüadamente.

clicRBS: Na fase preparatória, o time chegou a perder um jogo-treino para um combinado da Úmbria. Antes disso, empatou em casa com a Alemanha Oriental em amistoso. Esses resultados chegaram a ser levados em conta na preparação para os jogos?
Mauro Galvão:
Talvez fosse já um aviso. As coisas não andavam muito bem. Existia muita dúvida sobre a equipe e o esquema, e nisso a imprensa acabou se pegando.

Pergunta de Internauta: Quem você considera o grande craque da Copa de 1990?
Mauro Galvão:
Acho que foi o Matthäus, da Alemanha.

clicRBS: Mauro, no jogo contra a Argentina, pelas oitavas-de-final, foi admitido agora o episódio da água batizada que os "hermanos" ofereceram ao Branco. Você viu ou sentiu algo suspeito naquela partida?
Mauro Galvão:
A única coisa que chamou atenção foi no intervalo, quando o Branco reclamou que estava meio tonto. Mas no calor do jogo, ninguém poderia imaginar que fosse por isso, até porque eu não sabia que ele havia bebido água da Argentina.

clicRBS: No lance do gol da Argentina, muitos criticaram o Alemão por não ter feito falta no Maradona. Alegavam que ele teria "poupado" o craque argentino por jogar com ele no Nápoli, na Itália. Esse tipo de declaração chegou a vocês após a partida? Como o Alemão e o grupo encaravam isso?
Mauro Galvão:
Infelizmente na única oportunidade que a Argentina teve foi naquele lance, realmente o Maradona escapou do Alemão e depois do Dunga. Acho que talvez se tivéssemos feito uma marcação fixa teria sido melhor, mas agora é tarde.

Pergunta de Internauta: Galvão, vc acha que a desclassificação da Copa de 90 prejudicou a implantação do esquema com três zagueiros no futebol brasileiro?
Mauro Galvão:
Não, porque várias equipes conquistaram títulos assim, a própria Alemanha no Mundial de 90, depois o Atlético-PR, o Brasileiro, e o Grêmio em 2001, o Estadual e a Copa do Brasil.

Pergunta de Internauta: O Romário, que estava lesionado, fez muita falta?
Mauro Galvão:
Fez, porque é um grande jogador, mas não estava 100% e alguns jogadores não chegaram nas melhores condições nesse Mundial.

clicRBS: Apenas para encerrar o assunto sobre a partida com a Argentina. O Brasil jogou bem aquela partida, mas desperdiçou muitos gols. Durante o jogo, vocês pensavam que alguma coisa poderia dar errado mesmo com todo o domínio brasileiro? O time estava ansioso?
Mauro Galvão:
Talvez o fato de não estarmos totalmente comprometidos com o objetivo, tenha pesado no momento de dificuldades. Por isso quando não saía o gol acabávamos perdendo a tranquilidade.

Pergunta de Internauta: Na Seleção atual temos o Ronaldinho Gaúcho que é um jogador que faz a diferença em todos os jogos. Na Seleção de 90, qual era o jogador que era tido como referencial?
Mauro Galvão:
Não tínhamos um jogador que pudesse fazer a diferença, era mais uma geração equilibrada, ou seja, dependia muito do conjunto.

clicRBS: Outro dos boatos que surgiram para justificar o fracasso no Mundial foi uma suposta briga contra os patrocinadores ou por um aumento na premiação. O que houve de concreto nisso?
Mauro Galvão:
Realmente houve problema com a questão do patrocínio que durou até o Mundial e isso realmente atrapalhou bastante. Não era problema com a premiação e sim uma questão relativa a divisão do patrocínio.

Pergunta de Internauta: Sobre o Dunga, ele foi sacrificado naquela Copa.  O que você acha que foi a principal causa da queda do Brasil precocemente?
Mauro Galvão:
Mais uma injustiça com o Dunga. Infelizmente existe uma mania de procurar sempre um culpado, mas todos nós perdemos. Realmente nós poderíamos ter ido mais à frente no Mundial, acho que foram fatores externos que acabaram desestabilizando a Seleção.

Pergunta de Internauta: Mauro, muitos não acompanharam a carreira do Maradona. Ele foi o craque da copa de 1986. Tinha alguma preocupação especial com Diego para aquela partida?
Mauro Galvão:
Nós ganhamos a Copa América em 1989, ou seja, um ano antes do Mundial. E, no jogo contra a Argentina a marcação foi feita desta maneira, ganhamos o jogo por 2 a 0. Acho que isso levou a Seleção a acreditar que poderia repetir a mesma forma de marcar. Ou seja, no setor.

clicRBS: Você chegou a acompanhar o restante do Mundial após a eliminação do Brasil?
Mauro Galvão:
Acompanhei até o final para ter certeza de que poderíamos ter tido uma participação muito melhor.

Pergunta de Internauta: Vi na TV uma entrevista com o Careca, onde ele atribuiu o fraco desempenho do time do Brasil na Copa ao fato do esquema tático do time ter mudado algumas vezes durante a competição. Você acredita que tenha sido isso?
Mauro Galvão:
Não vi esta entrevista mas acho que não houve problema algum com o esquema. O esquema de jogo foi o mesmo que conquistou a Copa América e classificou o Brasil para o Mundial. E o campeão do Mundial jogou com esse esquema.

clicRBS: Mauro, voltando um pouco à questão do patrocínio. A briga sobre isso era dos jogadores com os dirigentes ou se deu por uma disparidade de valores dentro do grupo?
Mauro Galvão:
O problema era na divisão dos valores, pois em uma delegação existem muitas pessoas. Difícil falar depois do acontecido. Porque não seria ético, acho que independente de nomes, como falei anteriormente, o problema era a falta de um ambiente propício.

Pergunta de Internauta: Como você vê a diferença entre a Seleção de 1990 e a atual, o que mudou em relação à tecnologia para otimizar os resultados, como o uso programas de computadores? Você como técnico utilzou alguma ferramenta?
Mauro Galvão:
Importante. Quanto mais informações tivermos melhor, mas já naquele momento tinhamos ótimas condições para trabalhar, certamente não foi isso que nos atrapalhou. Como técnico, procuro as informações relativas aos testes físicos e procurando ter o auxílio de um fisiologista.

clicRBS: Tecnicamente, a Copa de 1990 sempre foi considerada muita fraca. Você vê alguma contribuição daquele Mundial para o futebol atual?
Mauro Galvão:
O destaque que eu poderia fazer em relação a Alemanha que conquistou o título com muita regularidade e em relação a Argentina que com uma seleção modesta e um craque acabou ficando em segundo lugar. Como é possível você com uma equipe operária chegar quase ao título.

Pergunta de Internauta: Qual jogador hoje, na Seleção Brasileira, mais se aproxima do futebol de Mauro Galvão?
Mauro Galvão:
Cada um tem o seu estilo mas acho que Juan e Edmilson lembram muito o meu estilo.

JULIANO SCHÜLER

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